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da Plataforma Continental. Depois de identifica-  problemas devido à possível existência de inter-  Economia e Ciência e Tecnologia. Esta comissão
         dos, coligidos e devidamente georeferenciados,  pretações diversas quanto à localização da base e  é constituída  por representantes dos referidos mi-
         os dados disponíveis devem ser reunidos, de pre-  de situações de ocorrência de diversos máximos  nistérios, sendo seu Presidente o representante do
         ferência em formato digital, e posteriormente in-  locais da segunda derivada da profundidade. Po-  Ministério da Defesa Nacional, ou seja, o Direc-
         tegrados numa bases de dados de tipo relacional  derá ser necessário recorrer à chamada “prova em  tor-Geral do Instituto Hidrográfico.
         e com capacidades de análise espacial. Esta base  contrário”, o que implica uma análise integrada   A CIDPC elaborou um relatório intercalar
         de dados será então utilizada na análise da situa-  de dados batimétricos, geológicos e geofísicos  em 1999, em face do qual foram adquiridos
         ção em face do Art.º 76 da CNUDM.  (sísmica, gravimetria e geomagnetismo).  diversos equipamentos, incluindo um sistema
           Do ponto de vista técnico, para proceder à   Para a determinação da espessura da camada  sondador multifeixe de grandes fundos, para o
         análise da possibilidade de extensão torna-se ne-  de sedimentos são fundamentais os métodos de  NRP “D. Carlos I” durante os anos de 2000 e
         cessário determinar geodesicamente as seguintes  sísmica de reflexão multicanal, visto permitirem a  2001, presentemente ainda em fase de instala-
         linhas, já anteriormente referidas:  análise das velocidades de propagação nas diferen-  ção. Em 2002 a CIDPC elaborou um plano de
           a. linha do pé do talude (foot of slope ou FOS)  tes camadas geológicas, tornando assim possível  acção para a realização de um desktop study,
         – linha que marca a transição do talude conti-  converter os diversos tempos de propagação em  tendo sido constituído o Grupo de Trabalho
         nental para a elevação continental;  valores de espessura das camadas. Isto permitirá  para a Base de Dados da Plataforma Continental
           b. linha que une os pontos cuja distância  ao  a elaboração de diagramas de distância ao pé do  (GTBDPC), em 11 de Dezembro de 2002.
         FOS é igual a 60 milhas (linha de Hedberg);  talude versus espessura da camada sedimentar, a   O GTBDPC reuniu pela primeira vez em
           c. linha que une os ponto onde a espessura  fim de calcular a linha de Gardiner.  06JAN2003 a fim de definir tarefas específicas.
         dos sedimentos é igual a 1%                                                         Após ter definido a estrutu-
         da distância ao FOS (linha de                                                       ra da base de dados este gru-
         Gardiner);                                                                          po de trabalho seleccionou
           d. linha que une os pon-                                                          e efectuou o carregamento
         tos cuja distância à isobati-                                                       de todos os dados relevantes
         métrica de 2500 m é igual a                                                         disponíveis, quer a nível na-
         100 milhas;                                                                         cional, quer internacional. A
           e. linha que une os pontos                                                        tarefa seguinte será levada a
         cuja distância à linha de base                                                      cabo por um segundo grupo
         é igual a 350 milhas.                                                               de trabalho, até 30 de Junho
           Para a determinação das                                                           de 2003, consistindo na aná-
         linhas anteriores é necessário                                                      lise dos dados e consequente
         considerar diversos tipos prin-                                                     elaboração de uma propos-
         cipais de dados: geodésicos,                                                        ta de relatório a apresentar
         batimétricos, amostras geoló-                                                       pela CIDPC aos decisores
         gicas e dados provenientes                                                          políticos.
         de métodos sísmicos. Adi-                                                             Refira-se ainda que o pra-
         cionalmente, poderão ser                                                            zo limite para a entrega de
         utilizados dados auxiliares:                                                        uma proposta de extensão da
         gravimétricos, geomagnéti-                                                          Plataforma Continental para
         cos e imagens de sonar late-  O NRP “D. Carlos I”.                                  além das 200 milhas no caso
         ral. De preferência, todos os                                                       de Portugal é Maio de 2009,
         dados devem estar em formato digital, por forma   Face às várias áreas do conhecimento envolvi-  ou seja, dez anos após a data de edição das Scien-
         a poderem ser analisados posteriormente pela  das, o desktop study implica a formação de uma  tific and Technical Guidelines of the CLCS.
