Page 189 - Revista da Armada
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navais e nas capacidades. Mas não basta investir! Há que garantir a ma-  Aproveito a oportunidade para anunciar, com muito gosto, que um
         nutenção dos meios existentes.                       dos futuros patrulhas oceânicos será baptizado com o nome de “RIA
           Nesse âmbito, a empresarialização do Arsenal do Alfeite tem mere-  DE AVEIRO”, como sinal simbólico de respeito e homenagem pelas
         cido da Marinha uma posição de cooperação franca e aberta, norteada  gentes desta região, que sempre viveram para o mar e que prestigiam
         por um conjunto de princípios que visam a manutenção das competên-  e acarinham a sua Marinha.
         cias críticas e a prerrogativa de fixar prioridades na manutenção da es-
         quadra, em sintonia com a exigência das suas missões. Temos interesses   Senhor Ministro da Defesa Nacional,
         coincidentes. Se é certo que o Arsenal não seria viável sem a Marinha,   O passado e o presente são referências incontornáveis da nossa refle-
         não será menos certo que do bom funcionamento do Arsenal depende,  xão, mas é no futuro que se centram as principais preocupações.
         em boa parte, a capacidade da Marinha cumprir a sua missão.  Dos vários e complexos enquadramentos que já mencionei, há um
                                                              que merece a maior ponderação pelos reflexos que terá no nosso País,
           Ilustres convidados, Minhas Senhoras e Meus Senhores,  em muitos domínios.
           Permitam-me que me dirija agora aos Militares, Militarizados e   A confirmar-se o reconhecimento do alargamento da plataforma
         Civis da Marinha.                                    continental, como todos esperamos, aumentará quase para o dobro a
           A qualificação e a motivação de todos quantos servem a Marinha cons-  dimensão do que podemos chamar “o nosso território submerso”. De
         tituem factores decisivos para o desempenho das missões.   facto, passamos a exercer a soberania, para efeitos da exploração de
           Orgulhamo-nos de possuir recursos humanos de elevadíssima qua-  todos os recursos existentes no subsolo marítimo, numa área que se
         lidade, que são a nossa principal riqueza. Conheço as suas expectativas  aproximará dos 4 milhões de Km , conforme atrás referi.
                                                                                      2
         e continuarei, como sempre, a exercer o irrecusável dever de tutela, no   Assim, temos que nos preparar, desde já, para assumir esta res-
         sentido da equidade em relação a outros corpos do Estado, reafirmando  ponsabilidade, que corresponderá, agora por razões diferentes, a um
         a especifidade da condição militar e o reconhecimento particular dos que  acontecimento só comparável na nossa história à fase inicial da ex-
         cumprem missões de especial exigência, designadamente no mar.      pansão marítima.
           Continuamos a oferecer aos jovens uma carreira diversificada, estável   Muito justamente, foram criadas estruturas visando uma maior
         e cheia de oportunidades, onde                                                    ambição da política marítima
         transmitimos conhecimento,                                                        portuguesa. Contudo, as ten-
         experiência e o melhor sentido                                                    dências modernas do mundo
         da disciplina e dos valores tra-                                                  globalizado consideram in-
         dicionais da Marinha.                                                             separável a política marítima
           Neste dia saúdo, especial-                                                      da estratégia naval. Em conse-
         mente, aqueles que se encon-                                                      quência, haverá que repensar
         tram no cumprimento das                                                           a dimensão da Marinha face
         suas missões no mar, no âm-                                                       a esta nova realidade. Parece
         bito nacional e no aliado, no-                                                    evidente que o planeamento
         meadamente no Afeganistão                                                         de médio e longo prazo terá
         e na Força Naval Permanente                                                       que ser reavaliado, uma vez
         da NATO cujo comando cou-                                                         que se antevêem interesses
         be novamente a Portugal, fruto                                                    com uma abrangência não
         das provas dadas pela Marinha                                                     prevista nos nossos objectivos
         que têm merecido justo reco-                                                      estratégicos actuais.
         nhecimento internacional.                                                          Por outro lado, a bem de
                                                                                           uma verdadeira economia de
           Senhor Ministro, distintos convidados.             segurança interessará, mais do que nunca, investir na agregação de fun-
           O lugar da Marinha é no mar! Em 2008 fizemos muito.   ções e aproveitamento de sinergias, evitando os desperdícios inerentes
           Os navios, as unidades de fuzileiros e de mergulhadores, a polícia  à dispersão de estruturas vocacionadas para a segurança no mar, espe-
         marítima e os restantes meios da autoridade marítima são diariamen-  cialmente quando os recursos financeiros não abundam.
         te empregues em missões ao serviço de Portugal, numa actividade de    “Nas coisas do mar” não se pode actuar aleatoriamente e as Mari-
         que nos orgulhamos. É um orgulho que resulta do trabalho de todos -  nhas não se improvisam, antes requerem planeamentos de longo pra-
         militares, militarizados e civis - e que o Comandante da Marinha quer  zo, constantemente actualizados.
         com todos partilhar.                                  É verdade que neste aspecto temos progredido muito a nível nacio-
           Em 2008 garantimos diariamente 14 navios com missão atribuída e  nal e recuperado algum tempo perdido, mas julgo imperativo acele-
         navegámos cerca de 41 mil horas. Vistoriámos cerca de 10.000 embarca-  rar o ritmo das realizações, se quisermos estar à altura de enfrentar os
         ções. Nos 892 processos de busca e salvamento no mar, foram salvas 707  desafios que se perfilam no horizonte.
         pessoas, representando uma taxa de sucesso de 97%, ao nível do melhor   Tenho a perfeita noção de que estas questões são iminentemente po-
         que se faz no mundo. Relevo, também, as acções levadas a cabo no com-  líticas, pelo que a Marinha estará sempre pronta a colaborar, com leal-
         bate à poluição do meio marinho e na repressão de actos ilícitos no mar  dade e entusiasmo, na procura das melhores soluções.
         e no Domínio Público Marítimo, bem visíveis na apreensão de grandes   Como militares e marinheiros estamos habituados a sacrifícios, à
         quantidades de estupefacientes e na cooperação fora de fronteiras.  subordinação dos interesses individuais aos colectivos, a uma for-
           No domínio do conhecimento e investigação do mar, a Marinha tem  te solidariedade perante as adversidades e a não regatear esforços
         estado empenhada em projectos fundamentais para o País. Para além da  pelo País.
         participação decisiva no processo de extensão da plataforma continental,   Consciente das condicionantes, mas confiante nas capacidades das
         que contou com o apoio e esforço assinalável dos navios hidrográficos,  mulheres e dos homens que comando, manifesto a V. Ex.ª o firme
         num total de 850 dias no mar, o Instituto Hidrográfico está empenhado  propósito da Marinha continuar a honrar Portugal no Mar, na cer-
         na definição de rotas seguras para acesso aos principais portos nacio-  teza que sabendo onde estamos, e para onde queremos ir, teremos
         nais, na participação no sistema de monitorização ambiental para a ZEE  o rasgo de reconhecer que os rumos mais fáceis, são sempre os mais
         e na construção de uma infra-estrutura nacional de dados do ambiente  cómodos, nas nem sempre são os que melhor servem os portugue-
         marítimo, entre muitos outros projectos.             ses e a sua Marinha.
           São elementos importantes que nos deixam orgulhosos. Mas queremos                                   Z
         fazer mais. Daí a importância do aumento ao efectivo dos novos patrulhas             Fernando de Melo Gomes
         e lanchas de fiscalização costeira, com a maior brevidade possível.                               Almirante
                                                                                        REVISTA DA ARMADA U JUNHO 2009  7
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