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PATRONO DO NOVO CURSO DA ESCOLA NAVAL
Vice-Almirante Manuel Pereira Crespo
Vice-Almirante Manuel Pereira Crespo
ascido em Lisboa a 30 de Julho de 1911, Manuel Pereira Crespo, necessidades entretanto surgidas. Este trabalho organizativo continuou
após os estudos secundários no Colégio Militar e no Liceu Gil já depois da sua ascenção a comodoro, em 1966, na qualidade de adjun-
NVicente e completado o segundo ano do curso de Matemática to do Chefe do Estado-Maior da Armada. Durante o ano de 1967-68 foi
na Faculdade de Ciências de Lisboa, ingressa, em 1930, na Escola Naval, professor efectivo do Instituto Superior Naval de Guerra, tendo sido
sendo o primeiro classificado entre cerca de uma centena de candidatos. autor do “Ciclo de Lições de Estratégia” e do “Ciclo de Lições de Orga-
Guarda-marinha em 1933, em 35, já 2º tenente, nos mares de Moçambi- nização”, publicações que desde então são de referência para o estudo
que, efectua a sua primeira longa comissão de serviço em Africa. destas duas matérias.
De regresso a Lisboa, frequenta o Curso de Especialização em Ra- Em 1968 o Presidente do Conselho convida-o para o cargo de Minis-
diotelegrafia e Comunicações, tendo obti- tro da Marinha, considerando-o a pessoa
do excelente aproveitamento. com as melhores condições para levar a
As altas classificações que lhe hão-de cabo a profunda reforma que a participa-
permitir alcançar os primeiros lugares em ção na guerra vinha exigindo à Marinha.
todos os cursos que seguiu foram uma Em cerca de uma década, depois de se ter
constante na sua carreira, facto que com- afirmado como um eminente hidrógrafo,
prova as suas excepcionais aptidões, no- tinha-se tornado num notabilissímo ofi-
meadamente as de carácter intelectual. cial de Estado-Maior cujos estudos viriam
A partir de 1939 inicia um longo perío- a ser imprescindíveis para a Marinha.
do de embarque, tendo inicialmente de- Mais um ciclo tinha passado na sua vida
sempenhado funções de chefe de serviço profissional, em 68 começará o terceiro e
e de oficial imediato após a sua promo- último, o período no Governo.
ção a 1º tenente em 1940, a bordo do na- No desempenho de funções ministeriais
vio atribuido à Missão Hidrográfica das ao Contra-Almirante Pereira Crespo, pro-
Ilhas Adjacentes, passando depois, em 43, movido a este posto em 1969, que corres-
a prestar serviço na Missão Hidrográfica ponde no presente ao de vice-almirante, se
de Angola. Em 1947 foi nomeado, ainda deve a reorganização de toda a estrutura
como oficial subalterno, facto excepcional superior de Marinha. Consciente das du-
na época, chefe da Missão Geo-Hidrográ- ras condições em que estava a ser travada a
fica da Guiné, onde viria a permanecer guerra e compreendendo a importância de
durante quase dez anos. Capitão-tenen- garantir um suporte de rectaguarda aos mi-
te em 1953, inicia a colaboração no Bole- litares ausentes dos seus familiares durante
tim do Centro de Estudos da Guiné-Por- longos períodos, promoveu a construção
tuguesa, publicando roteiros da costa do de infraestruturas a eles destinadas e a cria-
território. Apesar dos meios disponíveis ção de uma secção no âmbito da respectiva
terem sido escassos, o Comandante Perei- Direcção do Serviço, que mais tarde daria
ra Crespo e a sua equipa realizaram um trabalho extraordinário que origem à actual Direcção de Apoio Social. Também na área do pessoal,
se consubstanciou, à data da sua exoneração em 1957, num avultado entre outras importantes acções, institui novas regras para a prestação
conjunto de planos e cartas hidrográficas de porto e topográficas do do serviço do pessoal militar e reorganiza os quadros do pessoal civil.
interior, o qual constituindo uma notável produção científica, veio a Na parte cultural várias foram as suas iniciativas, salien tando-se o Centro
ter, a partir dos anos 60, enorme utilidade para a actividade opera- de Estudos da Marinha, antecessor da Academia de Marinha, o Gabi-
cional na Guiné. O primeiro ciclo da sua carreira, o período na hidro- nete de Heráldica Naval, a Revista da Armada e a edição das colecções
grafia, estava terminado. Frequentou entretanto o Curso Geral Naval “Estudos” e “Documentos” onde são dadas a conhecer obras notáveis
de Guerra e a partir de 1954, começam os seus escritos nos Anais do relativas ao mar e às actividades marítimas.
Clube Militar Naval, tendo sido responsável pela respectiva “Crónica Com o 25 de Abril de 74 terminava o último período da carreira do
de Marinha” de 1956 a 1964 e redigido, ao longo dos anos, variados Almirante Pereira Crespo, pois nessa data requereu a exoneração do
artigos sobre Estratégia e Organização. seu cargo e a passagem à situação de reserva.
Em 1957 principia um novo ciclo, é o período no Estado-Maior, na Foi agraciado com variadíssimos louvores, sendo de enaltecer aque-
Divi são de Organização que passa a chefiar a partir de 1959, após pro- le que recebeu a bordo do N.H. “D. João de Castro”, por ter efectuado
moção a capitão-de-fragata. Expressa então a necessidade da reorga- um valioso trabalho científico sobre as novas sondas sonoras e a sua
nização da Marinha em geral e especialmente das suas estruturas no utilização nas missões hidrográficas e outro concedido pelo Ministro do
Ultramar, tendo colaborado em todos os estudos e trabalhos referen- Ultramar que premeia o seu desempenho na Missão Geo-Hidrográfi-
tes a estes assun tos. Possuia ideias muito firmes sobre o que deveria ca da Guiné. Conta ainda com numerosas condecorações militares, de
ser a política portuguesa para o Ultramar, considerando indiscutível que se distinguem as seguintes: duas Meda lhas Militares de Prata de
a necessidade de lutar pela sua integridade no território nacional. Esta Serviços Distintos, Medalhas de Mérito Militar de 1ª e 2ª Classe; Grã
vai ser a questão de princípio que determinará a sua acção futura e as Cruz da Ordem Militar de Cristo; Grã Cruz da Ordem do Infante
medidas que, mais tarde, virá a tomar. D. Henrique; Comendador da Ordem Militar de Avis; Medalha de
Em 1961, ano do começo da Guerra de África, o Comandante Pereira Ouro de Comportamento Exemplar; Oficial da Legião de Honra
Crespo é capitão-de-mar-e-guerra. Frequenta o Curso Superior Naval (França) e Grã Cruz da Ordem de Méri to Naval (Brasil).
de Guerra em 1963, após o qual desempenha o cargo de Comandante A 15 de Julho de 1980 falecia em Lisboa o VALM Manuel Pereira
da Flotilha de Draga-Minas por escassos meses, já que é chamado no- Crespo, o último Ministro da Marinha, aquele que foi um dos Almi-
vamente para prestar serviço no Estado-Maior da Armada. rantes mais distintos e prestigiados da sua geração, dotado de excepcio-
Esperava-o depois uma das mais espinhosas missões da Marinha: nais qualidades e que teve sempre durante a sua brilhante carreira como
a sua reorganização profunda, com vista a dar resposta às prementes principal objectivo servir a Marinha e Portugal. Z
14 DEZEMBRO 2005 U REVISTA DA ARMADA