         CLCS. No caso de dados que sejam resultado de  equipa multidisciplinar, composta por hidrógrafos,     Z
         filtragem, interpolação ou interpretação (isobati-  geólogos, geofísicos, juristas (especialistas em Di-  Fernando Manuel Maia Pimentel
         métricas, isopacas, etc.), têm de ser fornecidos à  reito Internacional) e especialistas em informática   Capitão-de-fragata, Engenheiro Hidrógrafo, MSc.
         CLCS os dados originais, bem como detalhes dos  e bases de dados.        Membro da United Nations Commission on the Limits
                                                                                                   of the Continental Shelf
         métodos usados.                      O resultado principal do desktop study deverá
                                                                                           Nuno Sérgio Marques Antunes
           Antes de tudo o mais, é necessário definir o  ser um relatório circunstanciado, onde sejam de-  Capitão-de-fragata, Licenciado em Direito, MA, Ph.D.
         sistema geodésico a ser utilizado (de preferência  finidas as áreas passíveis de extensão, a eventual   Membro do Committee on Legal Issues of the Outer
         o WGS-84), bem como o Datum vertical e as li-  necessidade de dados adicionais, uma quantifica-  Continental Shelf da International Law Association
         nhas de base (linhas de base normal e linhas de  ção dos meios necessários para o prosseguimen-
         base rectas) utilizadas na delimitação de frontei-  to do projecto e uma análise de custo/benefício   Notas
         ras e espaços marítimos. São também essenciais  relativamente à possível extensão da Plataforma   (1) Cf. Nuno Sérgio Marques Antunes, «O Novo Regime
         as definições do que se vai entender por “linhas  Continental. Após a consideração dos resultados   Jus-Internacional do Mar: A consagração ex vi pacti de um
                                                                               mare nostrum», in Anais do Clube Militar Naval, Vol. CXXVIII,
         rectas” (geodésicas, secções normais ou loxodró-  deste estudo inicial pelo poder político, e caso seja   Abril-Junho 1998, pp.287-309.
         mias) e do método de cálculo de distâncias a uti-  decidido avançar na elaboração de uma propos-  (2) Tullio Treves, «Codification du Droit International et
         lizar na elaboração da proposta.   ta de extensão da Plataforma Continental, poder-  Pratique des États dans le Droit de la Mer», in Recueil des
           Quanto aos dados batimétricos, eles deverão  se-á então passar ao planeamento detalhado do   Cours, Tome 223, 1990, pp.9-sgg, à p.61.
                                                                                 (3) O Alto Mar e a Zona, que podem ser perspectivados como
         ser obtidos através de sondadores acústicos de  projecto. Este envolverá a eventual execução de   “áreas internacionais” lato sensu, são definidos de forma residual
         feixe simples ou, preferencialmente, multifeixe.  levantamentos, para a aquisição e processamento   como as áreas do oceano, e do seu leito e subsolo, além da juris-
         Excepcionalmente, poderão ser considerados da-  de dados adicionais, e a análise final conducente à   dição nacional. Cf. CNUDM, art.os 1.º, n.º 1, al.1, e 86.º.
         dos batimétricos provenientes de sonar lateral ou  preparação da proposta a apresentar à CLCS.  (4) No que respeita aos limites exteriores dos espaços ma-
         de métodos de sísmica de reflexão, bem como                            rítimos, cf. CNUDM, art.os 3.º, 4.º, 33.º, n.º 2, 57.º, e 76.º,
                                                                               n.º 1. Quanto à questão da definição das linhas de base , cf.
         dados mais antigos ainda obtidos com métodos  SITUAÇÃO NACIONAL (ABRIL DE 2003)  CNUDM, art.os 5.º, 7.º, 9.º, 10.º, e 47.º.
         de prumagem.                                                            (5) A determinação da espessura de sedimentos deve ser
           O pé do talude pode ser determinado pela má-  A Comissão Interministerial para a Delimitação   entendida no contexto do “princípio da continuidade” dos
         xima variação do declive do talude continental na  da Plataforma Continental (CIDPC) foi criada em   sedimentos, conforme exigido pelas Scientific and Technical
                                                                               Guidelines da Commission on the Limits of the Continental
         sua base (análise de dados batimétricos e, eventu-  1998, através de um despacho conjunto dos Mi-  Shelf (doc. CLCS/11, de 13 de Maio de 1999); cf., em parti-
         almente, geológicos), o que só por si pode levantar  nistros da Defesa Nacional, Negócios Estrangeiros,   cular, paras.8.2.21, 8.5.3.
         18  MAIO 2003 U REVISTA DA ARMADA
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