Page 356 - Revista da Armada
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DIVAGAÇÕES DE UM MARUJO (13)
Trabalhar para Aquecer
Trabalhar para Aquecer
embro-me de ter, aqui, há tempos, trabalhamos todos para o mesmo e é em no estado de exaustão em que nos encon-
elogiado a eficiência dos nossos ca- conjunto que a chamada Opinião Pública trávamos todos, teríamos, de bom grado,
Lmaradas da Força Aérea, de tal modo nos avalia. cedido à Força Aérea os “louros” do sal-
que não hesitei em considerá-los capazes Mas, como ia dizendo lá mais para trás, vamento. Acontece, porém, que o Alouet-
de travar uma qualquer espaçonave alie- a Marinha, ressente-se, por vezes, da “con- te que estava de prevenção revelara sérios
nígena que viesse, eventualmente, a violar corrência”, nomeadamente daquela que problemas técnicos cuja reparação se es-
a integridade do espaço aéreo nacional. lhe é movida pela Força Aérea em áreas timava em várias horas, pelo que a nossa
Disse-o e continuo a afirmá-lo com toda a tão preciosamente navais como são a Fis- “barca” ainda era o meio mais rápido para
segurança. Já noutras acções mais “terra -a- calização e – sobretudo - o Serviço de Bus- lá chegar. Posto isto, rapidamente inverte-
-terra” (passe o trocadilho), confesso que o ca e Salvamento (normalmente conhecido mos o rumo e nos fizemos ao largo, à má-
despeito me leva a desejar que não fossem pela sigla da sua designação anglo-saxó- xima velocidade sustentável.
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tão eficientes, como, de facto – para mal nica: SAR ). Pude comprová-lo durante o É ponto geralmente aceite que as fraga-
dos nossos pecados -, são. meu estágio a bordo de um navio que não tas da classe “Vasco da Gama” são navios
Que não haja más interpretações! Se os é, por norma, colocado na escala de navio bons para “aguentar o mar”, excepto, tal-
indignados leitores tiverem a paciência de SAR: o NRP “Vasco da Gama” (na altura vez, quando se faz a manutenção dos es-
ler estas linhas até ao fim verão que não com a imberbe idade de três anos, poden- tabilizadores e estes são postos em funcio-
desejo aqui mal a ninguém, antes pelo do, portanto, ser, com toda a propriedade, namento invertido, o que provoca grandes
contrário. Sempre fui, aliás, partidário da designado como “fragata nova”). Pois en- balanços transversais, mesmo – aliás, prin-
manutenção de uma saudável rivalidade trávamos nós a Barra Sul do Porto de Lis- cipalmente – quando não há ondulação
entre os Ramos das Forças Armadas, des- boa, depois de um extenuante exercício de (operação que um camarada Engenheiro
de que essa rivalidade leve “marujos”, “ter- três semanas no mar, quando recebemos a jocosamente designava como “simulador
rujos” e “araújos” a darem o melhor de si ordem de acudir a um cargueiro, posicio- de enjoo”). Posso, contudo, afirmar que a
e não descambe para infrutíferas - se não nado a sessenta milhas da costa, onde um trinta nós e com mar grosso pela proa fica-
mesmo auto-destrutivas - recriminações tripulante que cortara um dedo e se esta- mos com a nítida sensação de estar dentro
que só poderão prejudicar a imagem dos va a esvair em sangue necessitava urgen- de um martelo pneumático ou das maracas
Militares perante o Povo Português. Afinal, temente de evacuação. Devo dizer que, de uma banda de merengue.
30 NOVEMBRO 2005 U REVISTA DA ARMADA