Page 5 - Revista da Armada
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mãs. São organizadas expedições militares para se reabastecer, a Grã-Bretanha solicitou restabelecimento das condecorações por fei-
que procuram repor a soberania nacional nos a requisição dos navios alemães surtos nos tos militares. Também foi instaurada a pena
territórios de Angola e Moçambique onde se portos nacionais.AAlemanha reagiu, em 9 de de morte no campo de batalha.Anecessidade
verificavam incursões alemãs, destinadas a su- Maio de 1916, com uma declaração de guerra de empenhamento no conflito, mostrou que
blevar as populações indígenas. As expedições e Portugal começou, então, a levantar o Corpo o conceito de exército miliciano, preconizado
militares portuguesas foram feitas com gran- Expedicionário Português (CEP). Em Janeiro na reorganização de 1911, teve de dar lugar a
des sacrifícios públicos e privados, devido às de 1917, esta força iniciou o seu deslocamen- um exército semipermanente, assente em ofi-
carências de armamento, instrução e sustenta- to para França, mas só assumiu responsabili- ciais e sargentos do quadro permanente, com-
ção das forças nacionais. dades operacionais em Novembro desse ano. plementado por milicianos. Para além disso,
Com o país envolvido em complexas crises ao deixar o país empobrecido, endividado e
A necessidade de defender as colónias, de governativas, o CEP foi deixado ao abandono sem recursos, envolvido numa crise política,
recuperar o prestígio nacional e de consolidar e repetiram-se os erros logísticos da campanha económica e financeira, fez nascer um movi-
e legitimar o regime republicano, levou o país do Rossilhão, de 1793 a 1795. Por isso, o resul- mento social amplo, de sectores da sociedade
a envolver-se no conflito.Apesar das reservas tado foi idêntico: a derrota militar. que viram a sua situação piorar, onde se en-
da Grã-Bretanha sobre a intervenção portu- contram os militares, que derrubarão a I Re-
guesa, devido à óbvia debilidade das nossas Aentrada de Portugal na I Guerra Mundial pública em 1926.
forças militares e às persistentes convulsões não trouxe reformas de vulto na organização
políticas internas, combate-se em África e pres- superior de defesa nacional. As que ocorre-
siona-se a aliada. Em 17 de Fevereiro de 1916, ram limitaram-se a ajustamentos pragmáticos,
perante a insuficiência de navios mercantes destinados a estimular o desempenho, com o António Silva Ribeiro
CALM
ALÉM DO HORIZONTE 2
O complexo do submarino
Quando, ainda jovem 2º Tenente, iniciei
o curso de especialização em Armas muns davam frequentemente informações de lação à Marinha. Lidamos com a doença dia-
Submarinas, uma das primeiras maté- avistamentos que se revelavam erradas. Um riamente, visitamos o médico com frequência,
rias a aprender era como classificar os contactos dos exercícios mais simples que se fazem com somos todos obrigados a conhecer muitos pre-
de detecção dos submarinos. Essa metodologia os submarinos é exactamente provocar a visu- ceitos jurídicos e temos uma ideia aproximada
persiste sem alteração significativa, apesar da alização de partes salientes dos mesmos para de como se constrói um edifício, porque são coi-
enorme evolução havida. que o pessoal dos navios de superfície os possa sas (entre muitas outras) que nos são próximas e
reconhecer com rigor. são tema de debate e de conversa, que deixam
Para quem é menos entendido nestes assun- rasto de algum conhecimento. O mesmo não se
tos segue-se uma brevíssima explicação do que Vem tudo isto a propósito do muito que se dirá da física nuclear ou da microbiologia mole-
se trata, dado que o tema em vista não obriga a ouve, ou que se lê, sobre as actividades da Ma- cular, pois aí não arriscamos sentença, a não ser
aprofundar muito a questão técnica. rinha, da autoria de pessoas que pouco ou nada que sejamos especialistas.
