Page 222 - Revista da Armada
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PONTO AO MEIO DIA




                           Recursos Humanos.


               A Maior Riqueza da Marinha.



                ponto ao meio dia permite a qualquer   Ora, perante isto, seria pertinente questionar:  ção superior que contribuem decisivamente para
                marinheiro saber onde se encontra e de-  - o que tem sido feito?  a sua realização.
          O  linear em função disso, o rumo a seguir   Procedeu-se a um diagnóstico da situação.   Nesse sentido, restringe o número de objecti-
          em relação a um destino que se pretende alcançar   Era crucial apreender o fio condutor da política  vos estratégicos (5) a um, e enuncia apenas dois
          em tempo e segurança. Naturalmente que uma  prosseguida, familiarizarmo-nos com o conceito  outros, que designa de objectivos essenciais:
          viagem carece de um estudo prévio e aprofunda-  de acção estratégica que a SSP e os organismos  “modernizar a esquadra” e “potenciar os recur-
          do, quanto à derrota a adoptar. Um ano após ter  na sua dependência vinham desenvolvendo, co-  sos humanos”.
          tomado posse como Superintendente dos Servi-  nhecer as balizas que enquadravam os objectivos   Complementarmente, estabelece alguns princí-
          ços do Pessoal, julgo oportuno dar conhecimento  perseguidos e as actividades realizadas.  pios e orientações que as áreas funcionais devem
          público da situação que se vive actualmente e, si-  No fundo, perceber em vista de quê, se actua-  atender e comete aos respectivos OCAD´s (6) a
          multaneamente, apresentar possíveis trajectórias   va, em ordem a quê, se trabalhava.  responsabilidade pela definição de “objectivos sec-
          de futuro. Desde já, agradeço à Revista da Armada   Vejamos, então, o caminho que foi percorri-  toriais”, num espírito de “solidariedade institucio-
          a oportunidade que me é oferecida.  do até à data.                   nal” pretendida e, igualmente, afirmada.
            Aquando da minha tomada de posse, tive opor-  No estudo que em consequência foi efec tu  do (3)   A DPN é realmente uma Directiva que apela à
          tunidade de afirmar que a Marinha, na pessoa  procura-se enquadrar conceptualmente todos os  comunicação e ao diálogo e que, no limite, esta-
          de sucessivos ALM.’s CEMA, tem sabido pugnar  assuntos para depois, cotejando a teoria com a  belece um diferente paradigma de gestão compar-
          pela “Modernização da Esquadra”, vital que é, para  prática (o que se diz, com o que se faz), apreen-  tilhada e solidária com os responsáveis máximos
          o cumprimento da sua Missão. O VALM VICE-  der e descortinar alguns dos principais proble-  das várias áreas funcionais.
          -CEMA, quando recentemente nesta mesma co-  mas e dificuldades que, nesta área dos Recursos   No meu entendimento vai mesmo mais longe e
          luna, fez a apresentação da Lei de Programação  Humanos (RH), se colocam à Marinha.   funciona como uma autêntica Directiva iniciadora (7)
          Militar (LPM), deu-nos conta do estado dos diver-  Deste modo, discorre-se com natural pragma-  de um processo típico de planeamento (operacional),
          sos programas de reequipamento da Marinha e,  tismo sobre todos os aspectos que afectam o pró-  ao permitir um maior envolvimento de pessoas e
          muito especialmente, elucidou-nos sobre o modo  prio sistema de RH e dá-se uma particular ênfa-  níveis de decisão na definição dos propósitos, mas
          positivo como podemos encarar a desejada edifi-  se ao “Ambiente externo”, que hoje, mais do que  também, no estabelecimento das respectivas mo-
          cação do sistema de forças naval, o instrumento  nunca, nos condiciona e influencia. Fala-se das  dalidades de acção, na concepção do próprio plano
          primeiro da missão da Marinha.    “Necessidades Organizacionais” e dos “Qua-  de operações e, até, das acções que, sob a forma de
            De facto, uma Marinha sem navios não faz  dros”, do seu desenho e concepção e põe-se a  actividades e tarefas, ao nível táctico, e em decor-
          qualquer sentido, como também não faz sentido  tónica naquilo que é uma relação estreita com o  rência, haverá que desenvolver e realizar.
          uma Marinha não cumprida (1), sem pessoal mo-  militar e as suas próprias expectativas de carrei-  De facto, o ALM CEMA ao estabelecer como
          tivado e competente!              ra. Aborda-se a questão das “Carências de pes-  um dos objectivos essenciais -“Potenciar os Recur-
            Nessa óptica, referi, naquela mesma oportuni-  soal” e evidenciam-se algumas dificuldades de  sos Humanos” – está, “politicamente”, a pretender
