Page 98 - Revista da Armada
P. 98
Prossegue a Colecção
“75 Anos no Mar (1910-1985)”
A empenhados na “Operação Mar Verde”. Re- distinta assistência, pese embora reflectir,
Colecção “75 Anos no Mar (1910-
-1985)” tem mais um volume, o XV, que lembrando a sua comissão da Guiné como certamente, uma imagem parcial e modes-
foi apresentado na Biblioteca Central da Comandante do 6º Destacamento de Fuzi-
ta dos factos, dada a incapacidade de tra-
Marinha em 16 de Dezembro passado. leiros Especiais, o Presidente da Comissão duzir, com realismo e em nome de todos, a
Na qualidade de Presidente da Comissão Cultural afirmou: após estafantes operações experiência vivida por cada um.
Cultural, organismo responsável pela edição em que os contactos com o inimigo eram a Descreveu depois, de uma forma extra-
da obra, o CALM ordinariamente rea-
Leiria Pinto infor- lista, como era a
mou que o presente cidade de Bissau
volume reporta-se quando da sua che-
às lanchas–canho- gada em Maio de
neiras, às de vigilân- 1966, o ambiente
cia e socorro (LVS’s) em que se vivia, im-
e às lanchas de fis- pressões do seu pri-
calização grandes meiro contacto com
(LFG’s), identifican- a “Orion”, do seu
do a seguir as unida- comandante e da
des historiadas. guarnição. No que
Em relação às 9 se refere às várias
lanchas-canhonei- comissões da sua
ras, todas aumen- LFG com embar-
tadas ao efectivo na ques de fuzileiros,
primeira metade do fiscalização, patru-
século XX, referiu -se lha, escoltas à nave-
à sua notável acti- gação comercial e
vidade em África e transporte de tropas.
no Extremo Oriente, Também o apoio à
citando a da lancha Oceanografia com
“Macau” que durante três décadas prestou regra geral, a “guerra” a colocação de bóias e
intensa actividade militar, hidrográfica, hu- terminava quando em- reparação de marcas,
manitária e de presença naval na área de barcavamos nas LFG’s. apoio e transporte de
Macau, estendendo-se por vezes a sua acção 80 fuzileiros, extenua- militares de outros ra-
no apoio quer ás missões católicas no rio de dos, famintos e nor- mos, incluíndo feridos
Oeste e do Delta de Cantão, quer às Comu- malmente cobertos de e prisioneiros relatou as
nidades Portuguesas aí estabelecidas. lodo, que deixavam o difíceis navegações nas
No que respeita às 6 lanchas de vigilân- navio num estado de várias bacias hidrográ-
cia e socorro, que tinham servido no Canal limpeza deplorável, po- ficas dos rios guineen-
da Mancha durante a II Guerra Mundial, diam contar com uma ses e alguns episódios
incorporadas ao efectivo dos navios da Ar- refeição quente e um que passou na guerra e
mada em 1946, foi destacada a acção das 4 descanso reparador, na paz. Depois de fa-
unidades que prestaram serviço integradas sempre envolvidos pelo zer uma referência ao
nas Forças Navais do Estado da Índia e que carinho dos seus irmãos periodo que exerceu
garantiram a presença da Marinha em Goa, marinheiros, os quais as funções de ajudan-
Damão e Diu desde 1955 a 1959. com a sua atitude faziam-nos esquecer os dí- te do VALM Ferrer Caeiro cuja fígura enalte-
Por fim, o CALM Leiria Pinto esclareceu ficeis tempos passados em terra. Era como ter ceu, o Engenheiro Lema Santos terminou as
que parte substâncial do XV volume trata das saído do Inferno e entrado no Paraíso. Magní- suas palavras afirmando: a promoção a 1º
10 lanchas de fiscalização grandes da classe fico pessoal o das LFG’s da Guiné, para eles Tenente e o regresso com a consciência de
“Argus”, aproveitando a oportunidade para terei sempre um dívida de gratidão. que tinha cumprido mais uma etapa de vida
saudar alguns dos seus antigos comandantes Atendendo que a quase totalidade dos com sucesso. Balanço feito, voltaria a repe-
e imediatos que estavam presentes na ceri- imediatos foram oficiais da Reserva Naval tir, sem tibiezas, o caminho percorrido. Com
mónia. Sobre a actividade operacional das e que seria interessante relatar a experiên- toda a inexperiência, granel e díficuldades
LFG’s que prestaram serviços assinaláveis nos cia vivida, falou depois o Engenheiro Lema que tive de ultrapassar. Na partilha de todos
imprevisíveis mares das ilhas de Cabo Verde, Santos, 1TEN RN e antigo imediato do NRP os momentos de dificuldade, solidariedade
nos traiçoeiros rios da Guiné, nas cavadas “Orion” que iniciou a sua exposição com e amizade com o que fui brindado por ofi-
calemas de Angola e nos agitados mares de um pequeno intróito para uma referência à cias, sargentos e praças de todas as unidades
Moçambique salientou que participaram em Reserva Naval da Marinha de Guerra que e comandos com que contactei. Uma última
operações navais significativas como foi a encarnou, para todos, muito mais do que palavra para todos aqueles que nos deixaram
efectuada quando do bloqueio naval ao por- uma forma, dita civilizada, de cumprimento prematuramente, chamados para a última
to da Beira pela Marinha Inglesa e na Guiné, de serviço militar obrigatório, considerando viagem. Estão sempre conosco!
em Novembro de 1970, transportando e ga- uma honra poder reviver tão enriquecedo- Z
rantindo a protecção aos grupos de combate ra experiência, perante tão representativa e (Colaboração da Comissão Cultural da Marinha)
24 MARÇO 2005 U REVISTA DA ARMADA