Page 126 - Revista da Armada
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Foto CFR Augusto Salgado






        Arquivo Museu de Marinha





                                                                               Um dos mergulhadores junto aos destroços
                                                                               do Pedro Nunes.
                                                                               violentamente grandiosa e ameaçadora colum-
                                                                               na d’água, deixando, ao descer, por algum tem-
                                                                               po o mar profundamente revoltoso, o torpeda-
                                                                               mento do pontão Pero Nunes, antigo navio da
                                                                               carreira do chá, forte construção de madeira
         O pontão-depósito Pedro Nunes, fundeado no Tejo.                      e ferro, afundado em cerca de meio minuto
                                                                               pela explosão de um Whitehead lançado por
         as suas qualidades náuticas se mantinham                              um dos nossos torpedeiros...» (9).
         intactas. Entrou a barra do Tejo no dia 29 de   THERMOPYLAE             Recentemente, em Junho de 2003, os des-
         Maio e foi incorporado, como navio-escola,                            troços do Pedro Nunes foram descobertos por
         na Marinha Real, com o nome Pedro Nunes,   Termópilas em português. É o nome   um grupo de mergulhadores, colaboradores
         a 20 de Agosto de 1896.             de um desfiladeiro na Grécia, onde em   do Centro Nacional de Arqueologia Náutica e
           Face à escassez de recursos financeiros,   Julho de 480 a.C. teve lugar uma impor-  Subaquática (CNANS), a cerca de duas milhas
         não se realizaram os fabricos de que o na-  tante batalha. O local, que permitia o   a sul da marina de Cascais, a uma profundi-
         vio carecia. Desta feita, ficou inviabilizada a   acesso a Atenas por terra, foi defendido   dade de 30 metros. Deste grupo fazem parte
         sua utilização como navio de treino de vela   pelo rei espartano Leónidas, liderando   Carlos Martins, o Capitão-de-fragata Augusto
                                             6.000 homens, contra Xerxes, à frente do   Salgado, o Cabo CM Leonel Silva e o Cabo M
                                             exército persa, de 150.000 combatentes.   Pedro Granja, este último na reserva.
           Comandantes do “Pedro Nunes”      Depois de dois dias de combates, o rei   No ano de 2007, terá lugar uma exposi-
          -  1TEN Pedro de Azevedo Coutinho      persa obteve informações que lhe permi-  ção, a realizar no Museu do Mar de Cascais,
           18/4/1896 – 9/6/1896              tiram contornar a passagem, atacando os   como forma de assinalar o centenário do
                                             gregos pela retaguarda. Avisado a tempo,   afundamento do navio. Será ainda inaugu-
          -  CFR Manuel de Azevedo Gomes
           9/6/1896 – 24/12/1896             e consciente do massacre inevitável, Le-  rado um itinerário subaquático, para que os
                                             ónidas deu ordem para que o grosso das   amantes desta actividade possam contactar
          -  CTEN João Augusto de Fontes Pereira de Mello    suas tropas retirasse, conservando consi-  com o que resta do Thermopylae...
           24/12/1896 – 28/5/1897 (8)
                                             go apenas cerca de 300 homens. Luta-                              Z
                                             ram até à morte, permitindo a defesa de       António Manuel Gonçalves
         e marinharia. Consequentemente, no dia   Atenas pelos que haviam retirado.                         CTEN
         28 de Maio de 1897, o Pedro Nunes «pas-  Segundo apurámos, este nome terá   Notas
         sou ao estado de completo desarmamen-  sido dado ao navio por Mrs. Hardy Ro-  (1) Alan Villiers, The Cutty Sark, Last of a Glorious
         to». Desmastreado, serviu, a partir de então,   binson of Denmore, amiga da família de   Era, Londres, Hodder and Stoughton, 1953.
                                                                                 (2) O clipper era um navio à vela, de formas finas,
         como pontão-depósito de carvão, fundeado   George Thompson.           e relativamente pequeno, por comparação com os
         no Tejo. Ironicamente, um dos mais rápidos   Quando foi afundado, o Pedro Nunes   navios da segunda metade do século XIX, mas com
         veleiros da história, que havia desafiado os   conservava ainda, como figura de proa,   uma enorme área vélica, capaz de atingir grandes
         navios-vapor, iria manter-se ao serviço des-  a imagem do rei Leónidas, herdada do   velocidades.
                                                                                 (3) Uma galera é um navio de três ou mais mastros,
         tes durante dez anos.               Thermopylae.                      envergando pano redondo em todos eles.
           No dia 13 de Outubro de 1907, numa al-                                (4) Distância percorrida por um navio em 24 horas,
         tura em que se encontrava                                                          por definição entre dois meios-
         muito degradado, o pontão-                                                         dias consecutivos.
                                                                                              (5) Peça circular existente no
         depósito Pedro Nunes foi                                                           tope dos mastros.
         afundado pelo Torpedeiro                                                          Arquivo Museu de Marinha  (6) Este foi o único ano em que
         nº3, sob comando do Pri-                                                           os dois navios largaram exacta-
         meiro-tenente Castro Fer-                                                          mente no mesmo dia, e do mes-
         reira, ao largo de Cascais.                                                        mo porto. No próximo número
                                                                                            da Revista da Armada, quando
         Este evento, a que assistiu                                                        abordarmos a história da Cutty
         o rei D. Carlos e a família                                                        Sark, faremos referência a esta
         real, encontrava-se inte-                                                          viagem lendária.
                                                                                              (7) Uma barca é um navio de
         grado num Festival Maríti-                                                         três ou mais mastros onde en-
         mo, organizado pela Liga                                                           verga pano redondo, excepto no
         Naval Portuguesa. Literal-                                                         mastro mais a ré (mezena), que
         mente afundada a lenda,                                                            apenas enverga pano latino.
         o acontecimento foi assim                                                            (8) Patrono do curso que entrou
         noticiado:                                                                         para a Escola Naval, em 1992.
                                                                                              (9) «Festival Maritimo», Liga
           «a explosão de um torpe-                                                         Naval Portuguesa, Lisboa, Outu-
         do fundeado, levantando   O afundamento do Pedro Nunes, no dia 13 de Outubro de 1907.  bro de 1907.
         16  ABRIL 2005 U REVISTA DA ARMADA
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