Page 5 - Revista da Armada
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promissos. Embarcaram equipas de segurança nos com o Tridente, tendo concluído no final da semana Foto 1SAR A LaranjeiraÉ consabida a tendência crescente de faltas nas
navios SAR, na Operação Atalanta e na missão da passada um período de integração na SNMG2, em lotações de bordo, especialmente em praças e, parti-
NAFO, para além do apoio ao Dispositivo Especial que participou em diversos exercícios NATO e na cularmente, nas classes de Eletromecânicos, Mano-
de Combate a Incêndios Florestais e de resposta ao Operação Active Endeavour. bras e Serviços e Técnicos de Armamento. Em terra
Plano Tejo, bem como na vigilância e segurança a são as unidades de fuzileiros, de mergulhadores e a
instalações militares, em que é bem expressiva a taxa Nos helicópteros as grandes dificuldades sentidas BNL as mais atingidas.
de esforço imposta, sobretudo num quadro de carên- para satisfazer a nova Diretiva de Treino deveram-se
cia de pessoal. Também, uma vez mais, colaboraram à indisponibilidade de aeronaves, fruto do reduzido Reconheço o quadro difícil em que nos movimen-
com cerca de 90 militares em apoio ao Instituto de número de motores operacionais. A este propósito tamos nesta área, em que não houve incorporações
Socorros a Náufragos, no período balnear. não posso deixar de realçar o progresso havido na ca- em 2011 e 2012 e a que se associa a erosão provocada
pacidade interna de intervenção em alguns módulos, pelos concursos para as forças de segurança.
Na função de apoio ao Desenvolvimento Econó- bem com o esforço havido nas sucessivas mudanças
mico, Científico e Cultural, começo por referir que de motores entre aeronaves, seja para a realização de Algumas medidas mitigadoras têm sido tomadas,
foi possível manter os níveis de operação em valores testes ou para o aprontamento. Entretanto foi recen- como seja a criação de escalas conjuntas por classes de
idênticos ao do ano passado. Realço também o enten- temente formalizada a nossa participação no simu- navios, quando o orçamento o permite empenhamos
dimento obtido a nível superior com a Secretaria de lador de treino na Alemanha com o nosso cockpit, o as fragatas em missões do dispositivo, aproveitando
Estado do Mar para dar sequência a alguns proje- que virá trazer uma significativa mais-valia para as assim a oportunidade para treino próprio e para fol-
tos de dimensão nacional, em particular o da exten- qualificações dos nossos pilotos e uma importante gar as unidades mais navegadas, estamos a avaliar
são da plataforma continental. Deixo a nota de que poupança em horas de voo real. da adequabilidade de aplicação do conceito de guarni-
podemos e de que estamos prontos para fazer mais, ções múltiplas, não havendo campo para muito mais.
assim o financiamento o permita. Senhor Almirante, estimados camaradas,
Com este relato podemos ficar com a imagem de Sei que o momento nacional é de crise, não dando
Ainda no campo científico importará referir o que, afinal, não estamos assim tão mal, porventu- margem para sonhos imediatos, mas, em devido tem-
envolvimento dos mergulhadores no REP12, ra justificando, para os menos avisados, o acerto da po, quando o incontornável período de ajustamento
evento de experimentação de veículos autóno- contenção a que fomos sujeitos. Assim não o é. Os
mos submarinos, em colaboração com univer- espelhos apenas refletem a parte da realidade que se orçamental passar, entendo que as instâncias
sidades nacionais e organismos estrangeiros, lhes apresenta, não conseguindo cobrir todos os ân- políticas têm de olhar para o suplemento de em-
bem como o apoio ao desenvolvimento do pro- gulos dessa mesma realidade, escamoteando elemen- barque. Quem anda no mar merece-o.
jeto BlueEye, desta feita em parceria com uma tos fundamentais à perceção do todo.
empresa nacional, constituindo um e outro dois Há uma grande assimetria de emprego entre Faço votos para que o tempo de espera não
bons exemplos da afirmação e valia da contri- classes, sendo evidente o significativo empenha- tenha de ser muito longo.
buição da Marinha em projetos de I&D. mento dos navios do dispositivo, por contrapon-
to ao das fragatas e do Bérrio. Se atentarmos nos Atreve-mo contudo a adaptar uma frase cé-
No campo do treino e do aprontamento os valores das taxas de utilização destes navios e os lebre de Abraham Lincoln que, aplicada à atual
níveis de atividade situaram-se abaixo do li- cotejarmos com os custos fixos e de manutenção situação da Marinha, particularmente debilita-
miar do desejável. atracados na BNL, facilmente se deduz que o Es- da no seu orçamento para operação e manuten-
tado não está a tirar o partido devido do que a Ma- ção, sumariza muita da minha preocupação.
