Page 99 - Revista da Armada
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1013 milibares. Se a leitura dos alunos esti-  va previsto o lançamento da quilha dum  nidade de contar esta despretensiosa história,
         vesse correcta já estaria a desenhar-se uma  petroleiro para a Marinha que viria a chamar-  cuja moral pode ser esta: nem sempre os
         forte tempestade.                  se S. Brás. A cerimónia foi adiada.  mestres estão certos,  nem os alunos errados.
           No dia seguinte, que foi sábado ( por acaso  O fim da tarde não foi fácil nem para o
         um Sábado Magro) como o tempo estava de  Joaquim e nem para o Carlos. O primeiro,
         mau cariz, poucos alunos foram à Faculdade.  embrulhado na sua capa, que sempre usava,   A. Estácio dos Reis
                                                                                                             CMG
         O Carlos e o Joaquim não podiam faltar.  chegou a casa que nem um pinto. Para o
         Tinham aula de química. No anfiteatro, D.  Carlos a viagem foi mais longa. É ele que  Notas
         António, sempre exuberante, expunha a  conta: “Dirigi-me para o comboio da linha do  (1) A Faculdade de Ciências esteve instalada na rua da
         matéria. O vento e a chuva foram aumentan-  Estoril, rumo a S. Pedro, onde morava desde  Escola Politécnica até Março de 1978, quando ali defla-
         do. Às tantas, uma forte rajada levanta os  os seis anos. Entre Caxias e Paço de Arcos, no  grou um  violento incêndio. ( Quantas vezes ardem os
         vidros da clarabóia que caiem, com estrondo,  local que, vim a saber, se chama Escada de  edifícios na cidade de Lisboa? )  Por esta razão, a
         no pavimento. Os alunos abrigam-se debaixo  Jacob, o mar saltava com uma fúria como  Faculdade foi transferida para a  Cidade Universitária, ao
                                                                               Campo Grande. As antigas instalações abrigam, actual-
         das carteiras. Com as alunas aos gritos, o  nunca tinha sido visto. O comboio teve que  mente,   o Museu da Ciência e o Museu Nacional de
         Mestre sai apressadamente e a aula acaba.   parar e aguardar uma acalmia para prosseguir  História Natural.
           Estava a desencadear-se um dos mais vio-  A primeira vez que tal acontecia. Era o princí-  (2) O Serviço Meteorológico  foi criado por dec. de
         lentos temporais de que há memória no nosso  pio dos efeitos de terem tirado a areia da lín-  29-8-1946. Todavia, na Marinha havia uma longa
                                                                               tradição no campo da previsão do tempo, tendo sido o
         país. A pressão atmosférica desceu a 952.1  gua que se estendia entre a Cova do Vapor e  seu ensino teórico regulamentado na Escola Naval, no
         milibares e, agora sim, percebe-se  que o valor  o Bugio. Esta língua destruída por dragas que  ano de 1887. Em 25-12-1923, cria-se a Repartição do
         lido pelos incompreendidos estudantes, não  levaram a areia para o Poço do Bispo, passou  Serviço Meteorológico na Intendência de Marinha, “à
         era mais do que o prenúncio da tempestade.  a permitir a exposição ao mar, em ocasiões  qual incumbem os serviços de informações nacionais e
         Uma tempestade que teve  rajadas de 200  de temporal, de toda a região entre a Parede e  internacionais e de previsão do tempo” e, em 18-12 do
                                                                               mesmo ano é atribuído ao Serviço Meteorológico da
         km/hora e em que morreram mais de duas  a Rocha de Conde de Óbidos. E, hoje, a situ-  Marinha a previsão do tempo e cartas sinópticas da situ-
         centenas de pessoas pelo país fora. Foram  ação mantém-se, não obstante as enormes  ação atmosférica. Em 6-12-1928 é criada a Estação
         abatidas milhares e milhares de árvores. Lisboa  quantidades de pedra que se colocam para  Meteorológica de Marinha no Atlântico (Horta).
                                                                                 (3) É curioso assinalar que, à excepção de Ramos e
         foi uma cidade muito sacrificada. Inúmeros  proteger a região. Se com essa pedra e tetra-  Costa, todos os outros consagrados catedráticos eram ofi-
         prédios danificados. Perderam-se mais de 100  podos lançados entre o Bugio e a Trafaria  ciais do Exército,  originários da Arma de Engenharia.
         fragatas do Tejo. Um hidroavião Clipper afun-  refizessem a citada língua de areia, o Porto de  (4) Atendendo ao facto da Escola Politécnica ser desti-
         dou-se na doca de Cabo Ruivo. A nau  Lisboa ficaria protegido tal com antigamente”.  nada, fundamentalmente, à preparação de militares o
         Portugal , virou-se. E, até o Infante D. Henri-  Estou grato aos almirantes Carlos Garcez  decreto foi assinado pelo ministro da guerra, visconde Sá
         que, essa figura de proa do Padrão dos Desco-  de Lencastre e Joaquim de Carvalho Afonso,  da Bandeira.
                                                                                 (5) As pressões atmosféricas indicadas foram forneci-
         brimentos, ainda em estafe, perdeu-se no Tejo.  companheiros da Escola Naval, pela lem-  das pela Dra. Ana Branco Marques, do Instituto de
         Curiosamente, nesse dia 15 de Fevereiro, esta-  brança deste episódio, que me deu a oportu-  Meteorologia, o que muito agradecemos.



