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ESTÓRIAS

VIAGENS SALGADAS – ESCOLA NAVAL

No final da Escola Naval, fomos fazer tiro às Selvagens na “Cor-          pareciam cruzados com as vaquinhas holandesas dos nossos ami-
     te Real”, que navegava em companhia da “Pacheco Pereira”,            gos Boers. Eram malhados de preto e branco. Durante as refeições
onde os nossos camaradas de Administração e Máquinas se en-               a bordo, segundo descrição dos nossos camaradas, sempre que o
contravam embarcados. Viagem cheia de peripécias, em que os               pessoal da taifa, que servia à mesa, pousava as travessas em cima
observadores de tiro em terra, desembarcados do navio num bote            do móvel de apoio, ainda que momentaneamente, era vulgar ver
de borracha e comandados pelo então 1.º Ten Metzner, um dos               um dos daqueles parceiros descer pela antepara e vir roubar um
primeiros oficiais especializados em Fuzileiros, tiveram que ser          naco do que estava a ser servido. Na “Corte Real”, o flagelo eram
abastecidos a partir dum avião saído de Lisboa. O mau tempo obri-         as baratinhas navais, que na coberta de vante e no refeitório das
gou-os a permanecer na ilha muito mais tempo do que inicialmen-           praças, onde tomávamos as refeições, partilhavam connosco o re-
te previsto, não lhes dando hipótese de reembarque. Se bem me             pasto. À noite, o pessoal da copa deixava um panelão, dos da sopa,
lembro, durante os exercícios de tiro com as peças de “127” (se           com umas migalhas no fundo em cima duma das mesas do refei-
bem me lembraram), eu dava saltos cada vez que o navio dispara-           tório com uma espécie de ponte da mesa para a panela. De ma-
va. Era eu e o cão do navio. Não sabíamos onde nos havíamos de            nhã o panelão estava praticamente cheio das nossas pequeninas
meter. Aí decidi que nunca seria artilheiro. Era muito barulhento         companheiras de viagem, que eram de seguida postas em cima do
para o meu gosto. O melhor desta viagem acabou por ser a pas-             fogão, onde crepitavam “bastamente”. É por isso que ainda hoje
sagem do ano ao vivo e a cores no Funchal. As festas nos hotéis, o        gosto de crocantes.
fogo de artifício, os pseudo engates das bifas. Ao fim e ao cabo era
sempre o mesmo a safar-se – “Ah! Ganda Stefan!” Na viagem de                                                                Ferreira Júnior
regresso, na “PP”, um dos nossos camaradas AN foi mordido num                                                                           CMG
lábio, enquanto dormia, por uma ratazana esfomeada. O navio ti-
nha embarcado em Durban, durante docagem que ali fizera, uma              N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico
porção muito razoável daqueles passageiros clandestinos, que
                                                                          Nota
                                                                          Extraído do livro TERRA-MAR-E-GUERRA, Cogitações de um Marinheiro Alentejano.

NÚCLEO DE RADIOAMADORES DA ARMADA

          O“Concurso Dia da Marinha” é um En-                               A edição deste ano, contrariando as expetativas, registou uma me-
                                  contro Internacional via rádio que, no  nor participação nacional relativamente ao ano passado. Ainda assim,
                             âmbito das comemorações da chegada da        e com as condições de propagação atmosférica “a meio gás”, foram efe-
                             Armada de Vasco da Gama à Índia, se reali-   tuados mais de 60 QSO’s em CW, outros tantos em SSB e cerca de 100
                             za anualmente no mês de maio. Como vem       em modos Digitais, tendo sido possível contactar os cinco continentes.
                             acontecendo há doze anos consecutivos,       De realçar a eficácia do PSK Phase Shift Keying que, com potência irra-
                             o Núcleo de Radioamadores da Armada,         diada na ordem dos 25 watts, permitiu trabalhar o Japão, China, Aus-
                             com apoio da Comissão Cultural da Mari-      trália, América do Sul e do Norte e, obviamente, toda a Europa.
                             nha, promoveu mais uma edição do “Con-
curso Dia da Marinha” o qual decorreu durante o segundo e terceiro                                                                                 António Gamito
fins de semana de maio, nos modos de emissão CW, SSB e Digitais,                                                                                                SMOR
incluindo-se aqui o PSK e RTTY.                                                                                                                               CT1CZT
  Durante as 40 horas de duração do evento, distribuídas pelos dois
fins de semana, a sede do NRA esteve guarnecida de operadores no-
meadamente: SAJ Joaquim Mela – CT1CLO; SAJ Hélder Mendes –
CR7AJL; MAR CE Rafael Costa – CT4GN; CAB CE Manuel Pires - CT1E-
LZ; MAR R Joaquim Ferreira – CR7AHW; CAB C Pedro Calisto – CT5JXZ
e Luís Caldeira – CT2GOY, os quais operando os três modos de emis-
são fizeram chegar o eco das comemorações do Dia da Marinha e do
NRA até onde a propagação permitiu.
  Houve ainda um período de exploração das comunicações via sa-
télite, embora com pouco sucesso devido a algumas contrariedades
sentidas, especialmente dificuldades na atenuação do efeito Doppler.

LIVROS

Das Edições Revista de Marinha e da autoria do Comandante Henrique Pereira Coutinho, acaba de ser pu-
blicado o livro METEOROLOGIA. Trata-se de uma publicação “muito útil, sucinta e pragmática”, contendo
o essencial sobre a temática da meteorologia, tão útil como necessária a qualquer marinheiro que se faça
ao mar com um mínimo de segurança.
A Revista da Armada felicita o autor e o editor e agradece o excelente exemplar oferecido, que contribui
para o enriquecimento da nossa biblioteca.

28 JUNHO 2014
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