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Exercício CONTEX – PHIBEX 0109
               Exercício CONTEX – PHIBEX 0109

               uando se faz uma apresentação oral  nização interna, encontrar a melhor manei-  enabler, reforçando as restantes capacidades
               existem algumas técnicas para cap-  ra de explorar determinados equipamentos,  através de um melhor conhecimento sobre
         Qtar a atenção da audiência: introdu-  definir os requisitos de formação do pessoal,  todas as condicionantes que caracterizam
         zir o tema através de um filme com imagens  exercitar as perícias individuais, e orientar o  uma determinada área de operações (aspec-
         apelativas (ou mesmo chocantes); contar uma  treino em força-naval, para que melhor se  tos políticos e sociais, comportamento dos
         história engraçada; falar de algo estranho ao  materializem as capacidades de que preci-  actores, factores ambientais, meteorológi-
         tema proposto, etc. Qualquer destas opções  samos. Esta é a nossa peça de base.  cos e físicos, etc.). Se esta sistematização nos
         focará os ouvintes no orador, despertando-  Já as competências em áreas específicas  ajuda no plano da execução, é tão ou mais
         -lhes a curiosidade para o que se                                             importante numa perspectiva mais
         seguirá. Já num texto escrito, en-                                     Fig. 1  lata, ao nível dos conceitos, por
         contrar uma solução desta natu-                                               nos permitir identificar o contex-
         reza é bastante mais complicado,                                              to em que vamos operar: no caso
         o que se torna tanto mais sensí-                                              em apreço, o conceito de empre-
         vel quando se sabe que é nos pri-                                             go foi desenvolvido tendo em vis-
         meiros parágrafos que um leitor                                               ta as missões ou tarefas em águas
         se decide por continuar a leitura,                                            litorais e as operações de apoio
         ficar-se apenas pela apreciação                                               marítimo (Maritime Support Ope-
         das imagens (quando as há!), ou                                               rations – MSO), compreendendo a
         avançar directamente para outro                                               protecção da navegação mercante
         escrito.                                                                      e/ou de portos, a interdição e/ou o
           Ao olhar para a imagem inicial                                              garante do acesso a portos, a assis-
         (figura 1.), perguntar-se-á, porven-                                           tência humanitária, etc.
         tura, o leitor, o que têm peças de                                              O segundo vector relaciona-se
         “LEGO” em comum com o CON-                                                    com o que, no plano da estratégia
         TEX / PHIBEX (tema do artigo)?                                                da Marinha, se conhece como o
         Nada de facto! Todavia, o que aqui                                            “paradigma operacional”: indica-
         lhe proponho é não só falar do exercício,  – como o Boarding, o Comando e Controlo  -nos como correlacionar e empregar os di-
         mas fazer o balanço do que foi o ano ope-  (C2), o RAS, a Force Protection, etc. –, ou a  ferentes meios, unidades e capacidades, no
         racional no que respeita ao treino da Força  proficiência nas disciplinas tradicionais da  sentido de se optimizarem os produtos da
         Naval Permanente (PO TG) e, nesse contex-  guerra no mar – anti-submarina (ASW), anti-  sua acção. A ele está intimamente relacio-
         to, apresentar a metodologia que procurou  superfície (ASUW) e anti-aérea (AAW)  – são  nado o conceito de “Marinha de duplo uso”
                                                                        1
         garantir que tal treino se desenvolvesse de  os requisitos modelo, sendo objecto de uma  que assenta numa estrutura organizativa, de
         forma sustentada e estruturada. Sustentada,  caracterização que nos permite definir os  formação, e de apoio logístico comuns, bem
         na medida em que se apoia em definições  padrões de referência para cada tipo de na-  como na flexibilidade de emprego devido à
         objectivas; estruturada, porque se desenvol-  vio, bem como as metas para o treino. São  polivalência das unidades navais, de fuzilei-
         ve para responder a necessidades concretas  as nossas “peças padrão”.  ros e dos destacamentos de mergulhadores .
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         e para atingir determinadas metas.   Antes de continuar, e porque mencionei a  Deste paradigma retiramos como melhor in-
           Se o leitor pensar agora no                                                 tegrar os diferentes tipos de navios
         LEGO, e se se propuser construir                                              numa força naval, e como melhor
         uma “parede” sólida, chegará à                                                adaptar as suas capacidades aos
         conclusão de que a lógica a se-                                               requisitos de cada missão.
         guir, é exactamente a mesma: co-                                                Quando conduzimos um exer-
         loca a peça maior na base (se a                                               cício, procuramos articular os di-
         deixar para o topo, e lhe faltarem                                            ferentes meios para que, no con-
         peças no meio, a estrutura corre o                                            texto de uma situação imaginada
         risco de não se equilibrar ou po-                                             com base no que poderá ocorrer
         derá “implodir”), e vai colocan-                                              na realidade (cenário), se encon-
         do as peças seguintes de forma a                                              tre a solução para um determina-
         só avançar para o próximo nível                                               do número de desafios, ou seja, se
         quando o anterior estiver com-                                                atinja um conjunto de objectivos
         pleto (utilizando, quando for caso                                            de natureza operacional. Estes se-
         disso, vários tamanhos, para que,                                             rão mais ou menos adequados ou
         ao agrupar peças mais pequenas,                                               ambiciosos, conforme a capaci-
         possa obter o tamanho padrão da                                        Fig. 2  dade de cada unidade para con-
         sua estrutura).                                                               tribuir com o produto operacional
           Já aqui falámos (relembro o artigo sobre  questão do “conceito de emprego”, o verda-  que dela se espera, sendo que tal desígnio se
                                                                         2
         o INSTREX 0109) sobre a importância de  deiro alicerce na metodologia de treino , im-  relaciona, obviamente, com o nível de treino
         subordinarmos a nossa acção no mar a um  porta salientar que existem dois grandes vec-  e com a mestria das respectivas guarnições.
         “conceito de emprego”. Elaborou-se, na al-  tores que contribuem para a sua definição. O  Para isso, é fundamental que se consigam
         tura sobre a forma como esse conceito se de-  primeiro, relaciona-se com a noção de Ma-  quantificar e medir os desempenhos, com-
         senvolve e sobre o contributo de cada tipo de  ritime Situation Awareness (MSA), expressão  parando-os com as metas que se pretendem
         navio para um todo coerente (figura 2.). Aten-  que traduz a necessidade de se manter um  alcançar (igualmente caracterizadas segundo
         te o leitor, que a definição deste conceito nos  profundo conhecimento sobre o ambiente  variáveis que sejam mensuráveis). Este é ou-
         permite identificar o que os navios precisam  marítimo que nos rodeia. Na “gíria” das ope-  tro dos aspectos fundamentais da nossa me-
         de “saber fazer”, e, assim, ajustar a sua orga-  rações o MSA é o que se designa por um force  todologia (medir para analisar).

         8  AGOSTO 2009 U REVISTA DA ARMADA
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