Page 17 - Revista da Armada
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mento de 500 munições. Sem percebermos que foi o
Fizeram-no em apenas … empenhado desenvolvimento
seis minutos! Metade do dos nossos interesses nos
esperado… Oceanos - ontem a grande in-
Se o relativamente peque- cógnita do Presente - que di-
no número de mísseis e o ele- namicamente nos fez avan-
vadíssimo ritmo de fogo obri- çar, com as nossas tecnologi-
gam a uma rigorosíssima ges- as, olhando … para a frente!
tão de meios, não admira que Enfim. Já em terra, cumpri-
seja exigentíssima a prepara- do o Cerimonial, enquanto
ção de todos os seus precio- nos afastávamos deitámos
síssimos operadores, se consi- ainda um último olhar…
derarmos a sofisticação de to- Aquela Guarnição sabia
da a tecnologia embarcada Carregamento do sistema Vulcan-Phalanx. que tinha cumprido.
nos modernos navios de Mas se uma andorinha não
guerra. De facto, o adestra- obrigou a uma demorada au- que a operacionalidade assu- faz a Primavera, ocorreu-nos,
mento do pessoal que vai sência no mar, assim como, me na nossa Armada. Noutro é o mar que faz os Marinhei-
embarcar nestes compactos uma inesperada e alheia deci- campo, se a complexidade ros e o brio destes que fez,
«enlatados» da mais densa, são, determinou uma longín- dum banal navio é feita dum faz e sempre fará a Briosa Ar-
diversa e avançada tecnolo- qua concentração de meios persistente esforço de investi- mada.
gia de que o país dispõe, co- navais? Amanhã, como hoje gação científica e dum atura- Mesmo que apagadamente
meça meses antes de se rece- e hoje, como ontem. do desenvolvimento tec- tenhamos a infelicidade de
ber a almejada guia de mar- É, no entanto, o natural sen- nológico de um estado, nestas não estarmos a ser capazes
cha e leva no mínimo, em si- timento de solidariedade que fragatas estão presentes vários de criar e/ou desenvolver
muladores e a bordo, seis o Leão (32) suscita, haja uma estados e entre eles, significa- interesses no mar (33) de que
meses até poder ser testado a desejada Paz ou uma inevitá- tivamente está, na área da outros se apropriarão pois a
um nível que lhes permita vel Guerra, o que torna tão electrónica, Portugal. presa, mesmo que magra,
ombrear, após novos e mais diferente a cultura militar no Mas em quantos mais cam- quanto mais à mão, mais dis-
aturados treinos de mar, com mar. Reduzindo-nos a nada, pos não poderia a nossa In- traída e, sobretudo, mais frá-
as melhores Armadas do pode fazer de quem chegar dústria estar presente? gil se torna, naturalmente, a
Mundo. Só quando cada um primeiro ao balde, «Almiran- Como causa ou efeito de mais apetecível.
conhece o seu papel no te» por um instante, ou, ainda um empenhado desenvolvi- E nós, impotentes, para sal-
dinâmico «puzzle» que é um que por um breve momento, mento dos nossos interesses var os dedos entregaremos,
navio em operações, é que se o determinante elo duma das nos Oceanos - hoje a grande sem mais, os últimos anéis
pode esperar uma ajustada muitas cadeias em que o oportunidade do Futuro - que (34).
interpenetração de funções comando se divide. estaticamente estamos a cele-
que permita ultrapassar as fa- Porque aqui, sempre e ine- brar, com as tecnologias dos Dr. Rui Manuel Ortigão Neves
lhas humanas do mais com- quivocamente, «estamos outros, olhando … para trás! 1TEN REF
petente membro de cada todos no mesmo bote!».
uma das equipas em que se Talvez por ser este um sen- NOTAS:
subdivide a grande equipa timento comum a quem anda (26) «Identifier of Friend or Foe», sistema electrónico de senha e contra senha
que tem de ser a guarnição no mar, que tenha razão um para mútua identificação de unidades aliadas.
dum qualquer navio de guer- General do nosso Exército (27) International Standard Organization, Mach 1=340 m/s é a velocidade
ra e destes em particular. que notara, em encontros in- do som mas só ao nível do mar e na Atmosfera Padrão ISO.
(28) Uma muito recente modificação aumentou a cadência do tiro para este
Por isso também as comis- ternacionais, a facilidade de valor.
sões nesta classe de navios se contactos entre marinheiros (29) Em relação a um caso que não constituiu excepção temos que, no início
prolongam por três anos. de todas as patentes e nacio- da década de 1970, um 1º Ten. já com as condições de promoção poderia
E isso é também um teste nalidades, face aos militares ao nono ano após a saída da Escola Naval averbar cerca de cinco anos e meio
psicológico (29) que tem de se de terra, quaisquer que fos- de embarque dos quais, quatro no ultramar (sem férias), com 9200 horas
de navegação dos Açores a Timor e menos de 150 dias de licenças gozadas
ter em consideração, agora sem as suas nacionalidades. (apesar dos bónus que as estadias fora da Metrópole - leia-se Portugal europeu
que se perdeu a dimensão de Ainda a brisa da tarde so- - estabeleciam!) pois as férias ainda não eram sequer um direito.
Império com que estávamos, prava morna quando, com- (30) Como se não pode alijar a História, os nossos interesses,
há séculos, familiarizados (30). pletado o exercício, subimos independentemente dos que criarmos, permanecerão ainda por muito tempo
ligados, mesmo que indirectamente, às terras por onde andámos mas que
Porque a Missão pode ser o esplendoroso Tejo e diante não controlando agora, nos obrigam a um melhor apetrechamento no caso
a escolta de um Comboio de de nós, a par da paisagem de de imperativa intervenção. Em duas ópticas e conscientes das realidades,
Navios entre Portos que, Lisboa, outros pensamentos temos Timor em relação a nós, e a Guiné-Bissau em relação à …França,
mesmo que todos os navios desfilaram. em cujo sistema monetário aquela se integrou.
possam assegurar uma velo- O Almirante Comandante (31) Naturalmente à sua Velocidade Económica que só teoricamente poderá
ser mantida durante tão longa derrota.
cidade elevada, podem estar da Flotilha que embarcado, (32) O mar na gíria naval.
a muitos dias uns dos outros, atentamente seguira, « in lo- (33) Em 1895 Portugal conseguiu defender a sua posição em África graças
sendo sempre preciso ter co», o desempenho desta às inúmeras «ruínas históricas», como argumentavam os seus detractores,
ainda presente contratempos guarnição, poderá estar certo que podia exibir naquele continente, apesar de em 1885, a rigorosa meia
distância entre as costas atlântica e índica, terem, Capelo e Ivens, recebido
que possam atrasar a marcha de que a «Corte Real» fará uma mensagem, escrita em português, dum poderoso Soba africano que
ou que até imponham rotas boa figura quando fôr aferida os pretendia receber por se considerar súbdito do Rei de Portugal e que
alternativas tão longas como pelos padrões internacionais curiosamente se assinava, em homenagem à falecida soberana, «Muxiré
as 4.500 milhas náuticas de da Royal Navy. Maria Segunda». Terminados os colonialismos a guerra em África, afinal,
Autonomia (31) destes navios. A sua presença foi um estí- continua. Talvez porque aos muitos mais interesses que ficaram por saciar
se juntaram novíssimos interesses sem … rosto.
Quantas vezes, uma impre- mulo para a guarnição e é um (34) Ao longo do texto abusou-se intencionalmente das maiúsculas.
visível e muito nossa razão, testemunho da importância Agradece-se a compreensão dos leitores.
REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 99 15