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50º Aniversário do Curso D. João I
                 50º Aniversário do Curso D. João I

              udo começou em 1959, quando ain-  Pereira. Momento de respeito e de honra aos  vemos acesso aos registos da nossa passa-
              da jovens, oriundos das mais diversas  que não queriamos esquecer perante uma as-  gem pela EN.
         Tpartes do solo nacional, concorremos  sistência que irradiava um misto de alegria e   O tempo parecia escoar-se e minutos de-
         à Escola Naval (EN), onde nos apresentá-  tristeza. Foi um momento alto desse dia pelas  pois estavamos frente à parada com os ca-
         mos, sem vacilação, com ideias firmes e de-  palavras que foram ditas.  detes formados. Tinhamos assumido a atitu-
         terminados a encetar essa carreira que cada   Terminado o acto evocativo seguiram todos  de formal e militar que o momento exigia e
         um escolhera.                      para a EN, onde as cerimónias assumiram um  com a curiosidade de ouvirmos as palavras
           Volvidos 50 anos regressámos ao pon-  carácter bastante diferente. Cumprimentos  do nosso Chefe de Curso dirigidas a esses jo-
         to de partida, mas agora com sentimentos  formais ao Comandante da Escola-Mãe de  vens perfilados, que nos fizeram recordar o
         diferentes, onde um misto de nostalgia e  todos nós. O evento foi engrandecido com a  tempo passado. Na sua dissertação afirmou
         saudade combinava com a noção do dever  oferta ao CALM Luís Fragoso de um exem-  em certa altura:
         cumprido.                          plar do “Livro” e da “Medalha” do “DJ”. Sob   “... Adquirimos aqui os pilares da nossa sabedo-
           As comemorações foram assinaladas  o seu  olhar de satisfação assinámos o “Livro  ria: Cultura naval e a sua matriz de principios, va-
         por duas ocasiões, ambas com significado  de Honra”.                   lores e atitudes, competência técnica, espírito de cor-
         próprio.                                                                       po, capacidade de liderança e atitude de
           A primeira delas foi determi-                                                abertura aos outros e ao mundo.”
         nante para o curso “D. João I”,                                                 Pelo seu significado transcreve-
         pela convicção íntima dos seus                                                Foto 1SAR FZ Pereira  mos as palavras do nosso Cte. de
         membros de se proceder a um                                                    Companhia, o CTEN Saturnino
         acto de alto significado como foi                                               Monteiro, retiradas para o mo-
         a “Romagem ao Túmulo e Home-                                                   mento do nosso Livro de Curso:
         nagem a El-Rei D. João I”, nosso                                                “O vosso curso fez parte da gera-
         patrono.                                                                       ção dos que saíram directamente da
           A segunda não fugiu ao padrão                                                Escola Naval para a Guerra.
         de outros cursos e constou:                                                     Foi uma passagem abrupta da
           - dos Cumprimentos ao Chefe                                                  “Instrução Primária” para o “dou-
         do Estado Maior da Armada;                                                     toramento”, prova essa que todos vós
           - da Memória e Acção de Graças                                               haveis ultrapassado com distinção,
         realizada na Capela do Alfeite;                                                sobretudo porque se tratava duma
           - da Confraternização na EN;                                                 guerra para a qual não vos havia
           - do Jantar com as famílias no                                               sido fornecida qualquer preparação
         Farol da Guia.                                                                 específica, uma guerra estranha, com
           No dia 1 de Outubro, uma re-                                                 objectivos mal definidos e em que não
         presentação do curso “D. João I”,                                              se sabia bem quem era o inimigo nem
         apresentou cumprimentos ao                                                     onde estava.”
         ALM Melo Gomes. Na oportu-                                                      Seguiu-se o desfile garboso
         nidade para além dos agradeci-                                                 dos cadetes (incluindo rapari-
         mentos pelos apoios concedidos,                                                gas, que no nosso tempo não
         foram  oferecidos um exemplar                                                  existiam). Dirigimo-nos a seguir
         do “Livro do Curso” e uma “Me-                                                 para a Sala Macau, onde nos foi
         dalha Comemorativa”. Foi tam-                                                  oferecido um “Porto de Honra”,
         bém afirmado que haveria dis-                                                   antecipando o almoço, na Cama-
         ponibilidade e abertura por parte                                              rinha do Comandante, no edifí-
         dos membros do curso, para con-                                                cio do refeitório. Tudo gentileza
         tinuarem a dar o seu apoio à Ins-                                              e amabilidade do Cte. da EN,
         tituição e contribuirem com o seu                                              que nos acompanhou, durante
         conhecimento e experiência para                                                toda a visita.
         o engrandecimento e bom nome                                                    Foi mais um momento de
         da Marinha.                          Do silêncio e introspecção observados ins-  convívio dos 35 ex-cadetes presentes, dos
           No dia seguinte, ocorreram, as cerimónias  tantes antes passou-se para o bulício e irre-  5 ex-professores e do Manuel Melo Cunha,
         desse memorável e incontornável dia de re-  verência dos encontros pessoais, suportados  membro honorário do curso. Aos seis foram
         cordações, sentimentos e unidade.   pelas trocas de experiências vividas e/ou re-  oferecidos “Livros do Curso”.
           Tudo começou junto à Capela onde foi es-  miniscências do passado. Foi uma transfigu-  As celebrações continuaram, com um jan-
         tabelecido o ponto de concentração daqueles  ração dos presentes.     tar no Farol da Guia num contexto mais ín-
         que se dispuzeram e puderam estar presen-  Seguiram-se a Fotografia de Grupo e o des-  timo, com a presença das mulheres e outros
         tes. Vimos naqueles que não se reviam há  cerrar da Placa, dois momentos a perpetuar  familiares próximos. Houve mais brindes e
         muito tempo, a alegria e a satisfação estam-  a nossa passagem na EN. Os falecidos mais  discursos louvando todos pelo seu espírito
         pada nos seus rostos emocionados pelo en-  uma vez foram evocados, como queridos fa-  colaborante e participativo, certamente dan-
         contro, enquanto que os outros na paz dos  miliares deixados no silêncio dos tempos, mas  do o adequado enfoco aos que mais envolvi-
         seus sentimentos ferviam na excitação do  ligados aos vivos pelos elos da eternididade,  mento tiveram na organização da efeméride
         que estava para acontecer. Na igreja o ritual  materializados na Placa, como reafirmando  assim como às suas mulheres que sacrifica-
         da Missa  foi valorizado pela evocação dos ca-  que a “Agora a vigília é nossa”.  ram o seu bem-estar e sossego.
         maradas falecidos – Ricardo Gonçalves, Go-  Depois foi a visita ao Museu da EN, onde   Foi um dia bem vivido e aproveitado por
         mes Ramos, Dias Souto, Teixeira Pinto, Faus-  se encontravam preservados e estimados  todos com a triste mágoa de ter sido fugaz.
         to Monteiro, João Silva Dias, Guerra da Mata,  os valores da história da Escola. Ainda vi-            Z
         Melo Cunha, Pericão de Almeida e Guerreiro  sitámos a Sala da Reserva Naval, onde ti-  (Colaboração do CURSO D. JOÃO I)
                                                                                    REVISTA DA ARMADA U DEZEMBRO 2009  25
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