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BENQUERENÇA
                                       BENQUERENÇA

                                             Terra de Marinheiros

               a Marinha ouve-se falar da Benque-  Gil, que viria a ser responsável pela minha  Benqueridos à Marinha.
               rença com alguma frequência, por  vinda para a Marinha, bem como a de mui-  Alguns só cumpriram o serviço militar
         Nserem muitos os marinheiros que lá  tos outros rapazes da Benquerença.  obrigatório (que durante a guerra do Ultra-
         têm as suas raízes. Poucos saberão que se   Todos estávamos plenamente convenci-  mar, na Marinha, era de quatro anos para os
         trata de uma aldeia do interior, situa da num  dos da impossibilidade de conseguirmos a  recrutados e de seis para os que entrassem
         fértil vale que faz parte integrante da Cova da  almejada melhoria de vida através da pas-  como voluntários) outros já deixaram o ac-
         Beira, entalada entre as serras da Santa Mar-  torícia ou agricultura praticadas naquelas  tivo, mas são ainda bastantes os que se en-
         ta, a Sul, e da Opa, a Norte, cujos horizontes  paragens, pelo que era inabalável a nossa  contram ao serviço.
         são fechados a Este, pela serra da Malcata e a  vontade de partir logo que tivéssemos idade   Poucos vivem na aldeia, mas nenhum a
         Oeste pela majestosa serra da Estrela.  e forças suficientes para nos aventurarmos na  esqueceu, sendo muitos os que lá se deslo-
           Embora se trate de uma aldeia com monta-  procura de diferente meio de vida. Os ma-  cam com alguma frequência, no Verão, pelo
         nhas no horizonte e bem no                                                        Natal e também em Maio,
         interior é hoje considerada a                                                     para assistirem à romaria da
         que mais pessoal forneceu                                                         N. Sr.ª da Quebrada.
         à Marinha, fenómeno que                                                             Continuando a não ser
         muita curiosidade tem le-                                                         servida por vias de comu-
         vantado e que aqui se procu-                                                      nicação relevantes (o que
         ra ajudar a compreender.                                                          sempre condicionou o seu
           A razão de ser desta reali-                                                     desenvolvimento) hoje, é já
         dade tem origem na neces-                                                         fácil demandá-la. Indo pela
         sidade que os Benqueridos                                                         A23, pode-se sair em Caste-
         sentiram de procurar condi-                                                       lo Branco Norte, seguindo
         ções de vida melhores que                                                         para Espanha/Penamacor
         aquelas que tinham os seus                                                        pela EN 233 Depois de Pe-
         pais, no que não foram úni-                                                       namacor, à saída da aldeia
         cos. As terras da Benqueren-                                                              de Meimoa, cor-
         ça até têm aptidão agrícola,                                                              ta-se à esquerda.
         mas a agricultura de subsis-                                                              Outra hipótese é
         tência que praticavam não                                                                 continuar na A23
         permitia sair da triste vida que viviam. Sempre                                           e, após a Covi-
         houve uma grande divisão da propriedade.                                                  lhã, sair para Sa-
         Todos os casais cultivavam algum bocadinho                                                bugal/Caria. De-
         de terra, que lhe pertencia ou alugavam, onde                                             pois de atravessar
         faziam a horta mas, para sobreviverem, pre-                                               Caria (uma ponte
         cisavam que os agricultores com maior acti-                                               à entrada e outra
         vidade lhes dessem trabalho, o que aconte-                                                à saída) vira-se à
         cia apenas sazonalmente, sendo os ganhos                                                  esquerda (Nas-
         sempre insuficientes. Foi essa insatisfação que                                            cente) passando
         potenciou a lídima aspiração a uma vida me-                                               por Monte do
         lhor. Assim, principalmente nos anos sessen-                                              Bispo/(Três Po-
         ta e setenta, muitos foram os jovens nados e                                              vos)Escarigo.
         criados na Benquerença que emigraram ou                                                     Os seus habi-
         simplesmente migraram para o litoral.   rinheiros nossos conterrâneos constituía m  tantes, afáveis como sempre, são cada vez
           A Marinha atraiu um número extraordina-  um apelativo exemplo e a demanda do li-  em menor número e maioritariamente ido-
         riamente elevado de pessoas. Porquê?  toral era legal e não implicava os avultados  sos, mas continua a haver alguns sinais de
           A Benquerença “descobriu” a Marinha há  pagamentos aos facilitadores da emigração.  vitalidade, como sejam a escola, posto mé-
         já muitos anos. Ainda o articulista era criança  Depois, o apoio inicial de alguém que nos  dico, farmácia, centro de assistência social,
         quando conheceu uma senhora a quem cha-  aconselhasse, desse guarida, orientasse ou  um balcão bancário, um posto de venda de
         mavam a Palmira do marinheiro. Este, um Fo-  auxiliasse na obtenção do posto de traba-  combustíveis, vários estabelecimentos co-
         gueiro (especialidade que foi substituída pela  lho pretendido era muito importante. A par  merciais, entre os quais oito cafés/snack-ba-
         de Condutores de Máquinas) era um homem  do apoio conseguido junto de familiares ou  res, um deles numa aprazível zona de lazer
         que raramente via na aldeia. Regressou anos  simples filhos da terra, a prestimosa disponi-  denominada O MOINHO, junto a um açude
         mais tarde, já velho e doente. Havia também  bilidade dos marinheiros Benqueridos mais  no rio Meimoa.
         um tal Sr. Tenente Luzio, que mais tarde, já  antigos para nos ajudarem com os seus con-  Foi desta maravilhosa aldeia que saí-
         na Marinha, vim a saber ter-se reformado  selhos, informações e recomendações certei-  ram os muitos oficiais, sargentos e praças
         como Segundo-tenente SG (classe que deu  ras, terá sido o factor decisivo na opção pela  que serviram ou servem Portugal na Mari-
         lugar à de OT) cuja ascensão na carreira ele  Marinha de tão elevado número de jovens  nha com muita honra e dedicação, trazen-
         próprio considerou extraordinária ao prever  da Benquerença.          do no coração a BENQUERENÇA NOSSA
         que mais nenhum Benquerido chegaria ao   Há várias teorias sobre a origem do nome  QUERIDA…
         seu posto. Mas estes não eram os únicos ma-  de Benquerença, mas todas têm por base o                 Z
         rinheiros da minha terra, na minha menini-  lendário bom relacionamento entre as suas   A. Almeida Machado
         ce. Outros havia que só mais tarde conheci,  gentes, o que, sendo verdade, pode ajudar         CFR SEL RES
         entre os quais o extraordinário João Cerdeira  a compreender este extraordinário afluxo de   Fotos: Nabisk
                                                                                    REVISTA DA ARMADA U FEVEREIRO 2009  31
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