Page 227 - Revista da Armada
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que nos tinha enviado o catálogo, expondo RA - E ... perfeitamente ter sido gravadas na segunda
claramente o nosso objectivo ... JS - Deixe-me só dizer uma coisa; verifiquei passagem por Lisboa em 1904.
RA - Concretamente? depois que este senhor Frank Andrews tem edita- RA - Isso é o que se chama, «meter uma lan-
JS - Veja. Datado de 3 de Janeiro de 2003. do inúmeros trabalhos na área da fonografia. ça em África (7)!»
Retrovertendo; «... foi em 1903, pela Banda RA - Foi portanto dar a boa porta. Ia a pergun- JS - Claro que, como nos sugere o nosso in-
da Armada Portuguesa, num disco da Gramo- tar se desta feita, se avançou alguma coisa? terlocutor em Londres, os desenvolvimentos
JS - Sim e de que maneira. Com data de 20 com a EMI têm de ser feitos a nível oficial, o
de Janeiro recebemos a 27 um envelope com que já nos transcende.
uma carta do Sr. George Woolford a lamentar o RA - Bom. Mas meio caminho está já feito.
atraso, um pequeno estudo de datação (5) e E quanto ao tal CD?
a lista dos Registos de Hanover. O estudo de JS - Do levantamento para a antologia deste
datação confirma o início de 1903 como data 1º centenário seleccionámos duas faixas de cada
da gravação; a lista dos registos de Hanover, uma das outras edições conhecidas (8) além da
cujas matrizes são de 1903, identifica o nos- totalidade do tema do primeiro Disco.
so disco 60148, e dela constam mais 8 obras
gravadas pela banda. Nele vinha ainda uma
disquete com a lista manuscrita pelo Sr. Frank
Andrews que aquele, escusando-se de algum
erro de transcrição, passara a computador e,
tão ou mais importante, uma fotocópia dum
catálogo português de comercialização de dis-
cos para gramofone de Maio de 1906, onde
constam mais 17 músicas executadas pela
Escrita em Francês, Inglês e ... Português. Banda dos Marinheiros da Armada.
RA - Como, aliás, já me tinha falado ante-
phone and Typewriter Ltd. Pensamos que esta riormente, isso quer dizer que...
gravação tenha a ver com a visita do Rei Edu- JS - Isso mesmo. Que não fazia sentido
ardo VII a Lisboa, em 1903. O homem que fez a que toda a complicada, pesada e volumosa
gravação chamava-se Edward Moll e era inglês. aparelhagem tivesse sido transportada até
Na foto da frente, em anexo, pode-se ver isto, Lisboa para se produzir apenas a gravação
escrito em francês. Na do verso podemos ver de um único tema.
que a gravação foi reproduzida em Hanover e RA - Transportada até este quartel, como nos
também uma nota manuscrita da autoria do conta o Cte Araújo Pereira (6), em carros de bois
Rei D. Carlos de Portugal...» que «arqueavam e gemiam sob o [seu] peso» a
RA - Mais explícito não podia ser. E depois? ponto de, ao povinho atónito, um guarda mu-
JS - No dia 8, em resposta, aquele Senhor, nicipal ter afirmado (?) veemente «Oh senhora,
embora apenas ligado à área comercial, gen- não vê que são canhões para a Marinha!»
tilmente informa-nos de que já contactara um JS - O espanto dos populares, antes, e, de-
dos patronos da Sociedade, o Sr. Frank Andrews pois, o dos músicos...
(3), que se prontificou a passar nessa sexta-fei- RA - Numa caserna do Quartel de Marinhei-
ra pelos arquivos da EMI (4) para confirmar a ros onde tocaram e pouco depois, através das
data da gravação da peça com o número de «máquinas falantes», se... ouviram! A Banda no «Catálogo Português de Maio de 1906».
registo 60148, e que investigaria se havia ou- JS - Ficámos, assim, em condições de funda-
tros registos e se, com a ajuda de alguém mais mentar documentalmente, por outra via, que o RA - Do primeiro Disco!!!???... Como???
próximo de Deus («...help from a little higher than primeiro disco foi de facto gravado em 1903. JS - Graças à disponibilidade do Senhor Al-
us mortals...» como escreveu), ainda haveria nas RA - Ao todo foram reproduzidos quan- berto Cutileiro que nos recebeu em sua casa,
prateleiras da EMI discos da Banda. tos temas? ao Comandante Araújo Pereira, ao Engenhei-
JS - Nove temas em 1903, ro de som José Fortes e a mim. O trabalho de
quando pensávamos que era digitalização daquela relíquia fica-se a dever
apenas um, e, como escrevi à competência do Senhor Engenheiro que
para Londres a agradecer, o levou um leitor de discos de 78 rotações (9)
que também «é FABULOSO e por minuto e toda a aparelhagem necessária
completamente novo» é o catá- ao processamento.
logo de 1906 com mais 17 pe- RA - Uma experiência emocionante ...
ças, ou seja, 17 discos, nenhum JS - De facto. Por vários motivos; antes de
deles dos registos de Hanover. mais por estarmos a ouvir o primeiro disco gra-
É importante dizer que sobre vado em Portugal, depois um disco com cem
estas 17 peças não sabemos a anos, unifacial e ainda por ter sido oferecido
data de gravação, a não ser que pessoalmente pelo «Regente» da Banda, o Ma-
são anteriores a 1906, como é estro António Maria Chéu (10), ao Rei D. Car-
óbvio. Mas sobre isto dá-nos los que o anota pelo seu punho, num papel
George Woolford mais uma timbrado com as suas iniciais entrelaçadas,
pista: segundo Charles Scheu- CB (Carlos de Bragança), sob a coroa real.
plein a equipa da G&T esteve RA - Ouvi-lo, deve ter sido como os Desco-
em Barcelona em 1902, Lisboa, bridores ao avistarem, depois de o terem do-
Madrid, Barcelona e Valência brado, o Cabo das Tormentas (11).
em 1903 e novamente Madrid E há alguma relação com a visita de
Nota manuscrita no reverso. Gravado por ingleses, tocado por portugueses e Lisboa em 1904. Portanto, se Eduar do VII?
e reproduzido por alemães. não foram em 1903, podem JS - Sobre isso, diz-nos Alberto Cutileiro, que
REVISTA DA ARMADA U JULHO 2003 9