Page 379 - Revista da Armada
P. 379
No Bicentenário da Batalha de Trafalgar
No Bicentenário da Batalha de Trafalgar
A Cooperação Naval Luso-Britânica nas
Guerras Napoleónicas (1793-1807) 1
O CONFLITO ENTRE na Guerra das Laranjas, com graves conse-
AS GRANDES POTÊNCIAS quências para os dois países.
Bonaparte, nomeado comandante do
Revolução Francesa – 1789 – foi exército destinado à invasão de Ingla-
o rastilho para uma guerra de terra, foi confrontado com a falta do
A mais de 25 anos entre os Esta- domínio do mar e prepara uma apro-
dos da Velha Europa e a França Revolu- ximação indirecta; planeou combater
cionária que se estendeu às possessões a fonte do comércio inglês no Oriente
ultramarinas. O Império de Napoleão, através da ocupação de Malta, do Egip-
depois de bater a Áustria, a Prússia e a to e da Índia e criando ameaças nas
Rússia, ficou apenas face à resistência Caraíbas com o intuito de atrair meios
da Inglaterra. navais ingleses para longe do Canal
Uma daquelas potências só podia da Mancha.
destruir a outra pela conjugação das Malta foi ocupada, a batalha das Pirâ-
superioridades terrestre e marítima. Os mides marca a presença de Napoleão no
beligerantes recorreram a várias fórmu- Egipto. A 1 de Agosto de 1798 Nelson
las para fortalecerem o seu poderio. A destrói na baía de Aboukir a esquadra
França utilizou as forças militares dos francesa e logo a seguir Malta é reocu-
seus aliados e dos países ocupados. A pada depois de um prolongado blo-
Inglaterra para manter a defesa contra queio em que participou uma esquadra
uma invasão necessita de superioridade portuguesa sob o comando do Marquês
naval. Nesse sentido neutraliza as for- de Nisa, entrando também em várias
ças navais dos países inimigos ou sim- outras acções conjuntas nas costas fran-
plesmente hesitantes. Portugal, a sua cesas e italianas.
esquadra e os seus portos foram cobi- Em Abril de 1801 Nelson ataca Cope-
çados por ambos os beligerantes. nhaga e destrói a esquadra dinamarque-
A marinha inglesa iniciou o conflito sa quando aquele país se declara neu-
em situação vantajosa com um sólido tral no conflito, por receio que a mesma
corpo de oficiais e guarnições bem trei- pudesse cair na posse dos franceses, re-
nadas e experientes; o núcleo da sua petindo, aliás, o que já antes fora feito
frota era o navio de linha de 74 peças Almirante Marquês de Nisa. em Nápoles.
Museu de Marinha – Óleo de Alberto Cutileiro.
em duas baterias. As vitórias então são partilhadas; em
A marinha francesa tinha sofrido o afas- O início da luta foi no dia 1 de Feverei- terra para o exército francês no mar a favor
tamento de 80% dos oficiais do tempo da ro de 1793, data em que a França declara da esquadra inglesa. Em 1802 é assinada
monarquia que foram substituídos por guerra à Inglaterra com o propósito de in- uma paz precária em Amiens, que seria
elementos sem treino nem experiência; o vadir a ilha. rompida logo em 1805. A 21 de Outubro
núcleo da esquadra era o navio de linha Em 1797 a esquadra inglesa obteve duas de 1805 Nelson derrota em Trafalgar uma
de 116 peças em três baterias. importantes vitórias; o almirante Adam esquadra franco-espanhola, destruindo
Duncan vence os quase completamente o poder naval de
holandeses em franceses e espanhóis.
Camperdown e
o almirante John A INTERVENÇÃO PORTUGUESA
Jervis apri siona A deposição da monarquia em França
parte de uma fro- (1792) e a extravagante declaração de guer-
ta espanhola de ra a todas as tiranias, levaram as monarquias
27 navios do al- europeias a adoptar medidas de defesa con-
mirante D. José tra a França.
de Córdoba ao Portugal mostrou-se um apoiante das
largo do Cabo monarquias da Velha Europa contra a Fran-
de São Vicente. A ça e, a pedido da Espanha, enviou para a
presença no local Catalunha uma Divisão de 5.500 homens
da fragata portu- do Exército Português para combater ao
guesa Tritão leva lado da Espanha. Embarcados em Setem-
a Espanha a con- bro de 1793, regressaram em Dezembro de
siderar Portugal 1795. A Espanha, depois de alguns reveses
como nação hostil militares na Catalunha, liga-se à França
e a negociar com a com o pensamento na conquista de Portu-
França a invasão gal, hostilizando este país, e boicotando as
do país; tal viria a diligências diplomáticas portuguesas para
A Europa em 1792 quando se iniciaram os grandes confrontos com a França.
Atlas da Europa de O Público. suceder em 1801, a obtenção da paz com a França.
REVISTA DA ARMADA U DEZEMBRO 2005 17