Page 2 - Revista da Armada
P. 2
MENSAGEM DE NATAL
NOS COR AÇÕES SOLIDÁRIOS,
O NATAL ACONTECE SEMPRE
“Naqueles dias, farei germinar um rebento justo, que exercerá o direito e a justiça
sobre a terra”. Jer 33,14
Omomento actual é de grande insegurança e de evidente di- Nas suas idas à praia, até para recolher energias para carregar o novo “far-
ficuldade económica, muito por força de todas as circuns- do”, foi contemplando o mar e apreciando as conchas que aquele devolvia.
tâncias criadas pela crise europeia e mundial que se tornou Foi trazendo para casa algumas dessas conchas sem uma intenção definida.
transversal a todos os países. De repente, surge-lhe a ideia que, “para matar o tempo”, podia pôr a sua
E é precisamente neste clima de incertezas e dúvidas que mui- habilidade em acção e começar a fazer com esses materiais um presépio que
tas famílias portuguesas perspectivam a celebração do Natal que decorasse a casa no tempo de Natal que haveria de chegar.
se avizinha. Tal foi o empenho com que se dedicou à sua construção que os familia-
Mesmoassimécomumapalavradeesperançaquequeremoschegar res e vizinhos que assistiam ao ganhar forma daquele artesanato convertido
mais uma vez a todos os em presépio, começaram a
militares, militarizados Fotografia Massimo Listri encomendar algo de seme-
e civis da Marinha bem lhante para os seus lares.
como também às suas Entretanto, a própria
queridíssimas famílias. protagonista deste caso
E mais: convidamos começa a alimentar a ideia
todos os que nos lerem a de conseguir até ao Natal
empreenderem uma via- construir o maior núme-
gem apesar de tudo opti- ro possível de presépios
mista. Apesar de tudo… para com eles fazer uma
Não é a conjuntura exposição.
económica que vai fazer O êxito foi de tal ordem
com que “Belém” deixe que todos os artigos foram
de ser uma lição. vendidos e bastante signifi-
E claro que vamos cativa foi a receita.
continuar a desejar boas Mas não estava termina-
festas e com toda a pro- da a tarefa.
priedade. Com este valor a referida
Realmente o nosso senhora fez uma listagem
Natal não depende es- de compras que lhe permi-
sencialmente de caba- tisse construir vários caba-
zes mais ou menos re- zes de natal distribuindo-os
cheados. depois pelas famílias mais
Aliás e sem dema- carenciadas da terra.
gogias, mas parece que Ainda se recordam do
a sombra divina não que originou tudo isto?
se conjuga muito bem Claro, uma dificuldade:
com cenários de grandes Presépio barroco da Madre de Deus – Séc. XVIII uma doença.
despesismos e esbanja- António Ferreira – Museu da Madre de Deus
Aqui chegados eis-nos
mentos. no coração do presépio:
De facto, se a crise tira o sorriso às pessoas, é sinal de que a nossa logística modesta, onde nada falta mas onde também nada sobra.
alma estava só nas “coisas”. Mas tudo com dignidade.
E não devia estar? Claro que sim. Mas não devia estar só aí. Recupero a citação bíblica com que enquadramos esta reflexão:
E perdoem-nos esta asserção que não é propriamente original mas “Naqueles dias, farei germinar um rebento justo, que exercerá o
faz algum sentido: enquanto a maior parte se angustia e lamenta pe- direito e a justiça sobre a terra”.
rante o cenário de crise que todos os dias nos persegue, esconden- Isso mesmo. Aninguém devia ser atribuído a título de condescen-
do a cabeça na areia e esperando que as coisas passem, há um outro dência aquilo que lhes pertence como justiça.
grupo que acha entretanto que ele pode ser também uma oportuni- Entretanto, quem dera que as dificuldades que nos assaltam no dia
dade e desafio. a dia sejam ultrapassadas.
E até já conseguiram metas que nem sonhavam serem possíveis. Mas mesmo que o não sejam, nada disso nos vai impedir de cele-
Há um provérbio que diz mais ou menos isto: Comece por fazer o brar o Natal.
que for necessário; depois o que é possível; de repente vê-se a fazer E temos a certeza: no momento da verdade a solidariedade vai con-
o que é impossível”. seguir resolver muitas situações.
Trago para a reflexão um caso verídico que conto como ouvi. Para todos os militares, militarizados e civis da Marinha bem como
Alguém que no verão de 2010, se viu confrontada com a dolorosa notícia para as suas famílias um SANTO NATAL.
da doença do marido que aliada à sua própria falta de saúde a remeteu para
uma nova situação: passar os dias em casa para se dedicar aos cuidados que José Ilídio Fernandes da Costa
o estado do marido lhe exigia. CMG Capelão