Page 260 - Revista da Armada
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O N.R.P. “Corte-Real” na Standing Nato
          O N.R.P. “Corte-Real” na Standing Nato

                                      Maritime Group 1
                                      Maritime Group 1


                                          Na Zona de Acção 4 …                                       6ª PARTE

              pós a passagem da Linha do Equador,  assolando este país, em guerra civil há cerca  manecem a bordo em difíceis condições
              no dia 31 de Maio, a fragata “Corte-  de vinte anos, considerado neste momento,  de vida, desnutridas e psicologicamente
         A-Real”, em trânsito para sul, atracou  a nível internacional, como o mais perigoso  abaladas, a aguardarem, com desespero, o
         no dia 2 de Junho no porto de Mombaça,  do mundo. Face a este cenário de profun-  dia da sua libertação! “Esta foi a pior expe-
         Quénia. Eram 0940h locais quando lançan-  da crise humanitária, a WFP vem respon-  riência da minha vida. Nunca vi nada assim!
         tes, regeiras e contra-regeiras alcançaram  dendo através do envio de ajuda alimen-  Não sei como ainda estou vivo”, dizia o co-
         terra no maior porto de África                                                  mandante do navio “Yenegoa
         Oriental, antigo território por-                                                Ocean”, recentemente liber-
         tuguês durante o séc. XVII. A                                                   tado, após ter recebido apoio
         estadia da “Corte-Rea l” neste                                                  do navio da SNMG1, HNLMS
         porto no hemisfério sul pos-                                                    “De Zeven Provincien”.
         sibilitou o descanso da guar-                                                     Nessa navegação rumo a
         nição e proporcionou um                                                         norte, durante a manhã do dia
         conhecimento mais pormeno-                                                      13 de Junho, pouco tempo de-
         rizado das exóticas paisagens                                                   pois do final de uma operação
         africanas, incluindo a reali-                                                   de reabastecimento de com-
         zação de um safari, aventura                                                    bustível no mar entre a “Cor-
         inédita e única para muitos                                                     te-Real” e o reabastecedor ale-
         dos marinheiros portugueses.                                                    mão FGS “Berlin”, os sensores
         No dia da largada, foi ao NRP                                                   da fragata portuguesa detecta-
         ”Corte-Real” atribuída a nobre                                                  ram uma Dhow de carga que
         tarefa de escoltar dois navios                                                  pelo seu comportamento le-
         da UN WFP (United Nations                                                       vantou suspeitas. Encontrava-
         World Food Program).      Vigia atento ao MV “Bright Star” durante a escolta dos navios do WFP até Mogadíscio.   -se a cerca de 20 milhas da
           A fragata portuguesa integrada na ope-  tar, 95 por cento da qual transportada por  costa da Somália, num mar deserto, sem se-
         ração Allied Protector da NATO, largou na  via marítima.              guimento, ao sabor da forte corrente e des-
         chuvosa tarde do dia 5 de Junho e aguar-  No final da tarde do dia 10 de Junho, a  concertante ondulação, numa zona onde
         dou ao largo de Mombaça pela chegada dos  fragata “Corte-Real” iniciou o trânsito para  a Monção é rainha até Outubro. Após inú-
         navios contratados pela UN WFP. Entre 6 e  norte, a apenas algumas milhas da costa da  meras tentativas, sem sucesso, para entrar
         10 de Junho, efectuou a escolta aos navios  Somália, em missão de reconhecimento e  em contacto via rádio com esta embarcação
         mercantes “Marwan H” e “Bright Star”, que  recolha de informação. Durante sete dias,  típica do Índico, a semi-rígida da “Corte-
         haviam largado, respectivamente, dos por-  a “Corte-Real” e o seu helicóptero, Daxter,  -Rea l”, foi lançada à água. Cautelosamente,
         tos de Mombaça, no Quénia, e de Dar Es  compilaram várias centenas de fotografias  e com a cobertura do seu navio-mãe, diri-
         Salaam, na Tanzânia, com destino ao pe-  que, após árduo e minucioso trabalho, per-  giu-se com a equipa de segurança compos-
         rigoso porto de Mogadíscio,                                                     ta por Fuzileiros, em direcção
         na Somália. A tarefa atribuída                                                  à Dhow que, repentinamente,
         tinha implícita a necessidade                                                   pareceu acordar do desespero
         de proteger ambos os navios                                                     dos últimos dias! Elementos
         mercantes, nas ameaçadoras                                                      da tripulação saltaram para o
         águas que banham a costa                                                        convés e, com furor, agitaram
         Leste da Somália, de possí-                                                     os braços, em sinal de eviden-
         veis ataques de piratas até à                                                   te pedido de auxílio aos por-
         sua chegada, em segurança,                                                      tugueses. A Dhow de nome
         a Mogadíscio. O Hand-over                                                       “Vishvakalyan”, de pavilhão
         dos MV’s “Marwan H” e “Bri-                                                     indiano, encontrava-se no
         ght Star” para a WFP Organi-                                                    mar, à deriva, após dez dias de
         zation, deu-se durante a tarde                                                  sequestro por piratas Somalis.
         do dia 10 de Junho, com os                                                      Libertada há três dias, a tripu-
         navios fundeados à entrada do                                                   lação constituída por catorze
         porto de Mogadíscio, de forma                                                   marinheiros de nacionalidade
         a poderem descarregar, em se-                                                   Indiana, encontrava-se sem
         gurança, a sua valiosa carga.  “Corte-Real” e a Dhow Indiana.                   combustível, sem comunica-
           A ajuda alimentar transportada pelos na-  mitiu disponibilizar à NATO informações  ções rádio, sem alimentos e praticamente
         vios mercantes, destina-se a uma popula-  preciosas, para serem usadas no combate  sem água potável, queixando-se de dores
         ção de cerca de 3,2 milhões de Somalis,  à pirataria. Neste reconhecimento, foram  no corpo devido a maus tratos físicos infli-
         carenciados e a necessitarem de urgente  positivamente identificados quatro navios  gidos pelos piratas que, cumulativamente,
         apoio humanitário, muitos deles em fuga  alvo de sequestro, neste momento ainda  haviam roubado todos os seus pertences e
         para campos apinhados de refugiados, que  sob controlo dos piratas Somalis, a aguar-  partiram, deixando-os à mercê da sua sorte.
         se vêm concentrando junto à fronteira com  dar resgates de avultadíssimas quantias de  E foi efectivamente muita sorte terem sido
         o Quénia e a Etiópia. A fome e a morte vêm  dinheiro. As tripulações, regra geral, per-  encontrados!

         6  AGOSTO 2009 U REVISTA DA ARMADA
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