Page 160 - Revista da Armada
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que ainda não dispõem inercial de navegação, pelo que é de admitir
dessa capacidade estão a que elas possam estar a ser afectadas pe-
ser convertidos. Um dos los empasteladores que as forças iraquia-
programas que se iniciou, nas eventualmente possuam. Nesse caso, o
recentemente, visa moder- resultado do empastelamento poderá ser a
nizar o sistema de nave- munição acertar numa posição diferente da
gação dos mísseis HARM prevista e, eventualmente, contribuir para
(High speed Anti-Radiation o aumento dos danos colaterais.
Missile), que equipam os A propósito de danos colaterais, gostaria
aviões F-16, F-18 e Tor- de referir, antes de terminar, que apesar de
nado, com a instalação tecnologicamente muito avançadas as bom-
de um receptor GPS mi- bas / mísseis continuam a ser constituídas
litar integrado com um por grandes quantidades de explosivos. E
sistema inercial, baseado apesar da sua precisão cirúrgica, com erros
em micro-acelerómetros e que podem não ultrapassar o metro, as ex-
girobússolas de fibra óp- plosões por si provocadas devastam áreas
Figura 3 - Empastelador portátil de GPS apresentado pela firma Russa Aviacon-
versiya Ltd em Paris, em 1999. tica (12). que não se circunscrevem a valores dessa
ordem de grandeza, pelo que por mais pre-
ter os sinais para o domínio do tempo e CONCLUSÃO cisas que sejam as armas continuará sempre
trabalhar nesse domínio. a haver danos colaterais (sobretudo se os
Apesar do grande esforço que tem vin- “A revolução nos assuntos militares está a conduzir alvos militares estiverem colocados junto
do a ser feito no sentido de desenvolver a um tipo de guerra em que a distância não oferece a áreas residenciais ou comerciais...).
protecção, em que qualquer alvo, se for encontrado,
antenas, filtros e circuitos anti-empaste- será destruído” (13) De qualquer maneira, não tenhamos dú-
lamento, a melhor solução para manter a Ian McLachlan (ex-Ministro da defesa da Austrália) vidas de que neste jogo do gato e do rato,
operacionalidade no ambiente saturado e em que um contendor procura optimizar a
hostil de um teatro de operações consiste Face ao que já foi dito, admite-se que as precisão do guiamento das suas armas e o
num sistema integrado que combine um Forças Armadas iraquianas estejam a usar outro contendor tenta confundir as bombas
receptor GPS e um sistema de navegação empasteladores de GPS para dificultar o guia- inteligentes e os mísseis inimigos, se está
inercial. A combinação desses dois sistemas mento preciso de munições e armas. No en- a jogar muito do sucesso/insucesso nesta
de navegação é efectuada de tal forma que tanto, a grande largura de banda do código segunda guerra do golfo.
quando o GPS estiver a fornecer informação militar garante aos receptores instalados nes- Z
de confiança, a plataforma utiliza a solução sas armas uma boa imunidade ao empastela- L. Sardinha Monteiro
de navegação determinada pelo receptor mento, a qual ainda poderá aumentar com a CTEN
GPS, quando este estiver a ser empastela- adição de filtros ou circuitos anti-empastela-
do, a navegação ficará a cargo do sistema mento. Se, além de tudo isto, o receptor GPS Referências
(1) BILLIÈRE, Gen. Sir Peter de la, “Storm Com-
de navegação inercial. do projéctil ou míssil estiver integrado com mand: A Personal Account of the Gulf War”, Harper
No caso do GPS, o erro da posição é in- um sistema inercial de navegação, então as Collins, 1992, p. 348.
dependente da duração da missão, isto é, probabilidades de haver problemas serão ain- (2) HOFFMAN, Tech. Sgt T., “Vice Chief Cites Im-
mesmo que a missão seja bastante longa da mais reduzidas. Desta forma, será muito portance of Space”, Air Force Space Command Public
os erros cometidos pelo GPS mantêm-se difícil que um empastelador seja eficaz contra Affairs, 1 September 1999.
