Page 5 - Revista da Armada
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m Nota de Abertura
No alvorecer dum Novo Ano
sabor da marcha clclica. inuorável do tempo, Regressando, .ntlo, ao passado, • eproveitando o
é sempre com alguma nostalgia, apreendo e facto de, no mês que há pouco findou, .. terem com-
A? moção que vivo o declinar do velho ano a o pletado 30 anos sobre um acontecimento que encheu
consequente advento do novo, numa época marcada ora de tristeza e luto a Naçlo e a Marinha portugu .... , é
por diaa sombrios, de chuva e vento a funigarem-no8 tal ev.nto que eu quero evocar aqui boj., como pr.ito
desabridamente a face. as mios enregeladas pelo frio d. hom.nag.m ao. intripidos marinh.iros que naI.
agra.te, ora por d.iaII claros e calmos, da céu azule sol d.ram a sua vida em defesa. da Pátria, ensombrando
ameno. afagar-nos 1lU8vemente o corpo entorpecido, d .... modo o Natal e o Ano Novo dos NUS familiar ..
enquanto, pelo ar, perpuaa aquela tipica e agradável queridos, n .... já. longinquo ano d. 1961. t qua, na
iragrAnda das ca~ a usar, truendo-no8 à lem- madrugada duu fatldlco dia 18 d. Dezembro do r.fe-
brança • popular. bonita cantiga. tal alusiva, a, nu rido ano, o Estado PortuguAa da índia ara brutalmente
I"WU, DU montru • no interior doa grandes armazé~. invadido palas tropU indianas à ordem de Nabru, numa
as ornamentações garriclu, .. üuminaç6M polic:romu. condan6ve1 violaçlo do direito intarnadoDal. num total
as miwicu alegres, oa umerados prM6pios. os enfei- dearespeito pela memória de NU pai espiritual, o fervo-
tados pinheiros. abeto •• 08 barbudo. pais-Natal Doa roso amante • arauto da paz Mabatma Gandh!. E foi
anunciam festivamente a tradicional quadra que entlio anim que morreram, pela bonra da PAtria, que outra
se atreveu&.. E é n..-a altura que ma acodem li. mem6- coisa do .ra pos.lval defend.r com os m.ios de que
ria, n.lo Mm alguma _udada, todos 01: muitos Natais ai. dispunham u Forças Armadas Portugu .... , cinco
e Anos Novo. até agora por mim vividos, d88de aquela., b.róicos marinheiro.: trla da pequena lancha .Vaga.,
b6 quantos anos meu Deus, em que, menino ainda, que, estoicam.nte, soube fazer frente. até .. afundar,
colocava, ingénuo. confiante, o sapatinho na mem!o', perante a ameaça do grande cruzador cOe1hb, ...
e ia, com outros meninos, também aI .. ingénuo. a consecutivas rajadu das metralhadoras de vários
puros, • todos cheloa de crença a devoção. beijar avii5.. inimJgo., naqu.le c.úrio grandio.o da.
embevecidamente o Menino Jesus, exposto piedosa- vetustu. altaneiras muralhas, erguldaa a prumo sobra
mente .. nOAU bocas sedentas de Graça pelas mio. omar, da impon.nte fortaleza de Dio; um do aviso
já. trémulu e .ob o dmp6t1co olhar beatfflco do v.lbo cAfou.o d. Albuquerque., que, no mar calmo de Goa,
prior da pequena igr.ja da aldeia, por ocuiio da .. m- .ob o comando do dntem1do e bravo capitAo-de-mar-
pr. concorrida mis .. do galo, .nquanto lá fora, no -e-guerra António da Cunha Araglo. a certa altura
terreiro .m frente, ardia crepitante a grande fogu.ira gravemente f.rido, rttaistlu, .té à última muniçAo,
del.nha ai. acendida todos os anos, cujo calor constituia mesmo depois d •• ncalhado, ao d.nso fogo da impla-
para al~ d ..... meninos, juntamente com uma d1Ull cáv.1 art:llharia du fragatas indianu, d. que duas
oOdea de IMo de mDho e um miaerivel naco de toudnbo, foram atingidu pala peças: do navio português, provo-
o único cou.olo matarial da noite da consoada, contru- cando cinco mortes. traze farldo. nu twpocti.u guar-
tante a o.tanaivamente ti.o farta, rica e variada para niç6n; e ainda outro, do Comando Naval de Goa,
outro., muito poucos, d ..... menino •. atingido, .m terra, por traiçoeiro proj6ctil inimJgo.
Mu, além desaa r.m.morarrão nosWgica e da natu- CUrvando-me respeitosam.nte perante a aua m.mória,
ral atitude refiuiva sobre o panado, a tranaiçAo do aqui d.ixo os seus nom .. , talvez ignorados de muitos
v.lbo panl o novo ano deaperta tamb6m em mim um • lamentavelmente asquecicloe por alguns •.. Foram eta.
misto de eKp8C:tatlva • esperança e d. penpectlvaçlo o segundo-tenente Jorge Manual Catallo d. Oliv.ira •
e meditaçio relatlvam.nte .0 futuro. Todavia, afigu- carmo, comandante da .Vegu, os marinheiros artilhei-
rando-a.me que 6 maia: dificil ser profeta que biatoria- ro. do pequeno navio, António F.rr.ira 8 Anibal dos
dor, pese embora MO ter a pretendo da me considerar Santos Fernand.s Jardim, o prim..iro-grumete rad.Jo-
pouuidor de tais atributos, vou deixar eventuail con- telegrafl.Ra do cAfou.o d. Albuqu.rque_, JosiI Manu.1
jectu.ru. sobre o que poderá vir a .. r o ano em que b.6 Roário da Piedad • • • o prim..iro-sarganto escrlturirlo
pouco .ntrámos, para os muitos an.allstaa poUticos, • do Comando Naval de Goa, António Ouart.e Santa lUta,
não SÓ, que por ai campeia.m e peroram a cada momen- o. quais, cumprindo fielmente, como bomens bonrado.
to, quantas vezes um acartarem, Umitando-me eu a • m.ilitar •• dignos, o Juramento f.ito d. d.fend.r a
formular os maia sinceros e ardentes votos de Bom Ano Pátria mesmo com o sacrificio da própria vida, ucr.
de 1992, que desejaria que foae de paz., felid d ...... eale- veram, com o derramam.nto do •• u sangue g.nero.o
gria, Dlo SÓ' para toda 88'ta noaa. Familia Naval, como .m Agua oceAnicas tanta. vezes sulcadas pelos navios
para todo. 08 que a.tamos embarcado. nNte frágil pla- da Armada Portugueaa • em terra tio arduam.nte
neta .m que habitamos", sabendo de antemio que iuo conquI.tada paIos nonos denodados antepauados,
infelizmente não lri suceder, enquanto a loucura, a mal- uma das mai.a gloriosu p6gtnas da noua história con-
dad., o egoiamo, a intolerl.ncia e o racismo, nos mai.a temporl.neal
variado ... ntldos, de alguns, continuarem a fomentar
guerra. inju.5tu, a violar direitos humanos inalienáveis
e a l.var à prática du mab abjectu injlUtiças aociala. CALMMN
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