Page 57 - Revista da Armada
P. 57

Sessão Solene na Academia de Marinha
         Sessão Solene na Academia de Marinha





             m seguimento das cerimónias alusi-
             vas às Comemorações do 40º
         E Aniversário dos combates navais na
         Índia, realizou-se no auditório da
         Academia de Marinha, pelas 17h.00 do
         dia 19 de Dezembro, uma sessão solene
         evocativa desses eventos, presidida pelo
         Almirante Vieira Matias. Além do
         Almirante CEMA, encontravam-se na
         mesa da presidência, o CALM Rogério
         d’Oliveira, Presidente da Academia, o
         CALM Leiria Pinto, Presidente da
         Comissão Cultural da Marinha, D. Maria
         do Carmo Oliveira e Carmo, viúva do
         Comandante Oliveira e Carmo e o
         Comandante Luís Aragão, filho do
         Comodoro Cunha Aragão.
           O Presidente da Academia abriu a
         sessão com palavras de boas vindas a
         todos os presentes que ocupavam total-
         mente o auditório, salientando a dado
         passo na sua alocução:             Mesa da presidência na sessão solene.

           “... Para evocar os últimos combates  direito natural, que está acima de toda a  Aos combates navais da Índia, segui-
         navais que a Marinha Portuguesa travou  lógica do direito “juris tantum”:  ram-se por longos anos acções navais,
         na Índia, a Academia de Marinha convi-  “onde força não há, o direito se  também por vezes heróicas, também em
         dou as seguintes personalidades, a quem  perde”.                      defesa de outras identidades, nas águas
         endereço a expressão de profundo agra-  O que, no âmbito do direito interna-  agitadas de Moçambique, nas cavadas
         decimento:                         cional, significa que é preciso ter-se algu-  calemas de Angola e nos rios ardilosos da
           O Prof. Dr. Adriano Alves Moreira, que  ma força para se ter direito ao direito.  Guiné. O estado de guerra que o país
         melhor que ninguém poderá comentar os  O Estado Português da Índia, que se  viveu veio confirmar aquele princípio.
         acontecimentos, sob o ângulo do seu  radicou no sub-continente indiano de  Dele emergiram heróis que a Marinha
         enquadramento na situação política da  forma natural e jurisdicional da época,  não esquece.
         época, não só por ser reconhecidamente  caracterizava-se por uma amálgama de  O jovem tenente Oliveira e Carmo,
         analista histórico-político da mais alta  culturas, que lhe conferiu identidade  jovem na idade, mas de grande estatura
         hierarquia, mas também e principal-  própria secular.                 moral e militar, exemplo histórico de pun-
         mente, porque sobraçando ao tempo,   Esta identidade o País preservou-a  donor, coragem e culto da Pátria, figura
         embora de posse recente, a pasta do  durante séculos e a Marinha defendeu-a  entre os maiores consagrados mari-
         Ultramar, os viveu dolorosamente.  até aos limites da sua debilitada força.  nheiros-heróis: ele é um dos “heróís do
           O Almirante José Manuel Mendes                                      mar, de um nobre povo”.
         Rebelo – que na altura era, a seguir ao                                 O primeiro orador a usar da palavra foi
         imediato, o oficial mais antigo da guar-                              o Professor Doutor Adriano Moreira, que
         nição do NRP “Afonso de Albuquerque”;                                 subordinado ao tema intitulado  “A
         dissertará sobre o combate, no qual par-                              invasão do Estado da Índia” referiu-se à
         ticipou activamente.                                                  problemática estratégica e diplomática
           O Comandante Manuel Maria Seixas                                    que envolviam à época os territórios por-
         Serra – que se referirá ao combate da                                 tugueses na Índia, realçando as linhas de
         lancha “Vega”; foi camarada de curso e                                acção fundamentais em que assentou a
         íntimo amigo do Comandante Oliveira e                                 política do nosso governo. Da sua inter-
         Carmo, ele próprio havia comandado a                                  venção salientamos:
         lancha “Sirius”, gémea da “Vega”, tam-                                  A invasão de 18 de Dezembro de 1961
         bém em Díu, logo conhecedor do                                        foi qualificada pelos terceiromundistas
         quadro em que se desenrolou o funesto                                 como uma acção a que a União Indiana
         combate.                                                              se vira forçada pela intransigência do
           A concluir, o Presidente da Academia                                governo português em reconhecer os jus-
         afirmou:                                                              tos propósitos do invasor, que teria
           A invasão de Goa, Damão e Diu, por                                  preferido a via diplomática, mas que
         parte da União Indiana, encontrou estes                               entretanto desenvolvera uma guerrilha.
         pequenos territórios depauperados em                                  Esta mais a cargo de alienígenas do que
         força militar, tanto em terra como no mar,                            de goeses ao serviço do conceito de liber-
         o que facilitou decisivamente os propósi-                             tação que Nehru publicamente adoptara
         tos da sua anexação, confirmando a                                    ao receber os representantes dos movi-
         grande máxima universal, absoluta, do  Prof. Doutor Adriano Moreira.  mentos dos territórios africanos de
                                                                                    REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2002  19
   52   53   54   55   56   57   58   59   60   61   62