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REVISTA DA ARMADA | 488
Stratεgia 4
estratégia nacional para o mar
Muitos pensadores e intelectuais nacionais refletiram sobre o Dessa forma, em 27 de Fevereiro de 2013, o governo apro-
mar e sobre a sua importância. Recentemente, a produção vou para discussão pública a Estratégia Nacional para o Mar
de pensamento estratégico sobre os oceanos tem-se acentuado, 2013-2020, preparada pela Direção-Geral de Política do Mar.
com a particularidade de haver, nos últimos anos, um maior em- Durante o período de discussão pública, que decorreu entre 1
penhamento dos órgãos de governo em produzir documentação de Março e 15 de Junho, foram colhidos comentários de toda a
estruturante para os oceanos e para o mar. sociedade portuguesa.
Assim, em 2003, o executivo da altura criou a Comissão Estra- Posteriormente, em 23 de Janeiro de 2014, o Conselho de Mi-
tégica dos Oceanos, que produziu um notável relatório, intitula- nistros (CM) aprovou a versão final desta estratégia, que foi pu-
do “O Oceano – Um Desígnio Nacional para o Século XXI” (data- blicada em Diário da República, em 12 de Fevereiro deste ano.
do de 15 de Março de 2004). Importa referir que esta Estratégia Nacional para o Mar foi a pri-
meira a ser aprovada na Comissão Interministerial para os Assun-
Em 2005, a Estrutura de Missão para os Assuntos do Mar, entretan- tos do Mar (CIAM), desde que ela é presidida pelo Primeiro-Mi-
to criada, recebeu a incumbência de preparar uma Estratégia Nacio- nistro (o que aconteceu com a Resolução do CM nº 119/2009, de
nal para o Mar, válida para o período 2006-2016, aproveitando, sinte- 23 de Dezembro).
tizando e sistematizando o trabalho contido no relatório da Comissão
Estratégica dos Oceanos. Esse documento procurou valorizar o mar, Relativamente ao conteúdo desta estratégia, gostaria de desta-
tendo apostado numa abordagem integrada para a sua governação. car várias novidades e aspetos relevantes:
Foi um documento importante, mas ainda antes do fim do seu perío-
do de validade (2016) foi sentida a necessidade da sua atualização. • Colocação do mar como desígnio nacional – Esta estratégia
apresenta a seguinte visão: “O Mar-Portugal é um desígnio na-
cional cujo potencial será concretizado pela valorização econó-
mica, social e ambiental do Oceano e das zonas costeiras para
benefício de todos os portugueses” (In Cap. IV – 1. Visão, p. 55).
Esta ideia do mar português como um desígnio nacional já tinha
sido lançada no relatório da Comissão Estratégica dos Oceanos,
de 2003, precisamente intitulado “O Oceano, um desígnio nacio-
nal para o século XXI”. Contudo, nunca é de mais sublinhar essa
ideia, que aparece várias vezes no corpo principal do documento.
• Plano de ação – Esta estratégia inclui um plano de ação, o
Plano Mar-Portugal, com programas de ação e projetos concre-
tos, cada um dos quais com metas, indicadores e calendário as-
sociados. Sabendo que muitas vezes as estratégias, apesar de
corretamente formuladas, falham na implementação, a existên-
cia de um plano de ação (o que não aconteceu com a anterior
Estratégia Nacional para o Mar, datada de 2006) facilitará certa-
mente a sua implementação.
• Criação de uma “marca” – Embora não claramente expli-
citado, procura-se neste documento criar uma marca distintiva
que espelhe a aproximação dos portugueses ao mar: o “Mar-Por-
tugal”. Isto faz lembrar o que os brasileiros fizeram com a cria-
ção do conceito da “Amazónia azul”. Pessoalmente e não obs-
tante a óbvia colagem à estratégia de comunicação dos nossos
“irmãos” brasileiros, teria preferido a adoção da expressão “Lusi-
tânia azul” para designar o imenso mar português. De qualquer
maneira, independentemente da maior ou menor simpatia pelo
nome escolhido, considera-se louvável a tentativa de criação de
uma marca aplicável ao mar português.
• Objetivos – A nova Estratégia Nacional para o Mar enun-
cia cinco grandes objetivos: (1) a reafirmação da identidade
marítima de Portugal; (2) a concretização do potencial eco-
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