Page 59 - Revista da Armada
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tação pelo confronto com aquelas forças.                              Oliveira e Carmo, a cujo curso da Escola
         E bastou esse acto grandioso, assumido                                Naval também pertenço e de ter sido seu
         de forma solitária, para galvanizar as                                Amigo, confesso que tão heróico compor-
         guarnições dos seus navios e fazer com                                tamento não me surpreendeu, pois está
         que o seu comportamento, reconhecido e                                bem de acordo com a nobreza de carác-
         admirado publicamente, até pelos seus                                 ter do seu autor, sempre pronto a bater-se
         adversários de então, passasse a figurar                              e a sacrificar-se pelos seus ideais, obstina-
         no extenso e heróico acervo dos comba-                                do na defesa dos elevados valores éticos e
         tes navais da História de Portugal.                                   morais em que acreditava e que orien-
           Com o testemunho dos acontecimentos                                 tavam a sua vida.
         que vivi a bordo do “Afonso de Albu-                                    Por isso, a atitude que desassombrada e
         querque” posso afirmar que os mari-                                   corajosamente assumiu é coerente com a
         nheiros do “Afonso de Albuquerque” e da                               sua maneira de ser e mostra bem a sua
         “Vega”, na defesa dos territórios de Goa e                            fibra de militar e de português de eleição.
         Diu honraram a sua Pátria. Para todos                                 A sua alma nobre e generosa levara-o a
         esses marinheiros, o maior sentimento é                               abraçar entusiástica e conscientemente a
         de orgulho por terem participado nos                                  carreira militar naval, que segundo ele
         combates navais na Índia Portuguesa sob                               seria o meio mais genuíno de poder con-
         as ordens de verdadeiros Chefes.”                                     cretizar os seus belos ideais. Por tudo isto,
                                                                               que é muito, a sua perda, como de resto a
           Coube ao Comandante Seixas Serra a                                  dos que o acompanharam, é insubstituí-
         última intervenção dedicada ao tema “O                                vel. Resta-nos, porém, a esperança de que
         fim da presença portuguesa em Diu e a  Comandante Seixas Serra.       o seu exemplo possa continuar a iluminar
         heróica acção da lancha de fiscalização                               sucessivas gerações de militares e, parti-
         “Vega”. O orador, que tinha sido   ainda cometida a missão de colaborar na  cularmente, de todos aqueles que têm
         Comandante da lancha “Sírius”, igual à  defesa anti-aérea da Fortaleza (como já  abraçado a carreira naval ou que algum
         “Vega” numa anterior comissão, começou  vimos praticamente inexistente), local  dia vierem a fazer parte desta Armada
         por referir alguns episódios históricos da  onde se encontrava o Comando do agru-  gloriosa de Portugal que, nas expressivas
         presença portuguesa em Diu, após a  pamento militar de Diu e que fora desi-  palavras de um dos nossos mais ilustres
         chegada dos navegadores e militares por-  gnado para uma pretensa resistência final,  tribunos, o Presidente António José de
         tugueses à região, descrevendo com  após os postos exteriores deixarem de  Almeida, “não admite restrições ao seu
         minúcia o ambiente social, cultural e mi-  poder continuar a combater”.  patriotismo”.
         litar na época e as relações hindo-por-                                 Termino com uma breve citação dos
         tuguesas.                            O orador faz seguidamente uma com-  Lusíadas, que considero aplicar-se inteira-
           Da comunicação do Comandante     pleta descrição da última missão da  mente a homens da têmpera do Coman-
         Seixas Serra salienta-se, a dado passo, de  “Vega” e do heróico comportamento em  dante Oliveira e Carmo e dos que heroi-
         modo a caracterizar o ambiente militar  combate da sua guarnição, bem como das  camente o acompanharam, a bordo da
         local:                             distinções e condecorações concedidas  “Vega”, porque eles são afinal descen-
                                            ao seu pessoal.                    dentes autênticos de todos os outros ilus-
           “À “Vega” tinha sido transmitida, pelo  Por último, afirmou:        tres vultos que em terras do Oriente os
         Comando Naval de Goa, a missão que                                    antecederam e a pátria honraram, pelos
         lhe incumbia em caso de operações e que  “Não poderia concluir esta minha inter-  seus feitos sublimes:
         implicava o seu afundamento, uma vez  venção sem uma evocação particular-
         esgotadas as munições ou anulada a sua  mente dedicada ao Comandante da  “Nem deixarão meus versos esquecidos
         capacidade de actuar. Por outro lado, de  Lancha de Fiscalização “Vega”.  Aqueles que nos Reinos lá da Aurora
         acordo com instruções do Governador do  Para quem, como eu, teve o privilégio  Se fizeram por armas tão subidos,
         Distrito e Comandante Chefe, ao navio foi  de conhecer de perto o Comandante  Vossa bandeira sempre vencedora:
                                                                                 Um Pacheco fortíssimo e os temidos
                                                                                 Almeidas, por quem o Tejo chora,
                                                                                 Albuquerque terríbil, Castro forte,
                                                                                 E outros em quem poder não teve a
                                                                                 morte.”

                                                                                 O Presidente da Academia, pela voz do
                                                                               seu Secretário Geral, Comandante Cyrne
                                                                               de Castro, deu por concluída esta sessão,
                                                                               a qual veio, após 40 anos, demonstrar
                                                                               que a Marinha não esquece os seus
                                                                               heróis, e que os grandes acontecimentos
                                                                               dessa época, apesar de alguma discussão
                                                                               e controvérsia, mais uma vez impulsio-
                                                                               naram o nome de Portugal e dos que
                                                                               serviram a Pátria e honraram as gerações
                                                                               dos seus ancestrais, continuando a digni-
                                                                               ficar as brilhantes páginas da nossa
                                                                               História Naval.


       Aspecto da assistência.                                                         (Colaboração da Academia de Marinha)
                                                                                    REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2002  21
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