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REVISTA DA ARMADA | 491

ACADEMIA DE MARINHA

A PARTICIPAÇÃO DA MARINHA
na Grande Guerra (1914-1918)

No ano em que se evoca o centenário do início da Grande            França, missão esta que foi exposta com mais pormenores. No
     Guerra (1914-1918), entendeu a Academia de Marinha ser        âmbito da escolta aos navios para as Ilhas Atlânticas descre-
oportuno divulgar a participação da Marinha Portuguesa neste       veu o mais notável combate naval em que participou a Mari-
primeiro conflito mundial.                                         nha Portuguesa durante a Grande Guerra, a partir de extratos
                                                                   do relatório do guarda-marinha Manuel Armando Ferraz, ime-
   Assim, iniciou-se em 14 de outubro passado um ciclo de três     diato do patrulha Augusto Castilho, navio que, sob o comando
sessões sobre este tema. Na primeira sessão, “A Participação da    do 1º Tenente Carvalho Araújo, enfrentou heroicamente, em
Marinha em África”, o CALM Leiria Pinto começou por se referir     14 de outubro de 1918, o poderoso submarino alemão U-139,
à estrutura da Marinha e à situação dos seus navios em 1914, a     permitindo que o paquete S. Miguel, pleno de passageiros e
que se seguiu um relato das ameaças sobre Angola e Moçambi-        carga, chegasse a salvo a Ponta Delgada.
que e a intervenção da Marinha nos respetivos teatros de opera-
ções. No que respeita a Angola, foi destacada a brilhante ação do    O CALM David e Silva concluiu a apresentação do seu estu-
Batalhão de Marinha nos combates de Tchipelongo, de Môngua         do fazendo uma referência, muito sumária, à dimensão po-
e na ocupação de N´Giva, os quais contribuíram, decisivamente,     lítica que envolveu a Marinha na Guerra e que a marcou de
para o retorno da soberania portuguesa na fronteira Sul de Ango-   forma acentuada.
la. Enquanto em Angola a forte liderança dos diversos comandos
constituiu a base dos sucessos alcançados, o orador afirmou que      A última sessão, efetuada em 28 de outubro, teve como tema
em Moçambique a situação foi diferente. Citou, com detalhe, o      “A Marinha de Comércio na Grande Guerra”. O trabalho da auto-
episódio da Foz do Rovuma quando, em maio de 1916, a tenta-        ria do Capitão da Marinha Mercante Joaquim Ferreira da Silva,
tiva de atravessar o rio se saldou em significativas perdas huma-  que por motivo de saúde não pôde estar presente, foi lido pelo
nas entre as guarnições do cruzador Adamastor e da canhoneira      CALM Leiria Pinto.
Chaimite. Igualmente foram mencionadas a ação do pessoal do
cruzador em operações em terra na área de Quelimane e a do           Após uma breve introdução, onde se afirma que a Marinha de
cruzador S. Gabriel na defesa das docas da Cidade do Cabo. Apre-   Comércio Portuguesa cumpriu com inexcedível dedicação as mis-
sentou depois as razões da discreta participação do Batalhão de    sões que lhe foram atribuídas, essencialmente transporte de pes-
Marinha Expedicionário a Moçambique que foi, em finais da co-      soal e material, sofrendo grandes sacrifícios, é apresentada uma
missão, dizimado pela febre pneumónica.                            lista dos 72 navios inimigos apresados em portos portugueses,
                                                                   indicando a respetiva tonelagem, novo nome em português, por-
   O CALM Leiria Pinto terminou as suas palavras apontando as      to de apresamento e os afundados em ataques. Segue-se para
principais causas que deram origem à diversidade dos resultados    cada uma das expedições militares: Angola; Moçambique; Aço-
obtidos pela Marinha nos dois territórios de África.               res e França, a relação dos navios mercantes participantes, assim
                                                                   como o quantitativo de militares transportados. Consta ainda do
   No dia 21 de outubro, na segunda sessão do ciclo, o CALM        trabalho a relação das 117 unidades da Marinha do Comércio
David e Silva reportou-se ao tema “A Marinha e a Guerra Euro-      perdidas em ataques do inimigo, sendo assinalados a correspon-
peia. Defesa Marítima e Operações no Atlântico (1916-1918)”.       dente tonelagem, o local e a data da perda. Termina o Coman-
Após ter dado a conhecer a situação política da época e a sua      dante Ferreira da Silva o seu estudo informando que foram 120
evolução, indicou que, de início, a missão prioritária da Ma-      vidas humanas perdidas e cita quatro episódios notáveis identifi-
rinha foi de natureza defensiva, com destaque para a defesa        cando os heróicos marinheiros que neles se distinguiram.
do porto de Lisboa a qual, nas suas várias vertentes, foi rela-
tada. Igualmente referidas não só as medidas então tomadas           O ciclo das sessões terminou com a leitura das Conclusões,
para a defesa dos portos de Douro e Leixões, Ponta Delgada,        tendo o seu coordenador, CALM Leiria Pinto, declarado que a
Funchal e S. Vicente de Cabo Verde, como também os vários          Marinha Portuguesa, enfrentando grandes limitações em
confrontos com submarinos alemães assinalados nas áreas            pessoal e material, teve uma participação notável durante a
destes portos. A criação da Aviação Naval em 1917 e a ação         Grande Guerra.
do submersível Espadarte, cuja comprovada eficácia levaria à
encomenda de mais três unidades do mesmo tipo, mereceram             Em cada uma das sessões, a apresentação dos temas, as consi-
alusão. No que respeita às operações no mar, o orador após         derações por parte do Presidente da Academia, ALM Vieira Ma-
se ter referido à situação dos navios da Marinha de Guerra,        tias, referentes aos assuntos tratados e o debate que se seguiu,
indicou as missões a eles atribuídas. Foram citadas as de pro-     contribuíram para um melhor conhecimento do modo como a
teção dos navios mercantes na saída e entrada de portos e          Marinha participou na Grande Guerra.
no seu trânsito por águas mais ameaçadas pelos submarinos
alemães e, a partir de 1917, dos transportes de tropas para                                                  Colaboração da ACADEMIA DE MARINHA

                                                                   DEZEMBRO 2014 17
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