Page 13 - Revista da Armada
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                       E \kjkhe Yec j[Ydebe]_W

              o comemorar os 35 anos da Revista  numa determinada altura a evolução será tão rá-  interruptor que ora liga e desliga, controlan-
              da Armada que outro desafio maior se  pida e vertiginosa que ultrapassará a capacidade  do a corrente eléctrica que gera a informação
         Apode colocar do que imaginar o nosso  de a acompanhar. A ideia surgiu em 1950, com  numérica básica dos computadores (expressa
         futuro daqui a 35 anos. Se a previsão falhar,  o matemático John von Neumann, um dos cria-  em sequências 0 e 1). As nanotecnologias ou
         como um dia disse Winston Churchil, teremos  dores do computador, que disse que as tecno-  a computação óptica e quântica são aponta-
         sempre a possibilidade de explicar, daqui a 35  logias poderiam chegar a um ponto para além  dos como caminhos de futuro, mas as empre-
         anos, porque não aconteceu nada do previsto.  do qual “os assuntos humanos, da forma como  sas ainda têm os seus investimentos dirigidos
         A imprevisibilidade do futuro alimenta-nos a  conhecemos, não poderiam continuar a existir”.  para o paradigma de Moore.
                                                                                                        1
         esperança de o podermos moldar à imagem do  Desde então, a evolução tem sido tão rápida,   Segundo o professor Ray Kurzweil , um com-
         que ambicionamos. Ninguém se                                                    putador de mil euros tem hoje a
         arrisca a dizer o que acontecerá                                                mesma inteligência de um insec-
         daqui a dez anos muito menos                                                    to. No futuro, é de prever que se
         daqui a três ou quatro décadas.                                                 consiga igualar a capacidade de
         A Revista da Armada fez 35                                                      um rato, de um homem, e final-
         anos e é um desafio interessante                                                 mente, de toda a humanidade.
         imaginar quais os vectores mais
         marcantes do nosso futuro daqui                                                 O QUE NOS ENSINA O
         a 35 anos, que por certo serão a                                                PASSADO
         tecnologia e o fim do petróleo.
         Sobre estes dois temas proponho                                                   A Segunda Guerra Mundial
         três artigos, este sobre “O futu-                                               gerou um grande número de in-
         ro com tecnologia”, um sobre                                                    venções e marcou o início de
         “O futuro sem petróleo” e ou-                                                   uma era recheada de tecnologia,
         tro sobre “O futuro e as fontes                                                 entrou-se no nível 1. De entre as
         de energia alternativas”. Fica o                                                muitas invenções salientam-se o
         desafio de se escreverem mais                                                    radar, o avião a jacto, a bomba
         artigos sobre o futuro que nos                                                  atómica, as armas de precisão
         espera daqui a 35 anos.   Figura 1: Número de transístores num CPU ao longo dos anos, visualização da Lei de   guiadas, os mísseis balísticos, os
                                   Moore. (http://www.intel.com/technology/mooreslaw/).
                                                                                         transístores, semicondutores, fi-
         INTRODUÇÃO                         alimentando cenários de ficção em que quase  bras ópticas, computadores, Internet, tecnologia
                                            somos ultrapassados pela tecnologia, quem não  stealth, satélites, telefones celulares, lasers, siste-
           Os desenvolvimentos em curso levam a  viu os filmes “Terminator”, “Blade Runner” ou  ma de posicionamento global (GPS),  Sistemas
         crer que a primeira metade do século XXI será  até mesmo o “I Robot”.   de Identificação por Radiofrequência (RFID) e
         marcada pela grande evolução da genética,   Vejamos alguma lógica nesta abordagem.  assim por diante. A lista das aplicações cientí-
         da nanotecnologia e da robótica, ao mesmo  Gordon Moore, um dos fundadores da Intel,  ficas e tecnologias na guerra é impressionante.