percebem do assunto, sendo, por vezes, profun-
Quando, por quaisquer meios (por exemplo: damente ridículas as afirmações produzidas. As principais actividades da Marinha e que
sonar ou emissão electrónica), se detecta a even- Chega a ser penoso, para quem tem formação justificam a sua existência desenvolvem-se no
tual presença de um submarino, torna-se neces- e várias dezenas de anos de experiência, ouvir mar, ou estão intimamente relacionadas com
sário atribuir à informação obtida, um determi- ou ler as maiores barbaridades, sem possibili- esse ambiente.Tudo é complexo no mar, sendo
nado grau de confiança, para tomar as medidas dade de responder. A frequência é tal que não o ambiente hostil para os humanos. A rápida
apropriadas à ameaça. Existem assim diversos há tempo, nem capacidade, para esclarecer os variação do estado do mar acarreta inúmeros
graus, sendo que, o mais elevado se designa por originadores e, principalmente, os mais respon- perigos. A falta de capacidade para uma leitu-
CERTSUB, o que indica que o objecto detectado sáveis e bem-intencionados. ra correcta das cartas náuticas e o desconheci-
é um submarino, com certeza absoluta, mento de normas básicas de navegação podem
O problema é que, quase todos estes obser- revelar-se fatais.
Porém, de acordo com as regras, só se deve vadores não são credenciados, mas julgam que
atribuir a classificação de CERTSUB quando dominam suficientemente as matérias para emi- Numa Marinha de duplo uso, como é a nossa,
existir contacto visual com o submarino, ou tirem opinião. Acho que tais pessoas sofrem de maior é a complexidade. Mesmo os que, como
com os seus destroços, no caso de ter havido umcomplexoaqueresolvichamar “ocomplexo nós, dedicam uma vida inteira a estes assuntos,
um ataque. do submarino”, pelas razões que vou passar a estão longe de abarcar profundos conhecimen-
expor. Excluo do meu pensamento e do âmbito tos em todas as áreas de interesse para a organi-
Parecendo tudo muito simples e evidente, deste escrito os que, eventualmente, possam ter zação.A navegação, a hidrografia, a oceanogra-
há um detalhe decisivo que passa despercebi- obscuras intenções. fia, as comunicações, as armas, a electrónica, a
do ao aluno menos atento. É que, o observador logística, o planeamento de operações, as tác-
que avista o submarino tem que ser considerado Compreende-se bem que esta problemática ticas, as evoluções no mar, a colaboração com
competente e estar habilitado para o fazer. Caso não seja aplicável exclusivamente à Marinha, meios aéreos, a operação com helicópteros, o
contrário, não pode ser atribuída a classificação parecendo até relativamente generalizada. direito internacional marítimo, as leis e regula-
que confirma, sem dúvida, de que se trata de mentos da pesca, a liderança, a disciplina, os có-
um submarino. De médico e advogado todos temos um boca- digos de comportamento, a gestão de pessoal, a
do. Criticam-se as opções dos médicos nos servi- doutrina, as estruturas organizacionais a bordo e
A razão de ser desta regra é que muitas vezes, ços de urgência sem ter estudado medicina, nem em terra, a manutenção dos meios, a formação
por desconhecimento, por sugestão, por má vi- saber os meios ao dispor nesses serviços; fala-se do pessoal, o planeamento financeiro, os requi-
sibilidade, ou por outros motivos, o observador de crimes e de prisão preventiva sem conhecer a sitos operacionais e técnicos de novos meios,
pode confundir outros objectos com uma parte lei e os princípios da justiça em que se baseiam. o treino, etc, constituem apenas parte de uma
dos submarinos, como por exemplo o periscó- O rol poderia continuar com imensos exemplos, longa lista muito do que é preciso saber para ter
pio, a torre, etc. Durante a II Guerra Mundial foi a percorrer toda a sociedade. Diz também o bom acesso a um lugar de chefia na Marinha, mesmo
necessário formar observadores especializados povo, a gracejar, que: “a asneira é livre”…
em terra, junto à costa, já que os cidadãos co-
Mas, há uma diferença fundamental em re-
Revista da aRmada • NOVEMBRO 2010 5