Page 349 - Revista da Armada
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de 4CtriCOtll.  corte uns 10 a  15cm, adelgace uma das   pendicular às  primeiras,  isto  é,  leste·oeste,  ou seja,
         pontas, sem rebarha, dobre a  outra por forma  a  dar-  como se fossem paralelos, ficando as voltas por cima
         ·lhe boa pega, e tem o que a bordo se chama uma es-  das primeiras. Repare, na figura 2, a direcção em que
         picha (neste seu caso, em tamanho reduzido).        o fio volta logo após o segundo alfinete, e as seis vai·
            Em vez da espicha, talvez até lhe dê mais jeito uma   tas por cima das seis primeiras. Continue a  segurar
         pinça, com pontas de uns 14 cm, arredondadas e finas,   as voltas de fio com os dedos porque esta será talvez
         mas  não em bico aguçado,  picante. A pinça poderá   a fase que mais põe à  prova a  sua capacidade presti·
         facilitar-lhe puxar pela ponta do fio,  em certas fases   digitadora.  O  resto  será  feito  com  mais  à-vontade.
         do trabalho.                                           Ao chegar à  posição final  da segunda passagem
            Vai  precisar ainda de  uma  pequena bisnaga de   de seis voltas, como está representado na figura 2, vai
         cola-tudo, de pTeferência incolor. mas não escolha des-  agora com a ponta de trabalho, continuar a wdir a pi.
         sas modernas que podem até colar·lhe os dedos. A cola   nha passando esta ponta alternadamente por baixo e
  •      vai poupar·lhe o trabalho, neste caso inglório, de (al·   por cima das duas séries anteriores de voltas, e  per-
         cassar as pontas do fio,  como se Jaz com os cabos a   pendicularmente a elas. É óbvio que esta terceira e \11·
         bordo, para que não desfiem. Uma gota na ponta cor·   tima passagem tem de ser por baixo dos seis fios da
         tada, enrolando ligeiramente no sentido da cocha, e   primeira série, e por cima dos seis fios da segunda sé·
         alguns minutos depois a ponta n40 mais desfia. A pon-  rie,  e  assim  por diante  até completar  também seis
         ta de trabalho. ou seja. aquela que vai ter de passar   voltas.  Aqui é  que se toma indispensável o  uso  da
         muitas vezes por entre voltas do fio,  pode ser previa·   "espichaI!: para levantar, ou abrir passagem por baixo
         mente esgaçada com um canivete na extensão de lcm,   dos fios da primeira série de seis voltas, como se mos-
         e aplicar·lhe então uma ou duas gotas de cola; a  pon·   tra na figura 3. A  pinça terá eventualmente a  vanta·
         ta assim afilada e endurecida facilitar·lhe-á o trabalho.   gem de permitir ttpUX8.l'» a ponta de trabalho do fio que
             E é quase tudo. Terá de ter, naturalmente, a ferra-  mostre dificuldade em romper, só por si, a  passagem
         gem ou argola portadora das chaves, que poderá apro-  de um lado ao outro.
         veitar de outro porta-chaves já em desuso, ou adquirir   Depois de feita a  primeira passagem (ou talvez a
         no mercado.                                         segunda) desta terceira série de voltas, já pode tirar
             Agora, vamos à arte de marinheiro. Como se disse   os aHinetes, pois a  urdidwa da pinha está consolida-
         atrás, este nosso porta-chaves constará de uma pinha   da, e ultrapassada a fase crítica para a habilidade dos
         de retenida, de uma gacheta e de duas pinhas de anel   seus dedos. Aliás, terminada esta terceira série de seis
         para remates. Comecemos pela pinha de retenida, que   voltas, a pinha está urdida, faltando-lhe agora apenas
         constitui o  berloque principal, isto é,  o elemento de·   permeá·la e  socá-la bem.
         corativo oposto à  argola.                             É a  ocasião indicada  para olhar com  atenção as
             A  pinha  de  retenida  constrói·se  à  volta  de  um   voltas feitas, verificar que estão bem distribu1das, não
         núcleo. A bordo utiliza-se uma boa mão-cheia de cabo   apertadas mais num lado que noutro, que os fios das
         velho, desfiado, mas para o  nosso caso, basta um pe·   voltas  não encavalitem, enfim,  que a  urdidura está
         dacito de trapo que se aperta muito bem com linha   equilibrada. Para socar o conjunto, começa pelo lado
         em todas as direcções, de forma a obter uma bolita do   da ponta inicial, por exemplo, puxa o  fio  a  apertar a
         tamanho de um berlinde,  Ouando pedir à  mulher a   primeira volta,  forma  uma  pequena alça  que desfaz
         linha de costwa, peça-lhe também dois alfinetes, ou   puxando o fio mais adiante, forma uma segunda alça,
         compre-os  numa  papelaria,  desses que têm cabeça   um pouco maior, que volta a  desfazer puxando o fio
         esférica. Enfim, dois alfinetes vão ser·lhe quase indis·   à frente, e assim sucessivamente até chegar ao outro
         pensáveis  e  esquecemos  de  incluí-los  na  lista  do   extremo do fio.  Mais uma vez a  pinça poderá ser·lhe
         material necessário.                                útil em substituição da lCespichall. Mas isto já é  uma
             Corte  metro e  meio  de fio  (ou  dois  metros se o   questão de jeito, ou preferência pessoal, que a prática
         núcleo lhe saiu para o grandote), deixe uns centime-  aconselhará.  Espicha,  é  mais marinheiro ...
         tros de ponta e espete o fio com um alfinete dirigido   O núcleo deve ter ficado oculto sob a  urdidura ao
          para o centro do núcleo; depois comece a  dar voltas   cabo da terceira série de voltas. Mas pode acontecer
         com o fio  em tomo do núcleo, procurando que todas   que uma relação menos equilibrada entre a  grossura
         as voltas fiquem com igual pressAo de contacto, nAo   do  fio  escolhido e  o  diâmetro  do  núcleo,  deixe  este
         encavalitadas, sem as deixar muito folgadas, mas tam·   aparecer por entre as séries de voltas. Neste caso, em
         bém não apertadas. Os dedos têm de ir amparando es·   lugar de seis voltas por série, pode experimentar sete
          tas voltas  para que não se desfaçam.  Dê seis voltas   voltas. Claro que, quanto mais voltas, mais custará a
         completas, cada uma aconchegada à  anterior. Como   mantê·las no seu lugar nas primeiras duas séries. A
          será natwal, estas voltas dar-se-Ao num sentido que   prática, todavia, será mais uma vez, a grande mestra.
          podemos aqui definir como norte·sul e  as seis voltas   Se  fizer  uma segunda, ou  uma terceira pinha como
          ficarão completas quando o fio atingir o «paralelolJem   esta, verá que lhe custarão menos, e  lhe sairão mais
          que se espetou o primeiro alfinete. Nesta altwa pode   perfeitas.  E  mãos à  obra.
          já espetar o segundo alfinete a  segwar o fio na posi·
          ção exacta em que se concluiu a  sexta volta.  Veja a   No próJCimo nUmero descreveremos a maneira  de continuaI o
                                                             pona-cl!aves, falando da gacheta e das pinhas de anel. Afe./il. faça
          figura 1, que lhe esclarece a  situação.
                                                             pjnhas da retenida;  treine os dedos: n40 desistal
             Espetado o segundo alfinete, e cuidando sempre
          de segurar as voltas de fio com os dedos, curva-se ago-                             Sousa  Machado,
          ra o fio para iniciar outras seis voltas num sentido per·                                       CMO
                                                                                                           23
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