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REVISTA DA ARMADA | 491
Dos 10 navios patrulha da classe Cacine, construídos entre 1969 significativa de 3,5 metros e vento força 5 na escala de Beauford.
e 1973 restam apenas 3 operacionais, e mesmo estes já indiciam Quanto à operação, os navios estão classificados como podendo
a existência de danos estruturais insuperáveis que impedem o seu operar no inverno até uma distância de 20 milhas de porto ou
prolongamento de vida por mais do que dois a três anos. O navio fundeadouro seguro. Esta distância passa para 50 milhas no ve-
balizador Schultz Xavier tem sido utilizado na capacidade de patru- rão e 100 milhas nas zonas tropicais. A guarnição é de 20 milita-
lha e fiscalização, encontrando-se em semelhante período de vida e res e a capacidade de alojamento é de 29, em quinze camarotes.
estado material. Estes quatro navios têm mais de 40 anos de serviço,
tendo há muito ultrapassado a sua vida útil. Para substituição dos No que se refere à propulsão, os navios estão equipados com
navios patrulha estava programada a construção de cinco lanchas dois motores diesel MTU associados a dois veios e hélices de passo
de fiscalização costeira. As dificuldades financeiras que o país atra- variável, que lhes permitem atingir uma velocidade de 20 nós. De
vessa desde 2008 levaram ao sucessivo adiamento deste programa. origem, para além destes motores, os navios dispõem de uma tur-
bina a gás General Electric, associada a um terceiro hélice de passo
A Marinha Dinamarquesa construiu nos anos 80 do século XX fixo, que em configuração CODAG (motores diesel e turbina a gás
um conjunto de 14 navios patrulha, da classe Flyvefisken – Stan- em funcionamento simultâneo) permite atingir uma velocidade de
dard Flex 300 (SF300), que tinham uma estrutura base comum e 30 nós. A produção de energia é assegurada através de três grupos
dispunham de quatro espaços, um à proa e três à popa, para co- eletrogéneos. Para manobra, estes navios estão dotados de 3 le-
locação de módulos contentorizados de armamento, sensores e mes e um propulsor de proa. O casco é de fibra plástica reforçada.
equipamentos. Esta arquitetura funcional permitia cobrir múlti-
plas atividades de ação da Marinha, assegurar a interoperabilida- O custo de aquisição de cada navio é de um milhão de euros.
de entre navios, proporcionar uma contínua flexibilidade na con- Todavia, este valor corresponde ao seu estado atual, que apenas
figuração e reconfiguração dos navios, e simplificar a logística da inclui a plataforma e a propulsão. A sua ativação implica dotar o
sua sustentação ao longo do ciclo de vida. Esta contentorização navio de todos os equipamentos e sensores de navegação e de
dos navios resultou na possibilidade de os configurar diferencia- comunicações. Estima-se que os fabricos e aquisições de equipa-
damente para ações de vigilância, combate, guerra anti-submari- mentos para aprontamento dos navios ascenda a cerca de seis
na, lança-minas, levantamentos hidrográficos, pesquisa oceano- milhões de euros por unidade. Tendo por base o seu estado ma-
gráfica, caça-minas e combate à poluição do mar. terial atual é espectável que, após a sua reativação, estes meios
disponham de uma vida útil entre 10 e 15 anos.
Por alteração do seu conceito estratégico, a Dinamarca colocou
à venda uma série destes patrulhas. A estabilidade política na Eu- Para o processo de reativação existem várias oportunidades de
ropa desde o fim da Guerra Fria levou este país a alterar o foco de utilização de estaleiros e empresas nacionais, com destaque para
ação da sua Marinha, da defesa próxima do território para a pro- a Base Tecnológica e Industrial de Defesa (BTID), estimando-se
jeção de força fora da sua área de interesse nacional permanente. poder alocar-lhes cerca de 65% do investimento necessário em
Esta alteração implicou a desativação de um conjunto alargado de equipamentos e mão-de-obra.
navios patrulha em fase de meia vida e a aquisição de navios do
tipo fragata e polivalente logístico de grandes dimensões. Em 24 de outubro de 2014, na Base Naval de Lisboa, foi as-
sinado o contrato de aquisição de quatro navios do tipo STAN-
A conjugação da necessidade nacional e da disponibilidade di- FLEX 300 à Dinamarca. A cerimónia foi presidida pelo Ministro
namarquesa levou à realização de uma visita técnica da Superin- da Defesa Nacional, Dr. José Pedro Aguiar-Branco, e contou com
tendência dos Serviços do Material aos navios STANFLEX 300 e ao as presenças do CEMGFA, General Pina Monteiro, da Secretá-
início do processo de avaliação e consequente decisão de aquisi- ria de Estado Adjunta e da Defesa Nacional, Drª Berta Cabral, e
ção de quatro destas unidades. do CEMA/AMN, Almirante Macieira Fragoso. De acordo com o
planeamento preliminar, os navios deverão ser rebocados para
Os navios do tipo STANFLEX 300 foram construídos em três sé- Portugal nos primeiros meses de 2015, e a sua modernização
ries distintas. Os navios em processo de aquisição pertencem à será feita no Arsenal do Alfeite. Os primeiros dois navios deve-
2ª série, sendo atualmente denominados Glenten, Ravnen, Ska- rão estar prontos a integrar o efetivo naval no início de 2016 e
den e Viben. No que se refere às suas principais características, os restantes dois em 2017. O investimento, incluindo aquisição e
o comprimento é de 54 metros, a boca tem 9 metros, o calado modernização, ronda os 28 milhões de euros.
máximo é de 3,5 metros (hélices) e o deslocamento é de cerca de
500 toneladas. No que se refere ao desempenho, os navios têm Colaboração do EMA
uma autonomia de 2400 milhas a 18 nós, capacidade de armaze- Fotografias cedidas pela "Danish Defense Acquisition
namento de víveres para 7 dias e uma velocidade máxima de 30
nós. Em termos de referência para o dimensionamento do navio and Logistics Organization" − Dinamarca
foi utilizado um espetro de agitação marítima com uma altura
20 DEZEMBRO 2014