Page 164 - Revista da Armada
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de Chaves ... quesela\'am a el-rei I, que) prontas a atacar a cidade que. com a
de pronto» estabeleceu o • mais espontânea ajuda dos da iroca. as repele
avantajoso» que era passarem os criaodo-se tal empatia que .nada lhes é
afretadores a ser eleitos em \'ez dos regateado. para . servir o Mestre ... e
_quatro homens bons da vila ... que trazer tudo o que ele mandar por seu
para França carregam_ como, desde serviço e defensão do Reino •.
1324, se fazia.
De fadO, depois de engrossada a frOla
Na sequência da .pestilência .. que com naus e tropas do Pono. foram ainda
em 1361 se abate sobre o país, a classe varejar a costa da Galiza donde regres-
dos pescadores foi, no norte, de tal saram para ·um torneio em véspera de S.
modo dizimada que a pesca dimi- Ioào. que era dia ... de grande iesta».
nuindo, originou subidas de preços e
açambarcamentos de peixe tais, que nas Na noite de 17 de Julho, um Domingo,
Cortes de Elvas, Gil Lourenço e Domin· com a frota já fundeada ao largo de
gos Pires, do Pano, obtiveram a ces· Cascais. João Ramalho _mercador do
sação do pagamento ao Almirante de Porto bem rico e mui atrevido no mar.
uma dobra de ouro por navio grande e deixa para trás as I 7 naus e outras tantas
de meia por navio pequeno. E logo ali. galés e, num pequeno batel a remos,
como se lamentava D. Pedro t, onde bem cosido a terra ilude a esquadra
havia .mais naves e navios que em todo G'lslelhana (4) e vai a Lisboa conferenciar
o meu senhorio •. com o Mestre.
Fazendo juz ao seu cognome, o o dia seguinte dá-se o recontro e
Justiceiro, dois anos depois, ao proibir nele perece Rui Pereira, portuense que
empréstimos lesivos dos pescadores, r,,~nr de Bien F"ire: VOlI/.wedEo F"lN bem Feiro', é o /enlil comandava a nossa esquadra, e nela
quase lodos pobres, permite-oos ter um ddoprMio pel" M1rinh.l e qut> pteSlde. n.J &c.of" N".·"I, distinguem-se particularmente os
j (Of7Jl<lçJo dos risTUros Oiicidis doi Armadol.
retrato da situação aflitiva que ainda se comandantes das naus Milheira (ca·
vivia. O seu cuidado é tal que perante os maus resultados da medi- pitâneal, Farinheira (5). Esrréla e Sangrenta.
da, acaba por os permitir de novo, desde que controlados por almo-
tacés da sua conllança. Tamanha ajuda. que largamente excedia as posses do Concelho,
flCou·se a dever aos ricos homens que avançaram do seu bolso o di·
De 1377 temos entretanto a noticia duma fábrica de pano de nheiro ou os géneros que permitiram, na emergência, uma vez. mais
treu (3) que laborava. em Vila do Conde e noutros locais da salvar Portugal da ameaça hegemónica que Castela tenazmente,
comarca do Pano, para as Galés Reais de D. Fernando e cuja duma ou doutra maneira, acabaria por impôr à inconformada
qualidade seria tal que da índia, em 15 13, Manso de Espaoha (6).
Albuquerque o solicitava «por deles haver mister». Esta indústria
permanece activa e temos nOlícia dela, em 1556, a laborar tam- Por isso logo em 26 de Abril do que seria o ainda mais decisivo
bém em Azurara, Barcelos e Maia onde, em 1624, se tecem ano de 1385, vem o Mestre de Avis ,10 Porto testemunhar a sua
lonas roya/es e pondavis. gratidão e para saldar as suas dfvidas dâ à cidade as sisas e rendas dos
que haviam tomado o partido de Castela.
00 excelente cânhamo cultivado no concelho de Moncorvo se
faziam, na costa entre o Douro e o Minho, OS cabos para 0$ navios da Confirmada a nossa independência em Aljubarrota vemos, dois
nossa marinha, prãtica que se manteve até ao século XVIII. anos mais tarde, D.)oào 1 de novo no Porto onde é surpreeodido pela
chegada, vinda da Galiza, de D. Filipa de Lencastre que da Porta do
Em 1380 o Formoso estende às Tercenas do Douro os privilégios Olival atê ao Paço Episcopal, onde se hospeda. atravessa a cidade
concedidos às de Lisboa. Compreendiam eles isenções fiscais a quem sobre um manto de verdura e flores.
construlsse ou comprasse navios de mais de 50 tonéis, nomeada-
mente certos dízimos que permitiram canalisar o investimento para a Obtidas as Papais dispensas do seu estado religioso, realizam·
construção naval. -se, a 2 de Fevereiro de 1387, os esponsais com a notável ingle-
sa a quem devemos a ínclita Geração e o estreitar dos laços do
iVklS D. Fernando vai mais longe e OI'gilniza uma Bolsa Marítima, Porto e de Portugal àquela nação que, enquanto fomos potência
que se admite vir já do reinado de D. Dinis, «a fim de prevenir aci- marítima, vimos. pelo mar, reforçarem-se sempre que por terra
dentes. e na base de «2 coroas por cento_ mas a crise de 1383·5 fomos ameaçados.
deixou·a de tal modo desregulada que, em 1397, houve necessidade
de se criar a de Lisboa, rnantendo-se a do Porto que, na primeira A NOVA DINASTIA E A NOVA POúnCA MARÍTIMA
década de quatrocentos, funcionava na Rua Nova.
Depois de um período de diiiculdades em que o peixe tem de vir
A COESÃO DE UMA NAÇÃO - EM TERRA E NO MAR de Setúbal a «um moia de pão por cada milheiro de sardinha., a
acalmia que a nova Dinastia trouxe pem1itiu que, em 1390, as tarace-
Antes. em 1384, a cidade do Porto, dando mostra do seu patrio- nas do Porto, junto à Ribeira, se desenvolvessem a tal ponto que no
tismo, envia uma «grande armada a descercar Lisboa, onde el-Rei século XVI têm de se transferir para os terrenos do adual Museu dos
jazi.:1 cercado d'el-Rei de Castela, seu adversário., que «com muitos Transportes, onde tinham lugar (estas populares e atê corridas de
dinheiros (31 .000 Libras Afonsisl e pagando-Jhes grandes soldos. touros.
constituiu a que foi a primeira grande expedição militar·naval em
que o país se envolveu. Eram, alias, aquelas administradas por um almoxarife que determi·
nava, indusivé, as entregas de farinha, destinadas à cozedura do bis-
Curioso sinal de coesão nacional é que as galês enviadas de Lisboa coito das naus, ieitas por moleiros protegidos por Carta Régia de
à cata de reiorços .. \'ão encontrar tropas galegas em S. Romão, Novembro de 1385.
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