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cebido das consequências que resultarão da, mais que previsível, am-  e continuamos a apetrechar-nos com os meios mais adequados para
         pliação da nossa Plataforma Continental.             fazer face a estas necessidades, reconhecendo o significativo esforço
           A aceitação pelas Nações Unidas da proposta de alargamento da  financeiro que tem sido feito nesse sentido, em especial nas actuais
         nossa Plataforma Continental, representará um acréscimo de cerca de  circunstâncias.
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         2 milhões de km  aos espaços marítimos sob soberania ou jurisdição   As fragatas da classe “Bartolomeu Dias”, os submarinos da classe
         nacional, acarretando para Portugal a soberania sobre uma área que  “Tridente”, os Patrulhas Oceânicos e as Lanchas de Fiscalização Costei-
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         se aproximará dos 4 milhões de Km . Para que se tenha uma ideia das  ra, cujo contrato de aquisição foi recentemente assinado, são exemplos
         dimensões deste património, a sua superfície corresponde a 40 vezes o  elucidativos deste esforço de modernização.
         território nacional e a mais de 80% da área terrestre dos 27 países mem-  Porém, a concretização do contrato de aquisição do navio “poliva-
         bros da União Europeia.                              lente logístico”, o mais conjunto de todos os meios do nosso sistema
           Os recursos hoje exploráveis, quer na Zona Económica Exclusiva quer  de forças, é um elemento essencial para assegurar a nossa capacidade
         na Plataforma Continental, constituem uma ínfima parte daquilo que  expedicionária, porque não podemos esquecer o país arquipelágico
         será possível obter no futuro, com a evolução tecnológica.     que somos, as responsabilidades que sobre nós recaem no âmbito dos
           Face ao progressivo esgotamento a nível global dos recursos em ter-  compromissos com a CPLP e o apoio às comunidades portuguesas es-
         ra, o foco das apetências virar-se-á para o mar, conferindo a Portugal  palhadas pelo Mundo.
         um elevado potencial. Há pois que acautelar este rico património que,   Igualmente, as acções de modernização das fragatas da classe “Vas-
         segundo estudos recentes, vale hoje, pelo menos, 20.000 milhões de eu-  co da Gama”, imprescindíveis, também, para melhorar a protecção
         ros por ano.                                         e adaptar os navios e helicópteros aos cenários assimétricos que hoje
           Por outro lado, o conceito alargado de segurança e a sobreposição par-  enfrentamos, e a substituição do nosso reabastecedor de esquadra são
         cial da segurança interna com a segurança externa, levam-nos a consi-  necessidades fundamentais para garantirmos a nossa capacidade de
         derar a necessidade de actuar longe das nossas fronteiras tradicionais,  projecção externa.
         como os tempos recentes têm demonstrado.              Relativamente aos fuzileiros, aguarda-se a vinda dos veículos blin-
           A segurança tem de exercer-se onde os nossos interesses estão em  dados anfíbios e ligeiros, a substituição da arma ligeira e o reforço da
         jogo. A Marinha tem respon-                                                       capacidade de vigilância e
         dido à chamada, contribuindo                                                      protecção. Estes programas
         para a segurança do mar, seja                                                     potenciarão o emprego desta
         na fronteira de proximidade,                                                      força de inequívoca qualidade
         seja onde necessário, nomea-                                                      e valia no actual ambiente es-
         damente no âmbito das alian-                                                      tratégico, pronta e disponível
         ças e no quadro multilateral.                                                     para ser empregue em quais-
           Não se trata apenas da luta                                                     quer teatros de operações in-
         contra a pirataria, muito me-                                                     ternacionais.
