Page 27 - Revista da Armada
P. 27

VIGIA DA HISTÓRIA                                                                                   17

                                                  VIGIAS

Orelato da viagem dos Marqueses de Távora para a Índia, em                 Tendo largado da nau pelas 1600 só cerca das 1715 é que o escaler
         1750, pese embora o carácter laudatório quanto aos actos dos    chegou ao local e, com espanto de quantos observavam de bordo da
         Marqueses, apresenta um conjunto de informações importan-       nau, logo iniciou o regresso.
tes sobre a vida a bordo e a navegação na Carreira das Índias.
                                                                           Chegados a bordo pelas 1900 trataram de informar sobre o suce-
  Os Marqueses, os seus familiares e os seus criados seguiam em-         dido que mais não era do que um animal marinho, desconhecen-
barcados na nau “Nª Srª das Necessidades” de que era capitão o           do se estava doente ou adormecido e que não puderam identificar
Capitão-de-Mar-e-Guerra Manuel Castro Ribeiro e Capitão-Tenente          pois parecia estar de “barriga” para o ar, barriga era de cor branca e
Isidoro de Moura.                                                        sem escamas. O seu tamanho era maior que o casco de uma nau e
                                                                         de quando em vez movia uma barbatana, não reagindo às aves que
  A saída de Lisboa teve lugar no dia 28 de Março de 1750 e o episó-     nele poisavam.
dio que seguidamente se relata ocorreu a 3 de Maio.
                                                                           Não tivesse sido efectuada a pesquisa e bem provavelmente
  Nesse dia a nau encontrava-se numa posição cerca de 2° Sul quan-       nas cartas de navegação surgiria, na latitude de 2° S, a indicação
do, por volta das 1400, o gageiro informou ter avistado, à distância,    de “vigia”.
por NW o mar a rebentar e várias aves no local.
                                                                                                                                                         Z
  O capitão que se encontrava doente no camarote veio observar, com                                                                  Com. E. Gomes
o óculo, tendo-se-lhe afigurado tratar-se dum baixo, baixo esse que não
se encontrava assinalado na sua carta de navegação onde somente se       Notas:
encontrava referenciado, desde 1701, um baixo na latitude 2° 10’ S. (1)     (1) Adeterminação da latitude, ao tempo, tinha o rigor suficiente para se admitir que

  Convém referir que, ao tempo, sempre que se observasse uma zona        aquele não seria o baixo avistado em 1701.
de rebentação o facto ficava registado nas cartas de navegação com           O facto de não se conseguir então determinar a longitude levava a que em muitas
indicação de se tratar de um baixo, uma ilha ou um penedo caso ti-
vesse sido investigado ou, então, com a indicação, na carta, da expres-  cartas aparecessem assinaladas ilhas todas na mesma latitude e com diferentes longi-
são “vigia” no local do avistamento caso não tivesse havido possibi-     tudes e que, na realidade, eram uma única ilha cuja longitude fora erradamente esti-
lidade de investigar. (2)                                                mada pelos diversos navegadores que a avistavam.

  Perante o facto o capitão mandou que Isidoro de Moura, o 3º piloto        (2)O que se refere pode ser observado por exemplo, numa carta do séc. XVIII exposta
Manuel Francisco e um marinheiro fossem, numa embarcação de 4            na sala de leitura da Biblioteca da Ajuda em Lisboa.
remadores, investigar a natureza do baixo assinalando-o, para o que
levavam uma agulha de marear e uma sondareza.                               A carta tem ainda a particularidade de nela se encontrar registada a derrota diária
                                                                         dum navio em viagem entre Lisboa e o Brasil (Rio de Janeiro e Baía).

                                                                         Fonte: Viagem para a Índia dos Marqueses de Távora por Francisco Raymundo de
                                                                         Moraes Pereira, Lisboa 1753.

33º Aniversário da Direcção de Transportes

Presidida pelo Superintendente dos Ser-           responder às muitas questões e dificuldades        Direcção de Transportes. No final, o Director
      viços do Material, VALM Conde Bagui-        que se lhes deparam no dia-a-dia.                 referiu o impacte positivo que a aquisição de
      nho, teve lugar no passado dia 23 de                                                          uma nova vedeta terá no SINTRA, com mo-
Setembro, a cerimónia comemorativa do 33º           Durante a sua alocução, o Director fez ainda    tivações adicionais na classe de militarizados,
aniversário da Direcção de Transportes.           um balanço de toda a actividade desenvolvi-       profissionais dignos de uma actividade que
                                                  da durante o último ano, cujo saldo classificou    em muito serve a Marinha.
  Assistiram e participaram na referida ceri-     como de muito positivo e que só foi possível
mónia entidades oficiais, no âmbito da Supe-       graças ao trabalho de equipa, que reconheceu                                                         Z
rintendência dos Serviços do Material, antigos    publicamente. Frisou ainda que o trabalho
Directores da Direcção de Transportes, convi-     desenvolvido estava longe de estar concluído             (Colaboração da DIRECÇÃO DE TRANSPORTES)
dados, oficiais, sargentos, praças, militarizados  e exortou todos os que servem na Direcção
e civis da unidade.                               de Transportes a manterem o mesmo espíri-                  REVISTA DA ARMADA U JANEIRO 2010 27
                                                  to, a mesma dedicação e o mesmo empenho
  Na ocasião, o Director de Transportes, CMG      para ultrapassar as dificuldades e cumprirem
EMQ Luis Manuel Ramos Borges realçou a im-        a missão.
portância daquele dia e manifestou o seu reco-
nhecimento e da guarnição aos antigos Direc-        Este dia ficou também marcado pelo desfi-
tores, em especial ao CMG EMQ REF Francisco       le de viaturas antigas pertencentes ao “Núcleo
Manuel Lemos Pinheiro, o primeiro director,       Museológico” da Direcção de Transportes que
pela dedicação e eficiência, desenvolvidas ao      ficaram expostas ao público junto ao Palácio do
longo dos anos, o que permitiu que o presente     Comando e cujas características ilustram a enor-
e o futuro fossem edificados com base na expe-     me diversidade tipológica de viaturas utilizadas
riência e no conhecimento, contribuindo, de for-  na Marinha ao longo do tempo, exibindo-se mo-
ma valorizada, para um melhor cumprimento         delos de grande riqueza estética e tecnológica
da missão da Direcção de Transportes.             para a época em que foram construídos e que
                                                  se apresentam nas páginas seguintes.
  Numa demonstração clara de que a Direc-
ção de Transportes se alarga também ao con-         As comemorações deste aniversário termi-
junto de militares condutores dos oficiais-ge-     naram com a realização de um almoço a bor-
nerais da Marinha, também eles convidados         do da vedeta “Zêzere” que, navegando pelo
para as comemorações, o Director recordou         Tejo com Lisboa sempre à vista, proporcionou
que a DT está ciente da responsabilidade da-      uma oportunidade de confraternização entre
queles militares, reafirmando a vontade de         todos que prestam serviço e colaboram com a
   22   23   24   25   26   27   28   29   30   31   32