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A Marinha no Douro
A Marinha no Douro
No passado dia 4 de Março, ras de Aveiro e de Caminha, até uma distân- pronto para se iniciarem as buscas, mas os
cia de sete milhas de costa. Durante o arco troncos de árvores transportados pelo rio
um autocarro transportando diurno, na sequência de solicitação de apoio representavam um elevado risco para a
60 pessoas caiu ao Rio Douro à Força Aérea por parte do Comando Naval, embarcação numa operação nocturna, o que
devido à queda de um pilar foram ainda empenhados diversos meios adiou o início dos trabalhos para o dia
aéreos entre 7 e 19 de Março, designada- seguinte.
de suporte, arrastando parte mente helicópteros Puma e Allouette III e A forte corrente que se fazia sentir, a
do tabuleiro da ponte que aeronaves de asa fixa C-212 e P3P efectuan- grande quantidade de matéria em suspensão,
do buscas entre a Figueira da Foz e o Cabo os detritos transportados, as zonas de mistura
liga Castelo de Paiva a Entre-
Peñas (Galiza). de águas e os remoinhos, tornaram practica-
-os-Rios. mente impossível a obtenção de registos com
O autocarro e os três ou qua- INTERVENÇÃO o sonar lateral. Não foi possível, com aquelas
tro carros que seguiam atrás DO INSTITUTO HIDROGRÁFICO condições ambientais, a obtenção de um re-
gisto com um mínimo de qualidade que per-
deste, desapareceram em Desde as primeiras horas da manhã do dia mitisse uma análise dos contactos de sonar,
poucos segundos. seguinte à queda da Ponte Hintze Ribeiro destacando-se um, obtido às 15:20 do dia 6,
que no Instituto Hidrográfico (IHPT) se ini- com cerca de 12 m, de forma indefinida, a 150
ciaram os preparativos por forma a se garan- metros da ponte.
violência do caudal do rio e as con- tir a colocação de uma equipa multidiscipli- Entretanto, nesse mesmo dia, seguia por
dições atmosféricas que se fizeram nar, e respectivo equipamento, no local da terra outra equipa com um magnetómetro,
Asentir por altura do acidente, dificul- tragédia no mais curto espaço de tempo. É um correntómetro acústico por efeito
taram as operações de resgate dos corpos. fácil imaginar as dificuldades que foram Doppler e um veículo submarino de contro-
Têm sido longos e penosos os dias lo remoto (ROV), este último na
de espera para os familiares das víti- esperança que a melhoria das
mas que aguardam com tristeza os condições permitisse a sua operação.
corpos dos seus entes queridos. Fotos do CTE Cambraia Duarte Foi equacionada a utilização do
Em virtude deste acidente, foram sistema de sondagem por multifeixe,
activados através do Serviço mas tornava-se inviável a colocação
Nacional de Protecção Civil diversos do multifeixe do IHPT, de mon-
serviços de apoio, bem como solicita- tagem fixa, na área de operação em
da a intervenção dos meios da tempo útil, pelo que se procedeu ao
Armada através dos respectivos aluguer de um sistema similar, mas
canais hierárquicos. que pudesse ser montado em qual-
quer embarcação. Deslocou-se de
A PRESENÇA DA MARINHA imediato para o local uma equipa do
IHPT especializada na operação
A coordenação das operações de deste tipo de sistema.
resgate esteve a cago do CMG Nos dias subsequentes realizaram-
Centeno da Costa, Comandante do -se cerca de cinquenta fiadas de sonar
Departamento Marítimo do Norte e lateral num troço de 2 km, onde nor-
do Comando da Zona Marítima do malmente seriam necessárias apenas
Norte, que activou, através da duas ou três, mas o rio teimava em
Capitania do Porto do Douro todas as não permitir a obtenção de um regis-
Capitanias da área da sua respon- to minimamente aceitável.
sabilidade, entre Aveiro e a foz do O Director Técnico do I.H., CFR Augusto Ezequiel e o Chefe do Ao fim da tarde do dia 8 chegou
Minho. Em colaboração com o Destacamento de Mergulhadores 1TEN Paulo Vicente. da Dinamarca o sistema de multi-
Instituto de Socorros a Náufragos, feixe, o qual foi montado em tempo
Polícia Marítima e Serviço Nacional de necessárias vencer para reunir elementos recorde e que se juntou às buscas logo no
Bombeiros foram desenvolvidas buscas na envolvidos em outras missões, viaturas e dia seguinte. A operação do sistema esteve
área costeira, quer por embarcações, quer cerca de duas toneladas de equipamento a cargo dos especialistas do IHPT, de um
por postos de vigilância em terra, de modo a diverso. dinamarquês e de um outro, escocês, da
localizarem destroços dos veículos e despo- Assim que foi dada a ordem por parte do Kongsberg-Simrad, com quem o IHPT tra-
jos ou corpos das vítimas do acidente. ALM CEMA, deslocou-se de imediato num balha habitualmente. Foi ainda utilizado
Para além dos meios em terra e na área do helicóptero da Força Aérea uma equipa de um sonar rotativo de alta frequência, seme-
acidente, foram empenhados meios navais e sonar lateral para Entre-os-Rios. Enquanto lhante ao usado no ROV do IHPT, para
aéreos de forma a cobrir, no mar, a zona de esta primeira equipa analisava as condições auxílio às buscas que se estavam a desen-
maior probabilidade de detecção de no cenário de operação e procedia à mon- volver.
cadáveres. Neste sentido, foram empe- tagem de equipamentos numa embarcação Realizou-se também um levantamento
nhados os N.R.P. “Augusto de Castilho” (em local, seguia por terra uma segunda equipa com o magnetómetro até 5km a jusante da
9 de Março), “João Coutinho” (de 9 a 15 de encarregue do posicionamento e da son- ponte para obtenção de um registo de refe-
Março), “Geba” (de 10 a 22 de Março) e dagem hidrográfica com sistema de feixe rência. Da análise dos dados concluiu-se que
“Schultz Xavier” (de 14 a 22 de Março), na simples. Cerca das 18 horas do mesmo dia, a anomalia calculada para o autocarro,
condução de buscas de corpos entre as bar- todo o equipamento estava operacional e função da massa de ferro e inversamente
REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2001 21