Page 4 - Revista da Armada
P. 4

DIA DA MARINHA

Alocução do Almirante CEMA

Quero começar este meu primeiro discurso num                           discrição, tarefas essencialmente ligadas à vigilância e con-
          Dia da Marinha, acentuando o orgulho que sinto               trolo dos espaços marítimos nacionais e à nobre tarefa de
          em comandar os milhares de militares, militariza-            salvar vidas no mar. Para as guarnições desses navios, envio
dos e civis que – com abnegação, coragem e competência                 também uma forte palavra de estímulo, pela forma abne-
– servem o País nesta briosa instituição.                              gada e rigorosa com que cumprem a sua missão. Recordo,
                                                                       ainda, todo o pessoal que integra o dispositivo de cerca de
    É, pois, com subida honra que aqui estou a celebrar a              750 militares, militarizados e civis da Marinha permanente
memória de uma viagem que – há 513 anos – mudou o                      e diariamente em acção para garantir o uso do mar pelos
Mundo, servindo de mote às nossas celebrações. De facto,
em 1498 Vasco da Gama                                                                                           portugueses, incluindo o
chegou a Calecute, cul-                                                                                         pessoal da Polícia Maríti-
minando um esforço de                                                                                           ma e todos os que prestam
muitas décadas e assina-                                                                                        serviço no Sistema da Au-
lando o pioneirismo por-                                                                                        toridade Marítima.
tuguês na globalização.
                                                                                                                    No mundo globalizado
    Festejamos hoje essa                                                                                        dos nossos dias, o mar é o
epopeia e fazemo-lo no-                                                                                         elemento que verdadei-
vamente em Setúbal – ter-                                                                                       ramente distingue Por-
ra que, desde há muitos                                                                                         tugal das outras nações,
séculos, atraiu gentes que                                                                                      porque anima e sustenta
fizeram do mar o seu                                                                                            a mentalidade e as atitu-
principal modo de vida.                                                                                         des colectivas que estão
Aqui estivemos em 1984 e                                                                                        na nossa génese como
em 1993, e voltamos agora                                                                                       povo e como Estado. Nes-
a esta hospitaleira cidade                                                                                      se sentido, permitam-me
que a memória colectiva                                                                                         que recorde alguns dados
da Marinha recorda por incontáveis visitas e pela bele-                que ilustram a nossa ligação ao mar:
za deste estuário natural, que é um verdadeiro porto de                   • Os espaços marítimos sob jurisdição ou soberania nacio-
abrigo para todos os marinheiros.                                      nal ocupam uma área superior a 1,7 milhões de km2, corres-
                                                                       pondente a quase 19 vezes a área terrestre de Portugal;
    Agradeço, por isso, o apoio e entusiasmo que desde a                  • A área de fundos marinhos sob soberania nacional po-
primeira hora recebemos da Senhora Presidente da Câmara                derá atingir mais de 3,5 milhões de km2, com a extensão da
Municipal de Setúbal e também das demais entidades que                 plataforma continental portuguesa;
mostraram inexcedível vontade em nos apoiar nesta iniciati-               • Aproximadamente 60% das nossas trocas comerciais
va de trazer a Marinha a Setúbal e aos setubalenses.                   com o exterior processam-se por via marítima, sendo tam-
                                                                       bém por mar que recebemos cerca de 70% das importa-
    Senhor Ministro da Defesa Nacional,                                ções nacionais, incluindo a totalidade do petróleo e cerca
    Aceitou V. Ex.ª presidir a esta cerimónia, o que muito nos honra,  de 2/3 do gás natural que consumimos;
constituindo um importante estímulo para todos nós. Interpreto a          • Cerca de 90% dos turistas que nos visitam procuram a faixa
sua presença como um sinal de apoio institucional ao prossegui-        costeira e actividades de lazer de âmbito marítimo.
mento das grandes linhas de rumo traçadas para a Marinha.                 Neste enquadramento, de uma nação fortemente marcada
    Agradeço, também, a todos a disponibilidade que tiveram            pela maritimidade, Portugal necessita de uma Marinha capaz
para estar connosco nesta cerimónia, e envio uma saudação              de desempenhar três funções fundamentais:
calorosa para aqueles que, envergando o uniforme da Mari-                 • Colaboração na defesa militar e no apoio à política externa;
nha, cumprem a sua faina longe de Portugal. Lembro, par-                  • Garantia da segurança e autoridade do Estado no mar; e
ticularmente, a guarnição da fragata Vasco da Gama, bem                   • Apoio ao desenvolvimento, económico, científico e
como os militares portugueses que integram o estado-maior              cultural do País.
internacional embarcado nesse navio, que comanda a força da               Nesse sentido, procuramos, diariamente, cumprir de
União Europeia empenhada no combate à pirataria ao largo               forma pronta e eficaz as tarefas associadas a essas fun-
da Somália. Recordo, também, o pessoal envolvido nos pro-              ções, tendo em vista o superior objectivo de defender os
jectos de Cooperação Técnico-Militar, em Países de Língua              interesses nacionais, no mar e a partir do mar.
Portuguesa, e os militares da Marinha que apoiam a formação               E fazemo-lo com uma postura estratégica orientada por
do Exército Nacional Afegão.                                           três paradigmas da transformação, que constituem as re-
    Todavia, além destas missões internacionais, a Marinha             ferências doutrinárias fundamentais para a permanente
possui um teatro de operações permanente: os espaços                   adaptação da Marinha nos domínios genético, estrutural e
marítimos sob soberania, jurisdição ou responsabilidade                operacional. Permitam-me pois que faça um ponto de situ-
nacional. Neles temos, a cada momento, pelo menos 9 na-                ação em cada um desses três domínios – aquilo a que, na
vios com missão atribuída, assegurando, com sobriedade e               gíria naval, designamos como um “ponto ao meio dia”.

4 JUNHO 2011 • REVISTA DA ARMADA
   1   2   3   4   5   6   7   8   9