         tempo que muito terá de evoluir na criação  criou há 40 anos a famosa “Lei de Moore” se-  Cada uma dessas tecnologias teve profundo
         de energia para compensar o fim do petróleo.  gundo a qual o número de transístores num  impacto no curso da guerra e na forma como
         Quando falamos de tecnologia futura é ine-  chip, de um determinado tamanho, dobra a  se protegeram os combatentes. Estima-se que o
         vitável associar conhecimento e imaginação  cada 18 meses. Se olharmos para a figura 1  conhecimento tecnológico, desde que a huma-
         pelo que caberá a cada um fazer a melhor inter-  verificamos que caminhamos para uma pro-  nidade mantém registos até 1950, já duplicou
         pretação. Tecnologia tem actualmente muito a  gressão absurda, a tender para o infinito. As  várias vezes desde então.
         ver com capacidade de processamento, com  previsões mais optimistas dão conta que esta
         computadores, mas no futuro terá também a  progressão só poderá ser válida por mais cerca  DA INVENÇÃO À INOVAÇÃO
         ver com outros paradigmas que procurarão  de quinze anos, pelo que o limite será atingido
         imitar e ultrapassar a capacidade da mente  por volta do ano 2020. Um microprocessador   O tempo que leva desde que uma invenção
         humana. Neste artigo procurar-se-á deixar a  é uma extremamente complexa combinação  encontre uma “aplicação destruidora”, um uso
         ideia genérica de que estamos quase a mudar  de elementos muito simples, “portas lógicas”,  sem o qual não se pode mais passar, é conhe-
         de nível, em termos tecnológicos, como se de  circuitos elementares capazes de “tomar de-  cido como período da invenção à inovação.
         um jogo se tratasse.               cisões”. E as portas lógicas são materializadas  Por exemplo, as armas de precisão, introduzi-
           Há muitos cientistas que já têm uma palavra  através da combinação de transístores. Portanto,  das nos anos de 1960 (designadores a laser na
         para descrever o que vem por aí: “Singularida-  para aumentar a capacidade de processamento  Guerra do Vietname) não foram amplamente
         de”. Na base do seu pensamento está a ideia de  é necessário aumentar o número de transísto-  adoptadas até mais tarde, quando os serviços
         que as tecnologias de várias áreas evoluem cada  res dos microprocessadores (além de aumentar  noticiosos televisionaram cenas de incrível pre-
         vez mais rapidamente e concentram cada vez  sua frequência de operação). O próprio Gordon  cisão de mísseis ar-terra entrando por janelas, na
         mais funcionalidades que levam a uma rápida  Moore disse há cerca de um ano que a Lei de  Primeira Guerra do Golfo. Neste caso, o tem-
         mudança da nossa forma de vida. Temos exem-  Moore tem o fim à vista “A evolução não po-  po da invenção à inovação foi de cerca de 30
         plos bem ilustrativos desta singularidade, basta  derá continuar para sempre porque as dimen-  anos. Isto é especialmente verdadeiro no que se
         pensar nos telemóveis e nas funcionalidades  sões [dos circuitos] estão a aproximar-se do ta-  refere aos avanços em ciência básica, como a
         que eles já concentram actualmente. O termo  manho do átomo. Parece que teremos mais 15  física, química, biologia e matemática aplicada.
         “singularidade” começou a ser usado na física  a 20 anos até atingirmos os limites fundamen-  Raramente uma descoberta revela o que ela vai
         onde designa fenómenos tão extremos que as  tais do átomo.”           afectar no final. Na verdade, mesmo hoje alguns
         equações já não são capazes de descrevê-los,   Devido a esta limitação física, muitos cien-  críticos ainda lamentam toda a inutilidade gera-
         como os buracos negros, lugares de densidade  tistas têm sublinhado a inevitabilidade de se  da pelos pesquisadores.
         infinita, que levam as leis da ciência ao absurdo.  encontrarem alternativas aos transístores de   Os trabalhos de pesquisa não frutificam ra-
         A singularidade na tecnologia leva a pensar que  silício, que funcionam como uma espécie de  pidamente. O padrão é que as aplicações da
                                                                                      REVISTA DA ARMADA U JANEIRO 2007  11
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