Page 5 - Revista da Armada
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As tarefas da NATO
Um dos aspectos importantes do Concei-
         to Estratégico de Lisboa é a discrimina-  e irregulares, com uma diferente configuração        o desaparecimento da tarefa de preservação do
         ção das tarefas essenciais da NATO.       de Estados na Europa e com o alargamento da          equilíbrio estratégico na Europa.
   As tarefas da NATO decorrem da missão da        NATO para leste: a Hungria, a Polónia e a Re-
Aliança, que, embora não esteja explicitamente     pública Checa tinham aderido à Aliança Atlân-           O Conceito Estratégico de Lisboa veio apro-
enunciada em qualquer documento, se pode re-       tica em Março de 1999. Nesse enquadramento,          fundar a sistematização ensaiada em 1999,
tirar do preâmbulo do Tratado de Washington.       o Conceito Estratégico, aprovado em Abril de         promovendo as sub-tarefas (gestão de crises e
Consiste em “salvaguardar a liberdade, a heran-    1999, actualizou as tarefas essenciais, da seguinte  parcerias) a tarefas essenciais (com o âmbito das
ça comum e a civilização dos seus povos”, atra-    forma:                                               parcerias a alargar-se, dando lugar à segurança
vés da “união de esforços para a defesa colectiva  ● Segurança:providenciarumambientedesegu-            cooperativa) e deixando de fora a consulta. As-
e a preservação da paz e da segurança”.            rança estável na área Euro-Atlântica, através de:    sim, as tarefas essenciais discriminadas no novo
                                                                                                        Conceito Estratégico são:
   Esta missão é suficientemente abrangente         ● Gestãodecrises:contribuirparaaprevenção           ● Defesa colectiva;
e flexível, para se manter tão válida hoje, como       de conflitos e a gestão de crises, em confor-    ● Gestão de crises; e
quando foi formulada, em 1949. A partir desse          midade com o artigo 7.º do Tratado de Wa-        ● Segurança cooperativa.
enunciado genérico e intemporal, os Conceitos          shington (que remete a responsabilidade
Estratégicos deduzem as tarefas que, em cada           primária pela manutenção da paz e da segu-          Quanto à defesa colectiva, nada de novo. É a
momento, se afigura                                    rança internacionais para a ONU);                tarefa essencial da NATO, decorrendo directa-
melhor contribuírem                                                                                     mente do Tratado de Washington e, concreta-
para o incremento da                                ● Parcerias: promover parcerias, coopera-
segurança interna-                                     ção e diálogo com outros países da área                                    mente, do seu artigo
cional e para a salva-                                 Euro-Atlântica.                                                            5.º. Contudo, é de
guarda da liberdade                                                                                                               relevar a sua ascen-
dos aliados. Assim                                 ● Consulta:constituir-secomoumfórumtransa-                                     são a primeira entre
aconteceu com os três                              tlântico de consulta entre os aliados; e                                       as tarefas essenciais,
Conceitos Estratégi-                               ● Dissuasão e defesa: dissuadir e defender qual-                               o que não acontecia
cos do pós guerra-fria,                            quer ameaça de agressão contra um aliado.                                      nos documentos an-
que foram os únicos                                                                                                               teriores.
a ser divulgados pu-                                  Nota-se uma clara linha de continuidade re-
blicamente, já que                                 lativamente ao Conceito Estratégico de 1991, em-                                   No que respeita
os anteriores eram                                 bora com três importantes novidades. A primei-                                 à gestão de crises, ela
secretos.                                          ra e mais importante foi a inclusão da gestão de                               já fora incluída como
                                                   crises e das parcerias, como sub-tarefas da Alian-                             uma sub-tarefa no
   O Conceito Estraté-                             ça, abrindo espaço a intervenções de natureza                                  Conceito Estratégi-
gico de 1991(aprovado                              expedicionária. A segunda foi o alargamento                                    co de 1999. Todavia,
na ressaca da queda                                do âmbito de invocação do artigo 5.º do Tratado                                nessa altura, referia-se
do Muro de Berlim,                                 de Washington, deixando de se cingir apenas                                    que a gestão de crises
em Novembro de                                     a agressões “contra o território” para abarcar                                 visava a melhoria da
1989, e da dissolução                              “qualquer ameaça de agressão”. A terceira foi                                  segurança e da esta-
do Pacto de Varsóvia, em Março de 1991) defi-                                                                                     bilidade da área Euro-
niu as seguintes tarefas fundamentais:                                                                                            -Atlântica e respeitaria
● Providenciar um ambiente de segurança                                                                                           o artigo 7.º do Tratado
estável na Europa;                                                                                      de Washington. No novo Conceito Estratégico,
● Constituir-se como um fórum transatlântico                                                            desapareceram essas duas referências, o que
de consulta entre os aliados;                                                                           parece sugerir uma maior vontade de interven-
● Dissuadir e defender qualquer ameaça de                                                               ção para “ajudar a gerir crises emergentes que
agressão contra o território dos aliados; e                                                             tenham potencial para afectar a segurança da
● Preservar o equilíbrio estratégico na Europa.                                                         Aliança”.
                                                                                                           Finalmente, a segurança cooperativa. Trata-se
   Esta última tarefa referia-se, implicitamente,                                                       da maior novidade relativamente ao anterior
à necessidade de manter um equilíbrio relativa-                                                         Conceito Estratégico e decorre, em boa parte,
mente à Rússia, que, embora tivesse deixado de                                                          da concepção mais alargada de intervenção no
ser encarada como um oponente, ainda justifica-                                                         exterior, já referida. Assim, o próprio documento
va fundadas reservas e muitas dúvidas quanto à                                                          refere que “a Aliança envolver-se-á activamen-
evolução futura.                                                                                        te para incrementar a segurança internacional,
                                                                                                        através de parcerias com países relevantes e ou-
   Menos de uma década depois, o ambiente                                                               tras organizações internacionais”.
de segurança tinha evoluído significativamente,                                                                                  N. Sardinha Monteiro
com a emergência de “novas” ameaças difusas
                                                                                                                                                    CFR

                                                                                                        5REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2011
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