         diatizada nos últimos tempos,                                                        As novas ameaças fizeram
         ou das operações contra a imi-                                                    aumentar os requisitos ope-
         gração ilegal, contra o tráfico                                                    racionais ao nível do Coman-
         de droga ou mesmo das inicia-                                                     do e Controlo, o que levou à
         tivas contra a proliferação de                                                    recente criação do Centro de
         armas de destruição maciça.                                                       Operações Marítimas – CO-
         O mais importante é o nosso                                                       MAR – que assegura o apoio à
         contributo para a segurança                                                       condução de operações e exer-
         da circulação marítima, ver-                                                      cícios e à coordenação das ac-
         dadeiro oxigénio de toda a economia.                 ções no mar, desenvolvendo o conhecimento situacional do espaço de
           Sem segurança no mar, o Mundo globalizado em que vivemos e de  envolvimento marítimo em que actua.
         que dependemos não teria qualquer viabilidade.        Complementarmente, o actual ambiente estratégico determinou a
           Para responder a todos estes desafios, de transcendente importância  actuação coordenada e articulada nos espaços marítimos, envolvendo
         para o País, a Marinha adoptou um modelo capaz de satisfazer os ob-  agências e departamentos do Estado. Assim, foi em boa hora criado o
         jectivos estratégicos adequados à grande dimensão do “mar dos por-  Centro Nacional Coordenador Marítimo, visando a conjugação de es-
         tugueses”.                                           forços entre todas as entidades interessadas.
           Este modelo, com reflexo no Sistema de Forças Nacional, segue, no   Paralelamente, está em curso a reorganização da estrutura superior
         essencial, três paradigmas conceptuais: o primeiro define-se como a  da Defesa Nacional e das Forças Armadas, questão que se reveste da
         “Marinha Equilibrada”, privilegiando um conjunto variado de capaci-  maior importância e para a qual tenho procurado contribuir de forma
         dades permitindo o desempenho, com eficácia, de um largo espectro  positiva. Todos esperamos que, no decurso do processo legislativo, se
         de missões; o segundo caracteriza-se por uma “Marinha Optimizada”,  estabeleça uma estrutura estável e coerente, independente de desígnios
         visando a maior eficiência da organização e da articulação de meios; e  circunstanciais, em prol de umas Forças Armadas modernas que sirvam
         o terceiro, identifica-se como uma “Marinha de Duplo Uso”, por assu-  adequadamente Portugal.
         mir a função militar e de apoio à política externa em simultâneo com a   A natureza e a diversidade das funções desenvolvidas pela Marinha,
         segurança e autoridade do Estado no mar.             num quadro de constante evolução tecnológica e de inter-relação com
           Na linha da tradição naval portuguesa, este sistema valoriza uma ló-  envolventes externas muito ágeis, exigem o alinhamento da nossa es-
         gica funcional de integração e de complementaridade de capacidades,  trutura orgânica. Optámos pelo produto operacional, promovendo uma
         promovendo a economia de esforços e o aproveitamento de sinergias.   estrutura coerente, articulada e flexível que facilite a colaboração com
           Mas, sem um quantitativo de meios navais razoável e moderno, não  os diversos actores presentes no mar e que, por outro lado, se ajuste ao
         será possível cumprir adequadamente as missões que nos competem.  novo enquadramento institucional ao nível político-militar.
           A história ensina que nas áreas de interesse directo dos Estados, os   Assim, na estrutura operacional, vão ser agregados, como a experiência
         vazios da sua presença tendem a ser preenchidos por outros. Esta regra  de muitos anos vem aconselhando, os elementos da componente opera-
         é também aplicável à exploração dos recursos, pelo que não basta tê-los,  cional do sistema de forças e outros órgãos relevantes para o cumprimen-
         é preciso defendê-los e preservá-los para deles poder usufruir.   to das missões. Relevância especial será dada à gestão de informação e ao
           A Marinha tem o seu planeamento de forças de longo prazo bem  reforço da função de controlo e inspecção interna no sentido de maximi-
         estruturado, como é exigível, e as aquisições previstas constituem  zar a rentabilização dos recursos colocados à nossa disposição.
         passos significativos para a sua modernização. Estamos preparados   Considero fundamental, hoje mais do que nunca, investir nos meios

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