Page 27 - Revista da Armada
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GENTE DE VALOR – 1
Há pessoas que, por mais valorosas te, num braço, o marinheiro do leme,
que tenham sido as suas acções, para que fugiu para o castelo da proa, tendo
além do reconhecimento que, por vezes, seguidamente morto o capitão que en-
na altura lhes é feito, raramente são de- tretanto se levantara, bem como o outro
pois recordadas. marinheiro que saíra da coberta em so-
corro dos seus compatriotas.
O britânico Guilherme Williams, de
quem somente foi possível conhecer os 5 Tanto o marinheiro ferido como os mo-
últimos anos da sua vida, é, em meu en- ços procuraram refúgio na coberta, onde
tender, um desses casos. o piloto os conseguiu encerrar.
Antes de prestar serviço na Armada Durante 3 dias e 3 noites, sem comer
Real, Williams era o contramestre e pi- nem dormir, o piloto governou sozinho
loto do bergantim inglês Hope, ou como o navio em direcção a Portugal, ao fim
nalguns registos portugueses surge, Es- desse tempo resolveu pôr o navio de
perança, tendo entrado no Porto, vindo capa e descansou.
da Terra Nova com carga de bacalhau, no
dia 21 de Outubro de 1795, sendo bem Conseguiu depois convencer o marinhei-
possível que o mesmo já tivesse ocorrido ro ferido a trazer os moços para o convés
no ano anterior. onde, sempre sob ameaça de pistolas e de
uma catana, que tirara ao capitão francês,
Após ter carregado, com fruta, vinho os obrigou a manobrar o navio.
e algodão, o Hope largou do Porto, em
5 de Dezembro, com destino a Guernsey No dia 4 de Janeiro de 1796, ao largo de
e Dartmouth. Viana do Castelo, uma lancha ida de terra
transferiu para bordo do Hope 5 homens
No dia 18 desse mês, quando se encon- que, na madrugada do dia 5, fizeram en-
trava na latitude de 47o e 13’, foi o navio trar naquele porto o navio represado, ten-
apresado por uma fragata francesa, a Tri- do, nesse mesmo dia, Williams requerido
bune, que seguia acompanhada pelas fra- que o navio lhe fosse entregue como boa
gatas Republicaine e Meduse e o bergan- presa. (cont).
tim Impatient.
Com. E. Gomes
Dado o reduzido número de tripulan-
tes do navio inglês, somente 6 homens, é N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico
quase certo que não terá havido qualquer
resistência ao aprisionamento. Fontes
Correio Mercan l e Económico de Portugal – Outubro de
À exceção do piloto Williams, todos 1795.
os tripulantes do Hope foram transferi- Arquivo Histórico Ultramarino Maços do reino cx. 266
dos para a fragata francesa, enquanto no pasta 1.
Hope embarcou uma guarnição de presa
constituída por um capitão, dois mari-
nheiros e 3 moços de idades entre os 16
e os 18 anos, guarnição essa cuja finali-
dade era a de conduzir o navio apresado
para um porto francês. Verificando que
os franceses não sabiam manobrar ade-
quadamente, planeou o piloto, se para
isso surgisse a oportunidade, conduzir o
navio para um porto amigo. Tal oportuni-
dade surgiu quando, no dia 26 de Dezem-
bro, pelas 13h00, o piloto se encontrou
somente acompanhado, no tombadilho,
pelo capitão de presa e pelo marinheiro
do leme, tendo então pegado num ma-
chado e dado uma forte pancada no capi-
tão, derrubando-o, e ferindo gravemen-
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