            BONS SERVIÇOS PRESTADOS À MARINHA
            BONS SERVIÇOS PRESTADOS À MARINHA


           Realizou-se no passado dia 24 de Janeiro, no Gabinete do Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada, a cerimónia de condecoração do
         Dr. Guilherme Couvreur de Oliveira, médico da Direcção de Faróis e do Dr. José Júlio Campos da Comissão do Domínio Público Marítimo.
           Estas condecorações concedidas pelo Almirante CEMA, representam o justo reconhecimento por aqueles que, tão generosamente, deram
         parte importante do seu esforço ao serviço da instituição.

               Dr. Guilherme Couvreur de Oliveira, médico da   O Dr. José Júlio Campos que vem desempenhando a função de
               Direcção de Faróis desde 26 de Setembro de 1962, foi  Vogal da Comissão do Domínio Público Marítimo, em representação
         Oagraciado com a Medalha da Cruz Naval de 1ª classe.  das Administrações Portuárias Autónomas desde 2 de Junho de
           Nas palavras que então dirigiu ao homenageado, o Almirante  1976, foi condecorado com a Medalha Naval de Vasco da Gama.
         CEMA referiu o                                                                            Foi tido em conta
         gosto que o Dr.                                                                         que no desempenho
         Guilherme de Oli-                                                                       das suas funções
         veira tem manifes-                                                                      durante esse di-
         tado pelas activi-                                                                      latado período, e
         dades ligadas ao                                                                        mercê de uma sóli-
         mar e à Marinha, a                                                                      da formação jurídi-
         determinação e o                                                                        ca e grande expe-
         entusiasmo que co-                                                                      riência no trata-
         loca na sua activi-                                                                     mento de questões
         dade, para a qual,                                                                      ligadas ao Domínio
         ainda hoje, com os                                                                      Público Marítimo,
         seus oitenta e qua-                                                                     o Dr. Júlio Campos
         tro anos de idade,                                                                      prestou valorosís-
         dá a sua contribui-                                                                     sima contribuição à
         ção diária.                                                                             Comissão do Do-
           Ao longo de 40                                                                        mínio Público Ma-
         anos, a acção do Dr. Guilherme de Oliveira foi muito apreciada,  rítimo, tanto pelas suas sempre oportunas e judiciosas intervenções,
         merecendo de todos a maior estima e consideração. Admirado pe-  como pelo elevado número e excepcional qualidade dos pareceres
         los que com ele convivem, tem sido, além do médico, um con-  de que foi relator.
         selheiro e um amigo de todas as guarnições da Direcção de Faróis.
                                                                                      REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2002  25
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