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REVISTA DA ARMADA | 487

  Navios e embarcações – Terminamos com uma referência                E chegado de todo o numero de almadias hũa somente a
aos navios e embarcações que Mendes Pinto vai mencionando          bordo, pedio seguro para entrarem, a que foy respondido,
ao longo do seu livro. Seria fastidioso estar aqui a apresentar    que sem nenhum receyo o podião fazer, porque todos eramos
todas as tipologias que o autor refere. Vale a pena destacar       seus irmãos; & com isto, de noue que vinhão na almadia, os
que ele tem o cuidado, em diversas circunstâncias, de comple-      tres somente subirão ao junco... [XXXXVIII].
mentar uma determinada designação com dados que permi-             A transcrição anterior menciona igualmente aquele que era o
tam perceber melhor de que embarcação está a falar: dimen-       navio mais típico da China, o junco. Existiam juncos de diferentes
sões, propulsão (a remos ou à vela, ou ambas), pessoas que       dimensões e adaptados a variadas funções. Linschoten represen-
transporta, utilização mais comum, entre outras. Não sendo       ta também um destes navios.
adequado mostrar aqui todas as embarcações que ele indica,         Apresenta-se em seguida uma listagem (não exaustiva!) de dife-
apresentaremos algumas para as quais existem imagens numa        rentes tipos de embarcações que Fernão refere, para se perceber a
obra praticamente contemporânea de Mendes Pinto, o Itine-        riqueza das suas descrições. De realçar que tem o cuidado de men-
rário de Linschoten.                                             cionar cada tipo de embarcação no respetivo espaço de operação:
                                                                   Balão, Barcaça, Batel, Bergantim, Calaluz, Caravela, Catur, Galé,
  Uma das embarcações mais vezes referida por Fernão é a fusta.  Galeão, Galeota, Gelva, Jinda, Joanga, Jurupango, Lanchara, Lan-
É uma embarcação ligeira, do género da galé, mas mais pequena.   têa, Laugoa, Laulé, Lorcha, Manchua, Nau, Paguel, Panoura, Pa-
Era usada no Mediterrâneo pelos corsários do Norte de África.    rau, Sampana, Seroo, Terrada, Vancão.
Tal como as galés, tinha uma capacidade de manobra bastante
boa, pois não estava dependente apenas do vento. Pelas suas di-    Pensamos ter atingido o objetivo que nos propusemos, de
mensões reduzidas poderia navegar em águas pouco profundas       mostrar a riqueza da linguagem náutica que podemos recolher
e muito junto à costa. Sendo uma embarcação conhecida na Eu-     da Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto.
ropa, o autor usa-a várias vezes para estabelecer analogia com
alguns tipos de embarcações orientais:                                                                                                         Costa Canas
                                                                                                                                                          CFR
     E concluydo por fim de todos estes varios pareceres, no mi-
  lhor & mais seguro, mandou leuantar bandeyra de veniaga        Notas.
  ao custume da China, pelo que logo vierão da terra duas lan-   1 Nas citações da Peregrinação, colocaremos apenas o número do respe vo parágrafo.
  teaas, que saõ como fustas com muyto refresco...[XXXXIIII].
                                                                 Bibliografia
  Ou na que se segue:                                            SARAIVA, Arnaldo (2008). “A Peregrinação de Fernão Mendes Pinto revisitada – e sua
                                                                 teoria moderna da viagem”. Revista do Centro de Investigação Transdisciplinar “Cultura,
     Vimos tambẽ neste rio grande soma de embarcaçoẽs como       Espaço e Memória” – n. 1 – Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
  fustas, a que chamão panouras, fechadas de popa & de proa      Sousa, Jorge P. (2007). “As relações de naufrágios do século XVI e a génese do jornalismo
  com redes de canas como capoeyras, de tres & quatro sobra-     lusófono”. In Actas das II Jornadas Internacionais de Jornalismo: Porquê Estudar o Jor-
  dos, de dous palmos dalto cada sobrado, cheas de adẽs, que     nalismo?, ed. Jorge Pedro Sousa e Ricardo Pinto, 300 - 330. Porto: Edições Universidade
  homẽs trazião a vender, os quais vão pelo rio acima a remo     Fernando Pessoa.
  & a vella, ou como querem, vendendo estas adẽs que trazem
  por mercadaria [XCVII].

  Outra embarcação que aparece representada no Itinerário, de
Linschoten é a almadia. Uma almadia era uma pequena embar-
cação usada para transporte de pessoas e bens para bordo dos
navios. E é assim que Mendes Pinto geralmente se refere a elas:

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