Page 128 - Revista da Armada
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instrução das diversas especialidades e que que os marinheiros chamavam o “cruzador Corpo de Marinheiros ter já sido criado
a sua estrutura era demasiado “pesada”, amarelo”) nos seus velhos tempos: “… um após os grandes combates navais das guer-
absorvendo demasiado pessoal, de modo a, conjunto isolado no Alfeite com acesso ras napoleónicas e das Lutas Liberais. No
por vezes, ter dificuldades em guarnecer os muito difícil: a norte, só para peões utilizan- período que se seguiria, Portugal empenhar-
navios. Acabou-se, porém, por chegar à do uma azinhaga íngreme; a sul por peões e -se-ia quase exclusivamente na defesa do
conclusão de que a solução das Brigadas viaturas por uma velha estrada de piso irre- seu império, sendo o conflito mundial de
também não era a mais adequada, pois os gular e em muito mau estado. Muito mal 1914-18 (uma das poucas ocasiões em que
seus comandos ficavam sobrecarregados de iluminado, era cercado por um muro de se registam combates navais, estando men-
tarefas burocráticas e não conseguiam dar a tijolo junto ao qual as sentinelas supersti- cionado na lápide o célebre combate entre
devida atenção à parte da instrução. Outro ciosas, à noite, sentiam calafrios quando o caça-minas “Augusto Castilho” e o
problema era o de evitar as diferenças de ouviam regougar as raposas, piar os mochos submarino alemão U-139) o único em que
critérios entre Brigadas na avaliação e clas- ou morcegos, no Verão, cruzavam os ares o País se veria externamente envolvido.
sificação do pessoal. Com todas as suas li- por perto delas…” (6) Ora, tendo a Marinha tido um papel funda-
mitações, a organização do corpo de Em Outubro de 1951 celebrou-se o mental na expansão nacional, é natural que
Marinheiros acabava por ser “a mais sim- primeiro centenário do Corpo, cerimónia fosse chamada a assumir as suas respon-
ples, mais económica em pessoal de que contou com as presenças do Ministro sabilidades em relação aos territórios que
aquartelamento, mais prática e mais da Marinha e do Governador Civil de ajudara a conquistar e cujas costas e águas
harmónica” . Setúbal. Nela se descerraram dois grupos de interiores tão activamente patrulhava,
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É de referir, a título de curiosidade que, lápides, que ainda hoje podem ser vistas : fornecendo, ainda, grande parte dos fun-
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na altura, os embarques eram efectuados as primeiras, no átrio do edifício de coman- cionários e das autoridades coloniais. Outra
por companhias ou meias-companhias (os do (substituindo, por estarem mais comple- razão para que tivesse sido solicitado á
destacamentos, tal como as nomeações, tas, as que anteriormente lá tinham sido Marinha o seu empenhamento terrestre foi o
promoções e regis- facto dos seus mi-
tos, estavam centra- litares terem, à parti-
lizados no Corpo), da, maior vocação
devidamente en- e capacidade de
quadradas por ofi- adaptação para o
ciais e sargentos do desempenho de ac-
Corpo, cujo número ções em climas tro-
era proporcional ao picais.
das praças desta- Mas as comemo-
cadas . Mas mes- rações mais não
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mo após o destaca- foram do que o
mento, as guarni- “canto de cisne” do
ções regressavam Corpo. Em 1961, a
regularmente às ins- conveniência de
talações do Corpo integrar todas as
(uma vez por mês), actividades relativas
para instrução de a pessoal numa
Infantaria e treino única direcção de
de desembarque, serviços, levou à
numa harmoniosa Criação da Direc-
articulação entre a ção do Serviço do
instrução e a vida Pessoal, sendo na
operacional. Quão mesma altura defini-
mais fácil devia ser, tivamente extinto o
então, a gestão do Corpo de Mari-
pessoal! Talvez esta nheiros da Armada.
solução não fosse a No mesmo ano
mais adequada para era criado, pela por-
satisfazer os padrões taria nº 18509 de 3
de adestramento Edifício do Comando - fachada poente: ao centro são visíveis as lápides onde estão inscritas as acções em de Junho do Minis-
que tomou parte o Corpo de Marinheiros.
exigidos num PTA tro da Marinha, o
ou num OST , mas haveria, sem dúvida, mandadas colocar pelo Comandante Álvaro Grupo nº 2 de Escolas da Armada, em con-
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logo à partida, um maior espírito de corpo Gil Fortée Rebelo, então Segundo Coman- formidade com o Decreto nº 43711/61 de
(ou, melhor dizendo, “espírito do Corpo”, dante do Corpo), com o nome dos sargentos 24 de Maio, que estabelecia a nova estrutu-
se os leitores perdoarem o trocadilho) entre e das praças do Corpo que tombaram em ra orgânica dos estabelecimentos de ensino
o pessoal embarcado, pois era proveniente combate (lembra-se que os oficiais dis- da Armada. À Escola de Limitação de
da mesma origem e tinha tido a mesma for- põem, na Escola Naval, do seu próprio Avarias, que desde 1959 se situava, já, na
mação de base e o mesmo enquadramento memorial); as segundas, na parada, com a sua actual localização, juntaram-se, naquele
militar. inscrição das acções em que tomaram parte ano, a Escola de Comunicações e a Escola
O Corpo de Marinheiros conheceu vários sargentos e praças do Corpo. É curioso de Artilharia Naval. A Escola de Armas
aquartelamentos ao longo da sua existência, mencionar que a maior parte das efemé- Submarinas e a Escola de Marinharia viriam
tendo estado instalado na fragata “D. rides mencionadas ocorreu em terra, quer a instalar-se em 1972, a Escola de
Fernando II e Glória” de 1851 a 1853, na em acções de pacificação nas colónias quer Tecnologia de Educação e Treino em 1986
nau “Vasco da Gama” de 1853 a 1857, no na defesa de Angola e de Moçambique con- e a Escola de Informações de Combate em
quartel de Alcântara, de 1857 a 1924 e no tra os Alemães e tribos sublevadas durante a 1993.
Alfeite de 1934 a 1961. Muitos ainda se Grande Guerra. O facto talvez não cause Embora, em boa verdade, se possa afir-
lembrarão deste último aquartelamento (a tanta estranheza se recordarmos o facto do mar que toda a Marinha é “herdeira” das
18 ABRIL 2001 • REVISTA DA ARMADA