De facto, apenas executámos um exercício a rinha lhe pode dar.
nível de Força Naval, um Instrex com 5 dias de Também daqui se retira que os navios mais utiliza- Pode-se reduzir o treino e a manutenção a
duração, o que é manifestamente escasso para dos são exactamente os que têm maior idade e, como uma parte da Esquadra todo o tempo, e a toda
satisfazer plenamente os padrões de prontidão tal, os que apresentam menor fiabilidade. a Esquadra parte do tempo, mas não se pode
dos meios necessários à satisfação dos compro- Uma das consequências é o crescente número de reduzir o treino e a manutenção a toda a Es-
missos assumidos, designadamente no âmbi- intervenções de manutenção eventuais, com natu- quadra todo o tempo.
to da NATO e da FRI, ou para responder a ral impacto no planeamento e, consequentemente,
operações inopinadas, tão suscetíveis de ocor- nas guarnições. Concluo com uma palavra de exortação
rer neste mundo cada vez mais imprevisível e Também na área do pessoal estamos a sentir gran- para as pessoas. Sem elas não há navios, sem
descontrolado. des dificuldades. navios não há Marinha, sem Marinha não há
um Portugal independente. O marinheiro por-
Este estado de coisas foi ainda agravado pela tuguês em nada desmerece dos melhores que se
falta de fiabilidade do ASTT, de momento indis- conhecem. Sob uma liderança que prime pela
ponível, afetando significativamente o entrosamento justiça, pelo exemplo, pela lealdade, pela disci-
e a proficiência tática das equipas de bordo. O recur- plina, pelo respeito e pelo sentido do humano,
so à capacidade de simulação das fragatas tem sido o nosso pessoal é de uma entrega e de uma ge-
praticado, mas, em boa verdade, não passa de um nerosidade inigualáveis.
paliativo que alivia mas não cura. A aculturação que nos molda desde que passámos
a usar o uniforme azul ferrete, transmitida pelos que
Apesar da adversidade da situação para proporcio- há mais tempo servem no seio da Marinha, dá-nos a
nar o adequado treino à Esquadra, as características convicção de que no mar, mais nenhuma instituição
do nosso pessoal perante os desafios são efetivamente neste país conseguirá alguma vez a ela substituir-se.
singulares. É o que o demonstra o resultado satisfa- O sal faz de facto toda a diferença. Por isso, Senhor
tório alcançado há dias pela Álvares Cabral no OST. Almirante, sabedor de que V.Exa. terá nos da linha da
Como ponto forte e que prestigia internacionalmente frente os destinatários das suas prioridades, conhece-
a fibra e o caráter do nosso pessoal, foi a entrega às dor da valia do nosso pessoal, imbuído do espírito de
exigências do treino, a recetividade aos ensinamen- parceria e cooperação expresso na sua visão, só posso
tos, o empenho na correção das deficiências e a sub- estar confiante em que, a despeito das dificuldades, o
sequente ação. O que neste momento releva, é que Comando Naval cumprirá com o que dele se espera
temos mais um navio pronto, com o qual podemos para o cumprimento da missão da Marinha.
confiadamente contar. Siga a Marinha!
Na capacidade submarina o panorama foi bastan- Após a apresentação do Comandante Na-
te mais animador. Merecem destaque a participação val, o Almirante Chefe do Estado-Maior da
do Tridente num exercício Fleetex e a certificação no Armada e Autoridade Marítima Nacional
sistema Harpoon, ambas nos EUA, após uma iné- (CEMA-AMN) usou a oportunidade para se
dita travessia atlântica por submarinos nacionais. dirigir a todos num racional de comunicação
O Arpão concluiu a sua docagem de garantia sem descendente, centrando as suas palavras nas
atrasos, beneficiando em muito das lições aprendidas preocupações para o ano de 2013 e ainda nos
assuntos resultantes de decisões anteriores, não
Revista da Armada • DEZEMBRO 2012 5