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REVISTA DA ARMADA | 483
Fotos CMG SEH Couto Soares
telefonar para avisar o Comando Espanhol das tanto de géneros como água e com- a refugiar-se as embarcações em seguran-
da nossa inesperada arribada. Assim, an- bustível, tendo-se iniciado o reboque de ça. Regressámos no dia seguinte, 8 de De-
tes da meia noite do dia 1 de Dezembro de algumas delas, que vinham em piores con- zembro de 1975, ao fim da manhã, à Base
1975 (Domingo), levantámos ferro e nave- dições, o que permitiu efectuar algumas Naval de Lisboa, com o sentimento do de-
gámos para Norte ao longo da costa afri- reparações mantendo uma velocidade de ver cumprido mais uma vez.
cana, controlando religiosamente o com- 9/10 nós de navegação. Ao alcançarmos a
bustível existente, para na tarde do dia 3 longitude do Algarve foi decidido abando- Foi mais uma missão de apoio a algu-
de Dezembro entrarmos no porto de Vila nar a navegação costeira e rumar directa- mas embarcações de pesca (10/15 ton’s)
Cisneros (actual El Aioun) com o gasóleo mente para Norte em direcção a Portimão. com casco de madeira, nada adaptadas
apenas no tanque serviço e atracarmos, Esse final de tarde/noite foi complicado para navegar tão longas distâncias, em
com um certo alívio de ali termos conse- pois o tempo degradou-se, subindo o ven- que foram percorridas cerca de 3600 mi-
guido chegar. Na ocasião os espanhóis es- to para força 4 e alguma chuva, felizmente lhas durante mais de 268 horas de nave-
tavam já em vias de sair daqueles territó- dos quadrantes do sul (mar de popa), pro- gação em 16 dias de missão.
rios, e ao atracarmos tivemos perante os vocando dificuldades nas embarcações e o
nossos olhos o que era um país em guerra, partir dos cabos de reboque que tiveram N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico
pois só se viam forças militares fortemen- de ser substituídos. Próximo da meia-noite
te armadas em muitas viaturas blindadas, avistou-se a barra de Portimão onde vieram J. Vaz Ferreira
de tal forma que nos questionámos sobre CMG
o local onde tínhamos vindo cair!! Apesar
de não estarem avisados da nossa chega-
da fomos muito bem recebidos pelas auto-
ridades locais e perante o nosso apelo de
apoio em combustível logo começámos a
ser abastecidos, operação que, devido aos
precários meios, durou toda a noite. De su-
blinhar o facto que dada a retirada a curto
prazo daqueles locais de todas as forças es-
panholas, o apoio foi totalmente gracioso.
Fomos também obsequiados por uma pe-
quena recepção pelo Comando Militar da-
quela vila seguido de um lauto jantar, ter-
minando o serão num bairro árabe onde
se apreciou típico chá de hortelã e a dan-
ça dos véus. Infelizmente o agradável con-
vívio foi interrompido, dado que a viatura
militar que nos serviu de transporte sofreu
um ataque tendo ficado muito maltratada
e nós retirados debaixo de uma forte escol-
ta militar, para a segurança do porto.
Logo na manhã do dia 4 de Dezembro
de 1975 largámos devidamente abasteci-
dos para alcançar Portugal, que era a nos-
sa grande preocupação, pois que de Lisboa
ainda não tínhamos recebido qualquer
resposta às nossas mensagens.
Navegando para Norte, ao longo da cos-
ta africana ao fim do dia seguinte, a sul da
cidade de Agadir, encontrámo-nos com a
primeira das traineiras que tínhamos vin-
do apoiar, tendo passado a navegar em
companhia, para no dia seguinte, ao prin-
cípio da tarde, e com a cidade de Essaouira
pelo través, conseguir reunir todo o grupo
de seis embarcações, que foram abasteci-
26 MARÇO 2014