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REVISTA DA ARMADA | 486
com indisfarçáveis limitações, conseguimos cumprir as missões Mas a ação da Marinha, na área não militar, não se cinge às
que nos foram atribuídas. atividades desenvolvidas em apoio da estrutura da Autoridade
Marítima Nacional. É o caso do Instituto Hidrográfico que efe-
No âmbito da defesa militar participámos em diversas missões, tuou levantamentos hidrográficos, produziu nova cartografia
integradas nas Forças Nacionais Destacadas, como na Operação náutica e recolheu dados fundamentais para conhecer o nosso
Atalanta, onde empenhámos uma fragata durante cinco meses Mar. Ainda nesta área, desenvolvemos novos produtos quer para
e, mais uma vez, comandámos a força tarefa da União Europeia, apoio às operações militares e à Autoridade Marítima, quer para
contribuindo assim para a dissuasão, prevenção e repressão dos apoio aos que andam no mar, em trabalho ou em lazer, de que
atos de pirataria na costa da Somália. Participámos também, são exemplos os projetos “Qual é a tua onda?” e METOCMIL.
com um submarino, na Operação Active Endeavour, cuja missão
consiste em dissuadir e combater o terrorismo e a proliferação de Na área cultural desenvolvemos um conjunto alargado de ati-
armas de destruição maciça. vidades, ligadas à história, às ciências e às tecnologias navais,
como exposições, palestras, seminários e edição de obras.
Ainda neste contexto continuamos a estar presentes em missões
internacionais, como no Afeganistão, contribuindo para a segu- E ainda, naquela que é porventura uma das mais nobres mis-
rança e estabilidade regional, no Kosovo, no apoio à paz naquela sões que realizamos, a salvaguarda da vida humana no mar, con-
região do globo e também na missão de treino militar no Mali. seguimos manter uma taxa de sucesso do Serviço Busca e Sal-
vamento Marítimo, ao nível das melhores do mundo, o que nos
Colocámos todo o nosso empenho ao serviço de Portugal no enche de orgulho e confirma a eficiência e eficácia do emprego
estrangeiro, pois temos a noção da importância destas missões, de capacidades militares em ações não militares, neste caso, no
que nos permitem afirmarmo-nos como uma nação contribuinte âmbito do Sistema Nacional para a Busca e Salvamento Maríti-
para o esforço internacional, de manutenção da paz e melhoria mo, na dependência de Vossa Excelência.
das condições de vida das populações em dificuldades, garantin-
do também desta forma a possibilidade de ter “voz ativa” nos Fizemos com esforço, dedicação, empenho e sentido de missão,
fora internacionais. tudo o que nos foi pedido, mesmo com elevado sacrifício pessoal. Fi-
zemo-lo porque os Portugueses e Portugal o merecem, e continuamos
Continuamos a manter uma estreita ligação aos países da Co- prontos para dar o nosso melhor no cumprimento da nossa missão.
munidade dos Países de Língua Portuguesa, colaborando em di-
versas ações de cooperação, dando expressão à política externa Mas hoje para poder afirmar que cumprimos a nossa missão,
nacional e contribuindo para o desenvolvimento das capacidades tivemos que tomar opções difíceis, canalizando os poucos recur-
das Marinhas amigas e, desta forma, dar o nosso contributo para sos disponíveis para onde eles eram primordiais, o que obrigou a
a segurança nos espaços marítimos de interesse nacional. que durante o ano transato apenas se tenham efetuado as ações
de manutenção estritamente necessárias.
Estivemos presentes em exercícios conjuntos e combinados, pre-
parando as nossas forças, para poder responder de forma cabal às Porém, ao dizê-lo, quero aqui assegurar que nenhum meio foi
necessidades de defesa própria e autónoma, bem como para asse- empenhado sem cumprir com as elementares regras de segurança,
gurar a proteção dos interesses nacionais, onde, como e quando embora também deva referir que as horas de navegação atribuí-
for considerado necessário. das ao treino continuam em níveis insuficientes, originando deficits
na prontidão operacional, que espero em breve poder melhorar.
Sendo este o Dia da Marinha, dia de todos aqueles que a ser-
vem, no âmbito da ação militar e não militar, quero, na minha Foi bem ciente destas dificuldades que elegi como lema para
qualidade de Autoridade Marítima Nacional, realçar o trabalho o meu mandato a REESTRUTURAÇÃO, mas como referi no meu
desenvolvido pelo pessoal que serve o País nesta tão relevante discurso de apresentação à Marinha, reestruturar não deve ser
estrutura, designadamente na Direção-geral da Autoridade Ma- entendido como “simplesmente mudar”, de forma avulsa, basea-
rítima e na Polícia Marítima. da em preconceitos, ou só porque está na moda.
No âmbito da afirmação da soberania e autoridade do Estado Desde logo a reestruturação da Marinha é determinada pelo
no mar, efetuámos uma intensa atividade destinada a prevenir e processo de reestruturação da defesa nacional e das Forças Ar-
reprimir os casos ilícitos contraordenacionais e penais nos espaços madas, designado por Reforma «Defesa 2020», que vem impor
de jurisdição marítima, bem como ações de fiscalização, inspecio- a necessidade de ajustar a estrutura, a organização e os meios
nando as atividades de pesca, no mar e em terra, para garantir o aos compromissos orçamentais definidos. Entre outros aspetos, a
respeito pela legislação vigente, para melhorar as condições de se- «Defesa 2020» vem redimensionar o efetivo das Forças Armadas,
gurança de quem anda no mar e para preservar os nossos recursos. pretende melhorar os rácios de despesa entre as componentes de
pessoal, de operação & manutenção e de investimento, e define
Assegurámos uma elevada prontidão dos meios de prevenção e 1,1% do Produto Interno Bruto como compromisso orçamental
combate a derrames ou ações poluentes, permitindo responder de estável para a Defesa Nacional.
uma forma rápida e eficaz às potenciais situações de calamidade.
Neste quadro, é aceitável antecipar que o orçamento anual
No âmbito das atribuições do Instituto de Socorros a Náufra- para a Marinha possa estabilizar num valor de referência da or-
gos, solidificaram-se parcerias com entidades públicas e pri- dem dos 500M€.
vadas, que têm constituído uma mais-valia inestimável na as-
sistência a banhistas. Este sistema, dirigido operacionalmente Baseado nestes dados de planeamento, superiormente defi-
pelas Capitanias, nas áreas de jurisdição marítima, numa rela- nidos, importa saber como vamos obter o melhor proveito dos
ção de proximidade com as praias da sua região, tem mostrado recursos que temos disponíveis.
ser um modelo de elevado sucesso que salva centenas de pes-
soas todos os anos. Uma das iniciativas mais recentes, o pro- Primariamente convém efetuar uma análise da envolvente que
jeto “surf salva”, visa integrar, nas capacidades do sistema de nos rodeia, identificando oportunidades, desafios, potencialida-
assistência a banhistas, uma grande percentagem dos surfistas des e vulnerabilidades.
que frequentam as nossas praias, possibilitando desta forma o
seu contributo cívico para uma missão de todos nós, a de salvar Como oportunidades, relevo, a título de exemplo, a manutenção
vidas humanas. e, se possível, o incremento das relações bilaterais e da participação
de Portugal nas Alianças e Organizações Internacionais e a recente
aprovação da nova Estratégia Nacional para o Mar que pode criar
14 JUNHO 2014