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“SETENTA E CINCO ANOS NO MAR”
            “SETENTA E CINCO ANOS NO MAR”



               história dos navios auxiliares da Marinha que prestaram serviço de  abate, praticou todos os portos e principais fundeadouros do território,
               1910 a 1985, unidades navais imprescindíveis para cumprimento  transportando passageiros civis, militares, bagagem, correio e diverso
         A  das missões atribuídas à Armada, mas por vezes subalterniza-  material. Recolheu náufragos, efectuou reboques. Enfim, fez tudo o que
         das em relação aos denominados navios linha, está contida no livro que  era possível a um navio do seu tipo.
         no passado dia 29 de Abril foi apresentado na Biblioteca central.  O segundo navio de transporte é o “Gil Eanes” (ex-Lahneck), navio
           Referindo-se ao trabalho publicado o Presidente da Comissão Cultu-  alemão surto no Tejo, que pertencia ao grupo de navios que em águas
         ral, CALM Leiria Pinto, deu a conhecer os navios nele descritos assim  portuguesas foram apresados no dia 24 de Fevereiro de 1916, acção esta
         como as principais tarefas por eles efectuadas.      que deu origem à declaração de guerra da Alemanha. Em 1924/25, o
           Assim, foi indicado que este XIV volume se inicia com os dois na-  “Gil Eanes” integrado na “Divisão Colonial” fez o périplo de África. No
         vios depósitos: o “S. Cristovão”,                                             ano seguinte, devido a problemas
         (ex-navio de 1ª classe “Bartolo-                                              surgidos na China, foi a Macau e a
         meu Dias”), que serviu de aloja-                                              Timor e em 1927 iniciou os cruzei-
         mento, no porto francês de Nan-                                               ros de apoio aos pescadores por-
         tes (1967-1969), às guarnições das                                            tugueses nas águas da Terra Nova
         fragatas classe “João Belo” e dos                                             durante as campanhas anuais da
         submarinos classe “Albacora” e                                                pesca do bacalhau, cruzeiros que se
         o Stº André (ex-navio-escola “Sa-                                             repetiram nos anos seguintes. Em
         gres”), utilizado na Base Naval de                                            1931 realizou uma segunda viagem
         Lisboa (1962-1975) para alojamen-                                             ao Extremo-Oriente e de 1933 a 36
         to de alunos da Escola Naval e da                                             transportou para Inglaterra pesso-
         Escola de Marinharia.                                                         al e material destinado aos novos
           Seguem-se os navios de apoio-                                               navios do Programa Magalhães Cor-
         logistico. O “SamBraz” que, cons-                                             reia que estavam sendo construídos
         truído no Arsenal do Alfeite foi o                                            em estaleiros daquele país. Foi aba-
         primeiro petroleiro português e após importantes fabricos efectuou, de    tido em 1942, tendo sido substituído pelo
         1970 a 75, transportes de pessoal e material ao longo da costa de Mo-     novo “Gil Eanes”, navio especialmente
         çambique, tendo, antes de ser abatido em 1980, estado atracado no cais    cons truído para apoio das campanhas
         do Grupo n.º 1 de Escolas da Armada, em Vila Franca de Xira, apoiando     de pesca na Terra Nova.
         a Escola de Alunos Marinheiros. O outro navio classificado de apoio-        Por último o Presidente da Comissão
         -logistico é o “Medusa”, entregue a Portugal ao abrigo do Programa        Cultural, referiu-se ao célebre salvadego
         de Assistência e Defesa Mutua com os EUA, foi inicialmente destinado      “Patrão Lopes” (ex-New Rostock), que à
         a apoiar os mergulhadores, posteriormente passou a chamar-se “S. Ra-      semelhança do anterior pertencia ao gru-
         fael” afim de servir os fuzileiros, missão que foi depois alterada para    po de navios alemães apresados em 1916.
         dar assistência às guarnições dos submarinos, no entanto, devido a vi-  Logo em Setembro desse ano efectuou cruzeiros de apoio às embarca-
         cissitudes várias a utilização do navio foi praticamente inexistente.  ções de pesca do alto, especialmente nas mediações do Porto de Lisboa.
