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REVISTA DA ARMADA | 483

retorno de áfrica - 1975

uma missão de apoio

Os anos de 1974 e 1975 foram de gran-         Navegámos a SW com vento de NE e céu         Após o embarque do piloto em Dakar,
     de actividade para a nossa Marinha     geralmente coberto em direcção ao porto      fomos atracar ao cais nessa manhã, de
devido à necessidade de retracção do        de Arrecife, na ilha de Lanzarote, nas Ca-   Sábado. Por sorte talvez, foi logo possível
dispositivo naval face às independências    nárias, onde aportámos na tarde de 26 de     efectuar o abastecimento de água doce
dos novos países africanos de expressão     Novembro na tentativa de encontrar ou        o que permitiu atestar os tanques já que
portuguesa. Ao NRP Schultz Xavier coube     ter notícias das embarcações de pesca.       cerca de uma hora depois fomos obriga-
uma boa parte desses trabalhos pois além    Logo na tarde do dia seguinte rumou-se       dos a largar do cais, sem qualquer justifi-
das tradicionais missões que lhe foram      para Sul e iniciou-se chamadas em fonia      cação. Tivemos então de fundear de novo
atribuídas ao longo do ano (Março a Ou-     para contactar os pesqueiros. Os primei-     na baía do porto, não sendo possível o
tubro) – balizagem nos portos e estuários   ros a responder e a dar informações fo-      abastecimento de combustível de que tão
da costa metropolitana e apoio à farola-    ram as embarcações de pesca portugue-        carenciados estávamos, apesar do pró-
gem nos arquipélagos das regiões autóno-    sas em faina ao longo da costa africana, o   prio piloto, de origem francesa, não com-
mas dos Açores e da Madeira –, de outras    que mostra bem o bom entendimento e          preender as ordens que as autoridades
foi incumbido nos restantes meses.          a ajuda mútua existente entre os homens      portuárias impunham ao navio. Ficámos
                                            do mar. Logo ao fim do dia seguinte foi      fundeados todo o fim-de-semana, vendo
   A instabilidade social que se verificou  possível encontrar duas traineiras – a Por-  a cidade ao longe, apesar do Encarrega-
naqueles países africanos ainda antes das   to Amboim que rebocava a J. Nelson – que     do de Negócios da Embaixada de Portu-
suas independências provocou a fuga e       rumavam a Norte sem problemas, pelo          gal em Bissau (não existia ainda embai-
regresso a Portugal de muita gente. Assim   que prosseguimos rumo a Sul. Ao anoi-        xada em Dakar) ali se ter deslocado para
ocorreu em Angola, antes da sua indepen-    tecer do dia seguinte obteve-se contacto     ajudar à resolução dos problemas (inclu-
dência a 11 de Novembro de 1975, quan-      por rádio com a traineira Flórida de um      sive a cobertura dos custos de reparação,
do uma dúzia de embarcações de pesca        grupo de seis – St. António, Rosa Barata,    das referidas embarcações de pesca, ali
com tripulações acompanhadas dos res-       Cláudia Isabel, Faneca e Atlântico, sendo    efectuadas) e ainda o próprio Comandan-
pectivos familiares, em que predomina-      sugerido que prosseguissem para Norte,       te ter contactado as diversas autoridades
vam mulheres e crianças, decidiram re-      pois entretanto o Schultz Xavier teria de    em terra. O 25 de Novembro em Portu-
gressar a Portugal torneando a costa afri-  ir abastecer de combustível, demandando      gal fazia-se sentir naquelas paragens! Di-
cana. Ajuda de vária ordem foi-lhes dada    assim o porto de Dakar, onde entrou no       versas mensagens para Lisboa não obti-
pelos navios de força naval que saiu de     dia 30.                                      veram qualquer resposta. Perante o im-
Luanda à data da independência (vide RA                                                  passe e dispondo de pouco combustível,
nº 54/MAR76).                                 É oportuno recordar que entretanto ti-     com os pesqueiros a navegar para Norte,
                                            nham ocorrido os acontecimentos de 25        e após fazer-se o ponto de situação, o Co-
   Para lhes prestar apoio na parte final   de Novembro de 1975 na Metrópole, o que      mandante decidiu navegar para Norte e
da sua navegação foi designado o Schultz    naturalmente originava bastante ansiedade    tentar alcançar o Saara ainda Espanhol.
Xavier que, após uma rápida preparação,     em toda a guarnição perante as poucas no-    O Encarregado dos Negócios ficou de
saiu de Lisboa cerca da meia-noite de 23    tícias que se iam captando na rádio.
de Novembro de 1975.

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