Page 15 - Revista da Armada
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espaço para se tirar partido de uma efetiva capacidade de ação imediata, mantemos uma disponibilidade total, impomos sacri-
centrada na multidisciplinaridade e na cooperação interagência. fícios adicionais às nossas famílias, estamos preparados para, se
necessário, sacrificar a nossa vida, pelo nosso País, que jurámos de-
Como desafios não posso deixar de referir as limitações finan- fender. Somos por isso diferentes, nem melhores, nem piores, sim-
ceiras do País, as tensões regionais, as migrações em massa, a plesmente diferentes e é essa diferença que importa acautelar, por-
pirataria marítima e, mais recentemente, a degradação da situa- que só assim conseguimos ter uma guarnição coesa e motivada.
ção internacional, que podem implicar uma maior necessidade
de empenhamento dos meios da Marinha. Militares, Militarizados e Civis da Marinha,
Como acabei de referir vivemos circunstâncias excecionais,
No entanto, a Marinha tem potencialidades que importa explo- mas neste contexto temos de saber manter o rumo. Assim, aos
rar, desde logo, a utilização das suas capacidades em atividades de órgãos de comando, direção e administração importa garantir a
natureza militar e não militar, que permite maximizar a eficiência eficiente gestão dos recursos, cumprir e garantir a conformidade
no aproveitamento dos recursos do País para a ação do Estado no regulamentar das decisões e das ações, e zelar pela sua justeza,
Mar. De relevar também o sistema de formação e treino da Mari- imparcialidade e coerência.
nha, o qual permite valorizar os seus recursos humanos, constituin- Aos militares, militarizados e civis, individualmente, compete
do-se como um potenciador do recrutamento e da retenção. manter um exigente padrão de comportamento, consubstanciado
na disciplina, no empenho no cumprimento da missão, na dignida-
Potencialidades estas que esperamos serem suficientes para ul- de de caráter, na honestidade, no respeito e na seriedade.
trapassar as vulnerabilidades, das quais realço o envelhecimento A atitude que se exige a todos os servidores da Marinha, exer-
da esquadra, que se reflete na redução da capacidade operacional. çam eles funções de cariz militar ou não militar, radica num qua-
dro de valores que ajudam a reconhecer a Marinha como uma
Neste ambiente que acabei de descrever temos de saber tirar o referência no «ser» e no «estar», e constitui-se como uma carac-
maior partido daquilo que são as nossas potencialidades intrínse- terística identitária própria da nossa instituição.
cas e explorar todas as oportunidades em que tais características Por isso exorto-vos a manter a coesão, entre todos os que fa-
possam ser relevadas, criando desta forma valor e contribuindo zem uso do botão de âncora, e a defender os valores que nos
para que Portugal possa usar o Mar, nesta que é a nossa missão. caracterizam, sabendo que como vosso Comandante estarei sem-
pre atento aos vossos anseios.
Mas também sabemos que uma reestruturação não se faz em
poucos dias, faz-se em anos. Porém a Marinha não pode esperar Senhor Ministro da Defesa Nacional,
tanto tempo, e a curto prazo é imperioso substituir os meios que A história da Marinha confunde-se com a história de Portugal,
estão no fim da sua vida operacional, retomando os programas de cruzamos os mares há séculos, demos novos mundos ao mundo,
reequipamento da esquadra, designadamente, a construção dos transformámos “tormentas” em “boa esperança”, e levámos o
Navios de Patrulha Oceânica e das Lanchas de Fiscalização Costei- nome de Portugal aos quatro cantos do mundo.
ra. Porém, como é sabido, a construção naval é lenta e dispendiosa Abnegadamente cumprimos as missões que nos são atribuí-
e por isso também equacionamos a eventual aquisição de navios das, com brio, dedicação e espírito de bem servir e assim conti-
usados, que nos garantam 10 a 15 anos de operação, e assim suprir nuaremos a fazê-lo.
a lacuna de meios até que as novas construções estejam prontas. Os homens e as mulheres, que orgulhosamente comando, são
de uma estirpe única porque forjamos o nosso «ser» e o nosso
Importa também, a curto prazo, colmatar o défice de manuten- «estar» no Mar, e por isso continuaremos, na senda dos nossos
ção dos meios navais e retomar os níveis de treino, para garantir antecessores, mesmo perante as adversidades que se nos colo-
adequados níveis de operacionalidade. cam, a assegurar que a Marinha continua a defender os interes-
ses de Portugal no Mar.
Para contribuir para que o País use o Mar é necessário que a
Marinha seja dotada de uma organização ágil e flexível, esteja Fotos 1SAR FZ Horta Pereira
equipada com meios modernos e tecnologicamente evoluídos,
como acabei de referir, mas acima de tudo que disponha de pes-
soas qualificadas, bem treinadas e altamente motivadas.
Neste âmbito importa sublinhar que todos nós abraçámos esta
profissão de corpo e alma, aceitando de bom grado as limitações
que a condição militar nos impõe. Asseguramos uma prontidão
JUNHO 2014 15