Page 386 - Revista da Armada
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(para que se saiba, sujeitos a revista ale- privilégio de, estranha contradição, saírem nesse Dia!), mas que lhe empreste um ca-
atória!) como sempre irrepreensivelmente à… paisana. risma que aglutine todas as classes e perdu-
arrumadas e limpas, daqui a pouco serão Não dando imagem de si, dos valores re, enquanto tal, tanto nas memórias como
revolvidas antes de regressarem ao seu es- que vão descobrindo, não emprestam a nos corações de muitos que por lá vierem
tado habitual. sua imagem à Armada que os acolhe, nem a passar, mesmo que só como responsáveis,
É que amanhã é feriado e portanto são permitem que ela lhes devolva, com outra como vive em tantos testemunhos que, de
horas de se prepararem para sair e isso sig- força, a imagem que se fica a dever ao seu cabelos grisalhos, nos chegam…
nifica descançar de tanto trabalho, de tanta carácter, à sua competência, ao seu profis- Z
disciplina, de tanto tudo e de se entregarem sionalismo e ao seu brio de marinheiros- Dr. Rui Manuel Ramalho Ortigão Neves
aos pequenos nadas, a que nunca tinham -militares, num processo degenerativo de 1TEN
dado valor, ou mesmo deixarem-se “estra- crescente auto-apagamento mútuo. Volun- Notas
gar” com os, eternamente recordados, mi- tariamente, claro! 1 Era Dia de Revista, servia-se arroz doce e nas câ-
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mos caseiros (por vezes tão longe ), sobre- Não foi assim, para gerações e gerações de maras de oficiais, vinho do Porto. Actualmente é tam-
tudo os maternos . praças, sargentos e oficiais, a saudosa Esco- bém conhecido por dia dos “três Bs”, Batata (frita), Bife
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e Bolo ou, ainda, por “Dia do Grumete”!
Vimo-los chegar, depois de, no gabinete la que, dos anos vinte até 1993, os acolhe- 2 A circulação dos peões, na idade média era pela
do Sargento Formador de Serviço ao Bata- ra em Vila Franca de Xira, aí voluntários ou esquerda, encostados à parede já que se empunha a
lhão de Instrução, um a um ou um por al- obrigados pelo Dever de Servir a Pátria, que espada com a mão direita. Daí a circulação ser ainda
guns, trocarem, pelas Credenciais de Identi- os introduzia (a outra porta é a Escola Naval) pela esquerda no Reino Unido e outros.
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Ainda na rica Gíria Naval – Património Imaterial
dade, as chapas azuis que traziam ao ombro, nesta vida de marinheiros, onde o brio de – duma mentira evidente, só tolerável num jovem, di-
penduradas na platina esquerda, mais sisu- cada um se exponenciava na Briosa. zia-se, com despreso mas talvez injustamente, que era
dos do que esperávamos, de branco, impe- Recordo, comandando um pelotão, na- uma “mentira de grumete”!....
4 A maioria dos países do Velho Mundo cumpre
cavelmente uniformizados, e empuhando quele sempre memorável dia em que se as-
os sacos azuis onde levarão o suor duma sume um compromisso que nos transcende essa tradição.
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Em França os militares, se fardados, conduzem os
semana e trarão, entre o cheiro a alfazema, - o de jurar defender a Bandeira sob a qual seus carros pessoais com o boné posto!
os possíveis pequenos tudo que suavizarão somos o que mais ninguém pode ser – que, 6 O secular lambaz usado nos navios só apareceu
os momentos mais difíceis. terminada a cerimónia, me virei para eles, na vida doméstica nos finais dos anos sessenta sob o
Dentro de dias, vencidos desafios que quase todos da minha idade, e lhes desejei prosaico nome de… esfregona.