(3) HASIK, James, RIP, Michael, “GPS at war: A ten-
dentro da mesma ordem de grandeza. Já um míssil Tomahawk e, mesmo que o seja, o year retrospective”, Proceedings of ION GPS 2001 Tech-
no sistema de navegação inercial, os er- que poderá acontecer é o guiamento rever- nical Meeting, Salt Lake City, 11-14 September 2001.
ros tendem a aumentar, tanto com o mo- ter para o sistema inercial, levando o míssil (4) “Smart weapons”, The Quarterly Newsletter of
vimento do utilizador como com a du- a acertar a uma dezena ou vintena de metros The Institute of Navigation, Volume 10, Number 1,
ração da missão. No entanto, o sistema de distância da posição prevista. Spring 2000, p. 7.
(5) MORGAN, Tom, “GPS and the revolution in
inercial tem sobre o GPS a vantagem de Já no tocante às bombas inteligentes, ain- military affairs”, Janes Defence Weekly, Vol. 37, Issue
ser completamente imune a qualquer for- da são poucas as que possuem um sistema n.º 10, 6 March 2002.
ma de empastelamento, pois trata-se de (6) WELLS, Lawrence L., “The Projectile Challenge
um sistema de navegação autónomo. A For GPS Guidance”, Proceedings of ION GPS 2001 Tech-
nical Meeting, Salt Lake City, 11-14 September 2001.
integração dos dois resulta num sistema (7) HERSKOVITZ, Don, “GPS Insurance – Antijam-
de navegação eficaz em qualquer situação ming the system”, Journal of Electronic Defense, De-
e capaz de garantir um rigor bastante su- cember 2000, p.p. 41-45.
perior ao conseguido com cada um deles (8) RITTER, Scott, “Endgame: Solving the Iraqui pro-
separada e individualmente. Desta forma, blem – once and for all”, Simon & Schuster, p.141.
(9) JOHN A. VOLPE NATIONAL TRANSPORTA-
podemos dizer que estes dois sistemas se TION SYSTEMS CENTER, “Vulnerability assessment
complementam quase na perfeição: aqui- of the transport infrastructure relying on the Global Po-
lo em que o GPS é mais vulnerável (em- sitioning System – Final report”, 29 August 2001.
(10) GERSHANOFF, H., “Russian GPS Jam-
pastelamento), não afecta minimamente mer Introduced”, Journal of Electronic Defense
o sistema de navegação inercial, enquan- (www.jedonline.com), August 1999.
to que o maior problema deste (degrada- (11) CASABONA, Mario M., ROSEN, Mur-
ção do rigor posicional com o tempo) não ray W., “Discussion of GPS Anti-jam Technology”,
afecta, de modo algum, o GPS. www.ericorp.com, 18/11/1999.
(12) LOFFLER, Thomas, NIELSON, John, “Interna-
Atentas a esta realidade, as Forças Armadas tional HARM Precision Navigation Upgrade – A GPS/
norte-americanas têm vindo a equipar os seus INS Application to Improve Missile Effectiveness and
mísseis e projécteis com sistemas integrados Minimize the Possibility of Fratricide”, Proceedings of
(GPS mais sistema inercial de navegação). ION GPS 2001 Technical Meeting, Salt Lake City, 11-
Por exemplo, os mísseis Tomahawk possuem 14 September 2001.
(13) “Interview: Ian McLachlan, Australian Mi-
todos, além do guiamento por GPS, um sis- Figura 4 – Kit para bombas inteligentes de 5 polegadas nister for Defence”, Jane’s Defence Weekly, 7 August
tema inercial complementar. Outros mísseis (fonte: American Nucleonics Corporation) 1996, p. 40.
14 MAIO 2003 U REVISTA DA ARMADA