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A história da presença da Marinha em Timor
          A história da presença da Marinha em Timor

                         - por ocasião da independência do território -



         INTRODUÇÃO

           Agora que Timor-Leste se tornou num
         país independente considero de interesse
         descrever, de um  modo sucinto, o que foi
         a presença da Marinha Portuguesa
         naquele território, nomeadamente após a
         II Guerra Mundial.
           O mais afastado e talvez por esse facto o
         espaço português mais esquecido do go-
         verno central, Timor só foi elevado à cate-
         goria de província dependente directa-
         mente de Lisboa em 1906. Antes esteve
         subordinado a Goa, então sede do Go-
         verno Geral da Ásia, a partir de 1844 inte-
         grado na província de Macau, Timor e
         Solor, com capital em Macau e em 1896
         considerado um distrito autónomo.  Canhoneira “Pátria”.
           Povo com características muito próprias
         (1) o timorense fez-se notar pela mentali-  oceânicos apenas foi inaugurado em Díli  Na Guerra dos reinos de Leste, que
         dade guerreira, daí as suas lutas internas e  em 10 de Junho de 1965.  ocorre entre 16 de Outubro e 28 de
         por vezes a contestação à soberania por-  Embora o presente trabalho trate essen-  Novembro de 1889, intervirá a “Tejo”.
         tuguesa. De referir que as forças militares  cialmente do período que decorre desde o  Em 1893 dá-se a revolta de Maubara, a
         de origem europeia estacionadas no ter-  fim da II Guerra Mundial, capitulação do  canhoneira “Diu” em Junho e Julho tem
         ritório sempre foram diminutas tendo por  Japão em Setembro de 1945, até à actuali-  uma participação decisiva contribuindo
         isso de se recorrer ao emprego de milícias  dade, far-se-à seguidamente uma referên-  com a respectiva força de desembarque (2).
         locais, as denominadas tropas de 2ª linha.  cia aos finais do século XIX e às primeiras  Em 1895 nova instabilidade, aconteci-
         Quando a situação se agravava era solicita-  quatro décadas do século XX.  mentos de Batugadé, em que são mortos
         da a presença de unidades navais, normal-                             militares europeus, acorre a “Bengo” que
         mente estacionadas em Macau, porto si- AS REVOLTAS                    estacionará em águas do território durante
         tuado numa área mais importante no  DOS FINS DO SÉCULO XIX            o último trimestre desse ano e irá pos-
         aspecto político e económico e onde os                                teriormente neutralizar a  revolta de
         navios tinham um eficaz apoio logístico,  Nos anos oitenta do século XIX eram as  Batugadé, em Julho e Agosto de 1896.
         principalmente desde fins do século XIX  canhoneiras habitualmente em serviço em  Com o final do século e a notável acção do
         em Hong-Kong. No que  respeita a Timor  Macau que, quando necessário, acorriam a  governador Celestino da Silva a situação
         até 1950, ano da independência da  Timor. A 3 de Março de 1887 acontece o  mantem-se calma e visitaram Timor, essen-
         Indonésia, os portos de apoio próximo  assassínio do governador, Capitão-tenente  cialmente para mostrar bandeira, as ca-
         foram Singapura ou Surabaia tendo sido  Alfredo de Lacerda Maia, relacionado com  nhoneiras “Liberal”  em Abril de 1900, a
         depois Port Darwin, na Austrália. Salienta-  esta ocorrência permanecerão em Timor por  “Diu” em Abril e Maio 1902 e os cruzadores
         -se que  nunca existiram no território timo-  breves períodos em 1887 a canhoneira “Rio  “Adamastor” de Julho a Setembro de 1908 e
         rense oficinas navais dignas desse nome e o  Tâmega”, em 1888 a “Tejo” e em princípios  em Setembro de 1910 o “Vasco da Gama”.
         primeiro cais acostável para navios  de 1889 e inícios de 1890 a “Rio Lima”.
                                                                               DA IMPLANTAÇÃO DA REPÚBLICA
                                                                               À INVASÃO JAPONESA

                                                                                 Após a implantação da República se-
                                                                               guiu-se um período de grande agitação
                                                                               política no Portugal europeu que teve
                                                                               obviamente repercussões na Marinha, cuja
                                                                               disponibilidade de navios para o serviço no
                                                                               Ultramar foi cada vez sendo mais limitada.
                                                                                 Em comissão no Extremo-Oriente destaca-
                                                                               va-se a presença, em Macau, da canhoneira
                                                                               “Pátria” (3), que conjuntamente com o
                                                                               cruzador “Adamastor” e a canhoneira
                                                                               “Chaimite” tinham sido construídos no
                                                                               Arsenal da Marinha em Lisboa, por subscri-
                                                                               ção dos residentes portugueses no Brasil e
                                                                               como resposta ao Ultimato inglês de 1890.
                                                                                 Foi a canhoneira “Pátria” que esteve
         Canhoneira “Liberal”.                                                 presente logo a seguir à  revolta de
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