          dade, que subscrevia por inteiro o estado de espí-  “Recrutamento e retenção”. Reflecte-se sobre a  que os Recursos Humanos assumam no discur-
          rito que o ALM CEMA vinha manifestando pu-  “Carreira” e considera-se que a “Formação” é  so da Marinha uma posição central, que sejam
          blicamente (2), no que respeita à área do Pessoal,  vertente estratégica do desempenho e, por certo,  entendidos de forma diferente, mais como um
          aquela que, de todas as áreas funcionais da Mari-  investimento de retorno assegurado. Enfatiza-se  investimento e menos como um custo  e, nesse
          nha, maior atenção e preocupação lhe suscitava,  a problemática dos “Custos” e constata-se que o  sentido, vistos segundo uma outra óptica, mais
          atentas as carências que a vêm afectando.  “problema da Marinha” não é, apenas, um pro-  moderna e actual, em que o seu desenvolvimento
            Perante a consistente evolução negativa do nú-  blema de existências deficitárias, é também, um  e motivação são tidos como vectores de esforço
          mero de efectivos, o estado de espírito do VALM  problema de quadros e carreira, seguramente um  do maior peso e relevância.
          SSP não poderia ser outro, que não o de grande  problema de necessidades e muito especialmente   O modelo de referência é realmente outro e tem
          preocupação. Desde logo, porque são as pessoas,   de desenvolvimento organizacional.  sobretudo a ver com a valorização do capital hu-
          os seus conhecimentos e saberes, que constituem o   Mas, a Marinha não é autónoma na gestão de  mano da Marinha.
          recurso dos recursos, o tal recurso estratégico que,  toda esta complexa problemática, pese embora   É a própria DPN03/03 que precisa que “Poten-
          dando vida e expressão às organizações, coloca  lhe compita, sim, no cumprimento das suas com-  ciar os recursos humanos” consiste em “proporcio-
          em funcionamento esta imensa “máquina” que  petências, diagnosticar as situações, estudar os  nar condições para a maximização da vontade de
          é a Marinha. Todavia, conseguir este desiderato  problemas e identificar as linhas de acção que  servir o País na Marinha” e, bem assim, “garantir
          não é fácil, porque, no fundo, aquilo que verda-  possam conduzir a uma maior razoabilidade  [...] uma adequada satisfação das necessidades
          deiramente está em causa é a gestão de inventá-  das soluções.       de pessoal [...]. Nessa óptica, fixa como  vectores
          rios de diversa ordem: necessidades, interesses e   Foi exactamente isso que se fez, depois do diag-  essenciais da sua consecução o recrutamento e a
          objectivos das Forças Armadas, sua organização  nóstico e na procura consequente dos resultados,  fidelização do pessoal, bem como o próprio de-
          e funcionamento, mas, também, do indivíduo, da  elaboraram-se duas directivas enquadradoras das  senvolvimento organizacional.
          sociedade, do cidadão e do próprio militar.  actividades que em decorrência haverá que estru-  Ora, nestas circunstâncias, dir-se-á que este ob-
            Realmente, dir-se-á que tudo tem a ver com  turar e desenvolver.   jectivo e a sua formulação assentam num conjunto
          as pessoas, a quem o Estado e a Marinha devem   É sobre elas e concretamente sobre o seu con-  de ideias-força que não podem, de modo algum,
          poder proporcionar uma carreira que faça senti-  teúdo, que gostaria agora de tecer algumas con-  deixar de ser a base e  o apoio de todo e qualquer
          do, seja digna, promissora e que, acima de tudo,  siderações.        edifício de Recursos Humanos que se queira eri-
          se constitua num espaço e plataforma de estabi-  A Directiva de Política Naval (DPN)(4), pro-  gir com solidez e adequada sustentação e que a

          lidade, competência e motivação. Uma carreira,  mulgada pelo ALM CEMA, identifica, de forma  própria Directiva tão ampla e substantivamente
          diria mesmo, de excelência, desenvolvimentista  muito clara, a Visão que o próprio CEMA tem da  caracteriza.
          e satisfaciente, não só da grande Instituição, que  Marinha do futuro e, nesse preciso contexto, dá -nos   A Directiva Sectorial de Recursos Humanos (8)
          é a Marinha, como das pessoas que, aos vários  conta das suas verdadeiras convicções e, acima de  (DSRH), à imagem e semelhança de uma Ordem de
          níveis e nas diversas categorias, denodadamen-  tudo, das suas principais preocupações. Alude aos  operações no desenvolvimento da política naval de-
          te a servem.                      grandes objectivos e às medidas de administra-  finida pelo ALM CEMA e do seu próprio Conceito

         4  JULHO 2003 U REVISTA DA ARMADA
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