Page 194 - Revista da Armada
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DO FIM DA OCUPAÇÃO
INDONÉSIA À INDEPENDÊNCIA
Só em Novembro de 1999, após 24 anos
de ocupação indonésia, a Marinha regres-
sa, com a chegada da fragata “Vasco da
Gama” (15), que integrou a componente
naval da INTERFET (Força Internacional
de Timor-Leste) e foi rendida em Março de
2000 pela “Comandante Hermenegildo
Capelo” (16) que terminou a sua comissão
em Junho do mesmo ano.
Estas unidades navais desempenharam
missões logísticas e humanitárias coope-
rando também na reconstrução de infra-
-estruturas básicas no território.
Entretanto a 20 de Janeiro de 2000 a
INTERFET transferiu oficialmente a
Lancha de fiscalização “Tibar”.
responsabilidade do território para a
UNTAET (Administração Transitória das
de Kupang, a capital do Timor indonésio, e deslocaram para a ilha de Ataúro e a bordo Nações Unidas para Timor-Leste). O ter-
constituiu o único meio que o governo da qual, mais tarde, escalei Kupang em ritório foi dividido, para efeitos de segu-
local dispunha para estar ligado por via missão logística e onde estabeleci contactos rança em 4 sectores, com o central sob
marítima, ao enclave de Oé-Cusse. Em com o governador indonésio. responsabilidade de Portugal, do qual
Outubro de 1975 foi abatida como navio da Em Outubro fundeou junto da ilha de uma parte, a correspondente ao distrito
Armada e em Novembro do mesmo ano Ataúro, então o único espaço timorense sob de Manufai, o mesmo onde em 1912
perdeu-se nas costas das Filipinas, quando soberania portuguesa, a corveta “Afonso tinha eclodido uma violenta revolta,
seguia a reboque com destino a Macau. de Cerqueira” (13). Uma unidade naval ficou atribuída à Marinha através dos
voltava a Timor após 5 anos de ausência. seus fuzileiros (17). Assim, desde
DO 25 DE ABRIL Mais tarde o governador afirmará: Fevereiro de 2000 até à presente data
À INVASÃO INDONÉSIA Em 6 de Outubro chega finalmente a Ataúro Companhias de Fuzileiros (150 homens)
a corveta Afonso Cerqueira, o que melhora con- têm efectuado comissões de 6 meses em
Entretanto a revolução de Abril de 1974 sideravelmente a situação, por aumentar a segu- Timor.
vai alterar profundamente a estabilidade rança e garantir as comunicações com Lisboa,
social timorense que desde o fim da II possibilitando também que se fizessem patru- A ACÇÃO DO PESSOAL
Guerra Mundial se tinha mantido sem lhamentos, que permitiriam uma melhor ava-
problemas de maior, apenas pequenas liação do que se estava a passar. Este foi o DOS SERVIÇOS DE MARINHA
escaramuças surgiam, por vezes, na fron- primeiro apoio militar vindo de Portugal, após E DO COMANDO DA DEFESA
teira com o Timor indonésio, motivadas por quase dois meses passados do início dos aconte- MARÍTIMA DE TIMOR
roubos de gado sendo prontamente resolvi- cimentos e cerca de um ano depois de ter sido
das com o emprego de tropas de 2ª linha e solicitado! Lamentável que houvesse sido assim, A presença da Marinha em Timor ao
as notícias de pseudo reacções da popu- pois se tivesse chegado mais cedo poderia ter evi- longo dos tempos não se concretizou ape-
lação à autoridade local não passavam, a tado muitas das situações vividas. (14) nas por intermédio das suas unidades
maioria das vezes, de simples boatos. A missão da corveta visava aspectos de navais e dos seus fuzileiros, também foi
Preocupado com a situação e na quali- segurança, comunicações e transporte notável a acção do pessoal pertencente aos
dade de Comandante da Defesa Marítima, ficando sob controlo operacional do gover- Serviços de Marinha e a partir de 1961 aos
cargo que em Setembro de 1973 tinha nador e comandante chefe para fins do Comando da Defesa Marítima.
assumido, em Outubro do ano seguinte humanitários, logísticos e de informações. Desde 1887 que um oficial da Armada
solicitei ao Estado-Maior da Armada a Em Novembro fundeia no Ataúro a “João desempenhou o cargo de Capitão dos
vinda urgente de uma unidade naval Roby” e foi aí que com a “Afonso Cer- Portos de Timor e por inerência Chefe dos
oceânica, já que a presença da mesma queira” presenciou, à distância, a invasão Serviços de Marinha, departamento que
poderia não só garantir a soberania nas indonésia de Díli em 7 de Dezembro, tendo era responsável por toda a actividade
águas timorenses, que à data era, como os dois navios embarcado, nessa data, os marítima do território. Destaca-se neste
atrás referido, muito limitada, como tam- militares europeus estacionados em Ataúro. âmbito a instrução, a formação e a gestão
bém constituiria um meio de dissuasão Entretanto a “Afonso Cerqueira” regres- das guarnições pertencentes ao trem naval
para quaisquer movimentos internos ou sa a Lisboa e em Janeiro de 1976 com a local (18). Também, desde 1965 ano da
externos contra a autoridade do governo chegada da “Oliveira e Carmo” esta uni-
local. Infelizmente o meu pedido só seria dade naval conjuntamente com a “João QUADRO 2: DO FIM DA OCUPAÇÃO
satisfeito tarde de mais! Roby” formam a FORNAVTIMOR patru- INDONÉSIA À INDEPENDÊNCIA
Em Agosto de 1975 inúmeros factores, lhando as águas de Timor até Março, mês
ainda hoje muito controversos mas que a em que a força naval é dissolvida. A “João Navios – Companhias de Fuzileiros/Anos 1999 2000 2001 2002
História certamente se encarregará de Roby” regressa à Europa e a “Oliveira e Vasco da Gama 19 NOV 15 FEV
esclarecer, levam ao descontrolo da si- Carmo” manter-se-à nos mares de Timor até 6 MAR
Comandante Hermenegildo Capelo 14 JUN
tuação por parte do governo local, facto Maio, largando seguidamente para Lisboa. 29 FEV
que motivou a sua saída de Díli, conjunta- A História repetiu-se, a Marinha tinha CF 22 22 AGO
mente com a totalidade do pessoal de como sempre acorrido em auxílio de CF 23 19 AGO 1 MAR
Marinha (12). Timor, embora tardiamente e demonstrado CF 21 21 OUT
26 FEV
Foi na lancha “Tibar” que o governador a enorme falta que fizera nos momentos
CF 22 16 OUT ➜
e os seus colaboradores mais próximos se decisivos.
12 JUNHO 2002 • REVISTA DA ARMADA