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SAÚDE PARA TODOS

VARIZES

As varizes, também chamadas veias varicosas, são dilatações permanentes das veias do corpo humano. As mais comuns são as varizes dos
membros inferiores. Estas veias superficiais, dilatadas e por vezes tortuosas, de coloração azul ou arroxeada, tornam-se mais evidentes no ve-
rão, quando as roupas leves as deixam à vista, mas também devido ao efeito que o calor exerce sobre as mesmas.
Além do problema estético, habitualmente o paciente queixa-se de dores nos membros inferiores, sobretudo quando está de pé. A doença pode
evoluir para úlceras venosas, de difícil cicatrização e incapacitantes.
Em Portugal estima-se que um terço da população sofra de doença venosa, nas suas diferentes fases evolutivas, causando elevados custos na saúde e múl-
tiplos dias de incapacidade para o trabalho. É importante toda a população tomar consciência deste problema global e adotar medidas para o prevenir.

  O corpo humano necessita continua-              A causa mais frequente de insuficiência         técnicas minimamente invasivas como a
mente de oxigénio e nutrientes para man-        valvular é a genética: um estudo com 402          radiofrequência ou o laser endovascular.
ter as suas funções vitais. Simultaneamen-      pessoas mostrou que o risco de ter varizes
te precisa eliminar os produtos finais do       é de 90% quando ambos os pais são afe-              Em todas as fases da doença existem me-
metabolismo dos tecidos. É a circulação         tados pelo problema. Quando apenas um             didas gerais a seguir, de modo a facilitar a
sanguínea que realiza estas funções. As         dos pais é afetado, o risco é de 25% para         drenagem venosa: caminhar regularmente,
artérias transportam o sangue do coração        os homens e de 62% para as mulheres.              ter uma dieta saudável (rica em fibras e em
para as extremidades, e as veias têm a fun-                                                       água, pobre em sal), fazer desporto (nata-
ção de levar o sangue de volta ao coração.        Existem fatores que podem desenca-              ção, ciclismo, dança), perder peso, não fu-
                                                dear ou agravar as varizes e que são im-          mar, evitar ficar parado em pé durante lon-
  As veias das pernas, que reconduzem           portantes conhecer:                               gos períodos de tempo (se a profissão ou o
o sangue ao coração após ter irrigado os                                                          meio de transporte o obrigar: usar meias
membros inferiores, trabalham contra a            • sedentarismo, longos períodos senta-          elásticas, fazer movimentos circulares com
gravidade, pelo que o simples bombear           do/de pé, ou uso frequente de sapatos de          os pés ou colocar-se várias vezes em bicos
do coração não é suficiente para executar       salto muito alto (não existe contração efi-       dos pés), evitar expor as pernas ao calor e
esta tarefa. O sangue é impulsionado prin-      caz dos músculos das pernas);                     massajá-las frequentemente (de baixo para
cipalmente pela contração dos músculos                                                            cima), fazer pausas ao longo do dia elevan-
das pernas. Para ajudar o sangue a seguir         • obesidade, gravidez ou obstipação             do as pernas acima do nível do coração (e.g.,
sempre em direção ao coração, existem           crónica (aumento da pressão intra-abdomi-         levantar os pés da cama 10 a 15 cm) e evi-
no interior das veias pequenas válvulas         nal com compressão da veia cava causando          tar sapatos com salto superior a 4 cm, bem
unidirecionais, cuja finalidade é impedir o     dificuldade na circulação sanguínea);             como calças/cintos/meias/botas apertadas.
retorno do sangue para as extremidades.
Quando essas válvulas não se fecham ade-          • hormonas femininas – uso de anti-                                                 Ana Cristina Pratas
quadamente, o refluxo é inevitável. Devi-       concecionais ou terapêutica hormonal de                                                            1TEN MN
do a esta incompetência valvular a quan-        substituição, bem como a gravidez (dimi-
tidade de sangue dentro das veias come-         nuem a elasticidade das veias);                         Alguns especialistas recomendam que as
ça a aumentar, obrigando-as a dilatar. Esta                                                          grávidas e profissionais de risco, principal-
dilatação venosa a que chamamos varizes           • calor – ambientes quentes, banhos de             mente se tiverem história familiar de insufi-
causa aumento da pressão venosa das ex-         sol, depilação a cera quente, sauna, ba-             ciência venosa, devem fazer prevenção usan-
tremidades, o que leva a consequências          nho turco (provocam dilatação venosa);               do diariamente meias elásticas, ou seja, as
nefastas a nível da perna e do pé.                                                                   meias devem ser usadas ainda antes de sur-
                                                  • envelhecimento (redução da elastici-             girem os primeiros sintomas.
  As principal queixa dos pacientes com         dade das veias);
doença venosa é a sensação de pernas can-                                                               As meias elásticas são feitas com um elás-
sadas, pesadas ou dolorosas, principalmente       • tabagismo (o tabaco reduz o nível de oxi-        tico especial em forma de espiral, com maior
ao final do dia ou após longos períodos de pé.  génio no sangue, agravando as lesões da pele).       contenção na barriga da perna do que na coxa.
Pode associar-se a esta queixa o edema (in-                                                          Assim, quando a pessoa caminha, essa espiral
chaço), prurido (comichão), formigueiros, dor-    Na suspeita de doença venosa, o paciente           elástica vai ajudar a comprimir os músculos
mência ou cãibras dos membros inferiores.       deve ser observado em consulta médica de             da perna, ajudando o sangue a progredir dos
                                                modo a ser realizada a história clínica e o exa-     membros inferiores para o coração.
  A progressão da doença leva, na maio-         me físico. O diagnóstico definitivo de doença
ria dos casos, à insuficiência venosa cróni-    venosa é feito através de um exame chama-
ca, onde já existem alterações da pele: pri-    do ecodoppler venoso dos membros inferio-
meiro a hiperpigmentação (a hemoglobina         res, que permite ao médico observar a ana-
acumulada nos tecidos transforma-se em          tomia das veias e estudar o fluxo sanguíneo.
hemossiderina, o que dá coloração casta-
nha à pele), que evolui para lipodermatos-        O tratamento da doença venosa depen-
clerose (a acumulação de eritrócitos e pro-     de do estádio evolutivo da mesma. Nas fa-
teínas nos tecidos leva à substituição pro-     ses precoces da doença opta-se normal-
gressiva da pele e do tecido subcutâneo         mente por um tratamento conservador:
por fibrose) e, por fim, surge a úlcera veno-   meias de descanso ou elásticas e fármacos
sa. Esta é uma ferida da pele que se origina    que atuam na elasticidade e inflamação
pelo congestionamento do sangue venoso          das paredes das veias (flavonoides). Nas si-
nos tecidos, o que prejudica o fornecimen-      tuações em que existem varizes de peque-
to de nutrientes e oxigénio pelo sangue ar-     no calibre existem dois tipos de tratamen-
terial, levando à morte das células daquela     to: a escleroterapia, vulgarmente conheci-
região da pele.                                 da como “secagem das varizes” (injeta-se
                                                um líquido/espuma que vai secar a veia e
                                                a torna invisível) e o laser transcutâneo.
                                                Quando surgem varizes tronculares (dila-
                                                tadas) o tratamento é geralmente cirúr-
                                                gico, através de técnicas clássicas como o
                                                stripping e a flebectomia, ou utilização de

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