           Só em 1929 é incorporado um navio balizador na Marinha, o “Almi-  De salientar a assistência que o navio deu aos submarinos “Foca”, “Gol-
         rante Schultz”, tendo sido enunciadas as principais missões que efec-  finho” e “Hidra” (com o “Espadarte” constituíram a 1ª esquadrilha de
         tuou: o apoio à balizagem no Continente e nas Ilhas Adjacentes, a par-  submarinos da Marinha Portuguesa) no seu transito do porto italiano de
         ticipação na construção, em 1962, do farolim do ilhéu das Formigas no  La Spézia para Lisboa. A viagem, que decorreu em Dezembro de 1917
         arquipélago dos Açores e a ida em 1964, pela primeira vez e única vez,  a Fevereiro do ano seguinte, em plena Guerra Mundial, durante um
         ao então Ultramar Português mais propriamente à Guiné, para subs-  Inverno tempestuoso e atravessando zonas infestadas por submarinos
         tituir a célebre bóia de espera e proceder à manutenção da balizagem  inimigos, que na ocasião atacaram embarcações navegando nas proximi-
         local. Depois de quatro décadas de esforçados serviços o velho baliza-  dades dos navios portugueses, constitui uma autêntica epopeia. Até ao
         dor foi em 1972 substituído pelo actual “Schultz Xavier”.  fim da guerra, a par de alguns reboques de embarcações avariadas e de
           Relativamente a este segundo navio balizador, foi sublinhado que  operações de desencalhe, o “Patrão Lopes” teve como missão principal
         inicialmente cumpriu as missões tradicionais do seu antecessor mas  o serviço de patrulha na zona entre o Cabo da Roca e o Espichel.
         com o início da Descolonização teve, no período de 1974 a 76, importan-  Em fins de 1921 princípios de 1922, mais uma missão no Mediterrâneo,
         tes participações no apoio à movimentação de lanchas de fiscalização  por duas vezes o navio foi a Veneza trazendo para Lisboa quatro torpe-
         da Guiné para Angola e principalmente na assistência a dois grupos de  deiros ex-austriacos, “Ave”, Liz”, “Sado” e “Mondego”, dos seis recebi-
         embarcações de pesca portugueses vindos de Moçambique e Angola  dos como indemnização da guerra. Os dois restantes foram perdidos na
         durante a sua viagem para Portugal (vide R.A . n.º 374/MAI04).  terceira viagem quando debaixo de forte temporal, ao largo de Bizerta,
           Aproveitando a oportunidade o CALM Leiria Pinto recordou o perío-  o cabo de reboque se partiu. Depois de inúmeros salvamentos efectua-
         do de Junho de 1976 a Outubro de 78 em que comandou o “Schultz”,  dos pelo “Patrão Lopes” acabaria, ele próprio, de se perder quando, em
         citando vários episódios curiosos por ele vividos, entre outros quando  1936, ao demandar o porto de Lisboa rebocando um navio encontrado à
         da montagem dos primeiros farolins nas ilhas Selvagens, do desenca-  deriva ao largo do cabo da Roca encalhou nos baixios do Bugio.
         lhe da LDG “Bombarda” na praia da Bordadeira na Costa Vicentina,   O CALM Leiria Pinto terminou a sua exposição afirmando: A exemplo
         da recuperação de uma lancha totalmente afundada, junto ao Cais da  do sucedido nos últimos volumes da obra “75 Anos no Mar”, cuja iniciativa se
         Base Aérea de S. Jacinto e do reboque do ex-draga minas “Horta” de  deve ao distinto oficial da Armada que foi o Comandante Sousa Mendes, este
         Lisboa para o Funchal.                               XIV volume é fruto do dedicado trabalho de um pequeno grupo consti tuído pelos
           Depois dos navios depósitos, dos de apoio-logistico e dos balizado-  Comandantes Vasconcelos Castelo e Ferreira Pinto coadjuvados pelo Sargen-
         res, o XIV volume apresenta os navios transporte de tropas. O primeiro  to Fernandes. A eles testemunho o meu apreço por mais esta sua contribuição
         é o “Salvador Correia”, já aumentado ao efectivo no longínquo ano de  para escrever uma parte da História da Marinha.
         1895, em 1910 encontrava-se a sofrer fabricos, situação que se manteve                                Z
         em 1913 altura em que largou para Angola onde, até 1929 data do seu        (Colaboração da Comissão Cultural da Marinha)

         14  JULHO 2004 U REVISTA DA ARMADA
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