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Das 00.00 às 04.00.
nunca terão pensado ser sequer capazes de as maiores felicidades, melhor que no seu 8 Na Península Ibérica prevalece a designação AR-
aceitar e ainda menos de enfrentar, para sua garboso porte, foi nos seus olhos que tam- MADA para o conjunto dos navios da Marinha de
auto-estima e orgulho da família e amigos, bém o li. Só por isso essa fugaz partilha se Guerra, suas Unidades, Serviços e todo o pessoal, mi-
jurarão, peito feito, Bandeira, ritual que a to- não apagou da nossa memória. litar, militarizado e civil que nela serve. Com a mes-
dos nos comoverá… É como a recordam, para além do Servi- ma raíz, ARMY e ARMÉE, são em Inglês e Francês o
Exército que em Castelhano é o Ejercito. Marinha é o
A assunção de Pertença a uma comunida- ço Militar, no que era e, afinal, continua a conjunto de todos os navios e embarcações dum Es-
de cimentada por uma Língua, culturalmen- ser um rito de passagem à vida adulta, nas tado. A Armada o seu Braço armado.
te secular, que excede as nossas fronteiras, fotografias de grupo, com as famílias, os 9 Terço da Armada da Coroa de Portugal, a mais an-
que estabelece identidades históricas com amigos e os ”filhos da Escola”, sob o arco tiga Força Militar constituída com carácter permanen-
te em Portugal, data de 1621 embora a existência de
Portugueses fora delas e com os seus Luso- da entrada da «ESCOLA DE ALUNOS MA- Fuzileiros remonte a 1585 quando se estabeleceram
-descendentes e ainda as doutros Povos que RINHEIROS» de que se despediam. núcleos de adestramento das guarnições das naus da
a adoptaram como sua, um Sentimento que, Àquela efémera e incaracterística compa- Índia para o manejo da artilharia e da fuzilaria. O ac-
hoje, muitos Portugueses nunca conhecerão nhia da Escola de Fuzileiros, CFBP, Grupo tual Corpo de Fuzileiros tem nele a sua fundação sen-
embora lhes (ou se) digam serem Europeus «Charlie» ou o que seja, àquela caserna, do, assim, os Fuzileiros os seus legítimos herdeiros,
em Portugal e no Brasil.
numa Europa de que na verdade mal conhe- àquelas camaratas, àquela ala das aulas, 10 Os “asilantes” de fim de semana eram mais co-
cem o… mapa. apesar da excelência de tudo e sem nada muns quando de Lisboa a Bragança se levava dois dias!
Na mesma formatura de Licenças, um pe- de fundamental alterar, falta no entanto o E o pré mais… magro.
11 Em acidentes aéreos fatais tem-se verificado, nos
lotão dos que agora orgulhosa e ainda mais ser uma individualizada «Escola dos Alu- EUA, que o último grito registado, independentemente
tenazmente lutam pela honra de receberem nos Marinheiros» da Armada, com guião e da idade, é invariavelmnte ”mummy!”; “mãezinha!”
a bóina de Fuzileiro, é-lhes concedido o bandeira próprios (nem que seja por um dia, ou “mamã!”
VIGIA DA HISTÓRIA 16
Pesca do Bacalhau
Pesca do Bacalhau
uando se aborda o tema da pesca do bacalhau, levada a -lhe o direito a cobrar as dízimas nova e velha do pescado na ci-
cabo pelos portugueses na Terra Nova, é habitual encon- dade de Lisboa.
Qtrar-se a referência de que terá tido início imediatamente Alguns anos depois, na sequência do litígio entre a Coroa e o
após as viagens dos irmãos Corte Real, o que pode caracterizar Duque quanto ao direito a cobrar a dízima da pesca do bacalhau,
um período relativamente dilatado para o acontecimento. foi proferida sentença a favor da Coroa com o fundamento de
Estou em crer que é possível situar o início de tal actividade nos que, à data da concessão, Agosto de 1499, ainda não era achada
primeiros anos do séc. XVI e isto porque já em 1506, D. Manuel a Terra Nova e a pescaria dos bacalhaus.
estabelecia a cobrança do dízimo da pesca do bacalhau. A inexistência de contestação da sentença por parte do Duque
Quanto ao limite anterior, a sentença, proferida em Julho de de Bragança, num assunto que envolvia largos proventos, cons-
1540, contra o Duque de Bragança vem permitir, sem margem titui, a meu ver, prova da veracidade do que nela se afirma.
para dúvidas, estabelecer a data, a partir da qual teria tido iní- Z
cio a actividade. Com. E. Gomes
Em Agosto de 1499 o Rei, em satisfação dos direitos das judia- Fonte:
rias e mourarias que o Duque de Bragança detinha, concedeu- T. Tombo Gaveta X-10-12
24 DEZEMBRO 2009 U REVISTA DA ARMADA