Page 380 - Revista da Armada
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Portugal não podia resistir sozinho às  esquadra do almirante Howe para cruzar   Em 12 de Julho de 1794 largou do Tejo,
         ameaças militares francesas e aos ataques  diante dos portos franceses impedindo as  sob o comando do chefe de esquadra An-
         dos seus corsários que ameaçaram arrui-  esquadras e corsários franceses de sair para  tónio Januário do Vale, uma esquadra de
         nar o comércio marítimo. Solicitou o apoio  o mar, em comum benefício das duas nações.  7 navios (5 naus e 2 bergantins). A que foi
         inglês para a protecção da sua costa a fim  Lord Howe dispunha de uma frota de 31  dada a designação de Esquadra do Canal e
         de poder concentrar a Armada Real                                          que se incorporou nas forças navais
         na protecção do comércio do Brasil                                         do almirante Howe.
         e no comboio dos navios mercantes                                           A frota portuguesa era entretanto
         que largavam regularmente da Baía                                          reforçada com a Princesa Carlota de
         e do Rio de Janeiro.                                                       48 peças sob o comando do capitão-
           Os meios de defesa eram escassos.                                        -de-mar -e -guerra Eduar do Roe e uma
         O Exército, depois da experiência do                                       guarnição de 379 homens.
         Rossilhão, tentava uma reorganiza-                                          No dia 3 de Setembro, pelas 6 horas
         ção profunda, mas mesmo nume-                                              da manhã, o almirante Howe dá or-
         ricamente nunca poderia resistir a                                         dem às duas esquadras para suspen-
         uma agressão fanco -espanhola.                                             derem dando início a um período de
           A Marinha Real encontrava-se                                             operações de bloqueio aos portos fran-
         numa situação aceitável. A força naval                                     ceses. Os navios portugueses foram os
         na Europa em 1793 era de 13 naus, 17                                       primeiros a desferrar o pano e a largar
         fragatas e 13 brigues com um total de
         1.114 peças. As construções de novos
         navios sucediam-se e procedia-se a
         uma profunda reorganização admi-
         nistrativa sob a direcção de Martinho
         de Melo e Castro, Secretário de Estado
         dos Negócios da Marinha e do Ultra-
         mar (1770-1795).
           A França lançou no mar uma quan-
         tidade de corsários e fragatas que
         tornaram inseguro todo o comércio
         marítimo. Os ataques efectuados obri-
         garam a Marinha Real a aumentar os
         esforços para garantir minimamente   A Armada Real Portuguesa participa em várias operações
                                        com a Royal Navy no Atlântico e no Mediterrâneo.
         as linhas de comunicação marítima.
         A importância do comércio do Brasil jus-  naus de 74 a 110 peças, 7 fragatas,
         tificava os enormes dispêndios efectuados  um navio-hospital e 3 brulotes.
         com a manutenção da força naval. Foram   Os ingleses mostraram-se ini-
         também autorizados alguns particulares a  cialmente insatisfeitos pela de-
         praticar acções de corso contra interesses  mora dos navios portugueses,
         franceses. As medidas tomadas permitiram  mas a sua boa navegação, a soli-
         a manutenção do comércio nacional apesar  dez e a elegância dos navios bem
         das enormes perdas.                como o porte das guarnições,
           Considerado pela França como nação  modificaram a opinião.
         beligerante, o governo português estabe-  Uma epidemia que grassou na
         leceu as seguintes prioridades para o em-  esquadra inglesa impediu a jun-
         prego da sua força naval:          ção das frotas mas, apesar dos
           1º.- Defesa das costas do Brasil  contra  cuidados as guarnições portu-
         tentativas de ocupação francesas;  guesas foram atacadas também
           2º.- Segurança das costas de Portugal, es-  pela epidemia que atingiu mais
         pecialmente o acesso ao porto de Lisboa;  de 500 praças.
           3º.- Protecção do comércio e da navega-  Impedidos de navegar, devido
         ção mercante nacionais.            às enormes baixas, os navios por-
           Estes objectivos depressa foram esque-  tugueses regressaram em Setembro, chegan-  dos fundeadouros, executando com rigor to-
         cidos e os navios foram enviados para as  do a Lisboa a 4 de Outubro, fundeando na  dos os sinais e manobras que lhe foram in-
         costas de Inglaterra cooperar com os ingle-  Junqueira e trazendo a bordo 10 oficiais in-  dicados, sem acidentes a lamentar. Na noite
         ses, constituindo a Esquadra do Canal; supos-  gleses contratados para servirem em Portu-  de dia 5 as esquadras encontraram uma frota
         tamente para tentar interceptar qualquer  gal (1 chefe de divisão, 2 capitães tenentes e  mercante vinda das Índias Orientais a quem
         expedição francesa destinada ao Brasil.  7 primeiros tenentes).       deram escolta até à baía de Torbay de onde
           A pretexto de impedir uma intervenção   O Bergantim Voador só regressou a Lis-  largaram depois a caminho de Brest.
         francesa, a Inglaterra ocupa militarmente,  boa a 17 de Novembro transportando os   A esquadra portuguesa efectuou depois a
         em 1801, a Madeira, Goa e Macau.   doentes da esquadra.               protecção a vários comboios, um deles com
                                                                               mais de 600 navios!!! Um grande temporal
         A ESQUADRA DO CANAL DE 1793        A ESQUADRA DO CANAL DE 1794        equinocial caiu, entretanto, sobre o Canal
                                                                               da Mancha causando grandes avarias nos
           A 3 de Julho de 1793 largou a esquadra   No ano seguinte, já em consequência de  navios das duas esquadras, obrigando-os a
         de 7 navios, denominada Esquadra do Ca-  um novo Tratado, o Gover no britânico re-  recolher aos portos de abrigo. A nau D. Ma-
         nal, sob o comando do tenente-general José  quisitou novo auxílio sendo-lhe enviada  ria I desarvorou ficando só com a mezena.
         Sanches de Brito:                  uma esquadra de 8 navios sob o comando  Em consequência deste percalço abriu água
           A missão desta esquadra era juntar-se à  de António Januário do Vale.   e desatracou parte da artilharia, ferindo

         18  DEZEMBRO 2005 U REVISTA DA ARMADA
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