Page 30 - Revista da Armada
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VIGIA DA HISTÓRIA
RELAÇÕES NAVAIS COM OS EUA
Já anteriormente aqui se referiram as gantins Princesa do Mar e Sem Nome,
relações entre Portugal e os EUA, nomea- deu comboio a 49 navios estrangeiros
damente no que diz respeito à navegação, que se encontravam em Lisboa, alguns
tema esse a que hoje se volta. aqui tendo procurado refúgio, entre eles
certamente alguns americanos, e que iam
Pelos finais do século XVIII um dos gran- seguir viagem para o Norte da Europa.
des flagelos, talvez mesmo o maior, com
que a marinha mercante dos EUA se depa- Também pouco tempo depois, mais
rava era a dos frequentes ataques efectu- concretamente em 28 de Março de 1794,
ados pelos corsários argelinos quando os a esquadra portuguesa, constituída pela
navios americanos navegavam para e da fragata Ulisses e os bergantins Falcão e
Europa. Serpente do Mar, e que era comandada
por James Scarnichia, comandante da fra-
O tema, dada a sua gravidade, foi ob- gata Ulisses, escoltou vários navios mer-
jecto de discussão no Congresso dos Es- cantes, de Hamburgo e americanos livran-
tados Unidos tendo, em 20 de Janeiro de do-os assim dos ataques dos corsários
1794, sido apresentado, pelo congressista argelinos, frequentes nas nossas costas.
Fritzsimmons, uma comunicação sobre o
assunto. Da comunicação em causa fez-se O curioso nisto tudo é que então, como
eco a Gazeta de Lisboa que, reportando hoje aliás também sucede, nem sempre
uma notícia de Nova Iorque, datada de 24 o verdadeiro significado das palavras se
de Janeiro de 1794, referia que no Con- mantém, variando frequentemente con-
gresso dos Estados Unidos havia sido feita forme as necessidades ou as conveniên-
uma menção muito particular a Portugal, cias da altura, e foi assim que a palavra
com os maiores elogios, pelo generoso eterno passou a significar qualquer coisa
comportamento que havia sido faculta- à volta de uma dúzia de anos, pois, ainda
do aos navios americanos que tinham não haviam passado tantos anos e já os
sido comboiados pelas naus portuguesas navios portugueses estavam a ser ataca-
e protegidos dos ataques dos corsários, dos por navios americanos.
de que se viam ameaçados, generosida-
de que se avaliou como sendo superior Enfim, reste-nos a esperança que a
a tudo o que a República poderia esperar eterna lembrança do sucedido se mante-
de uma potência com que ainda não se nha, pelo menos, do lado de cá.
tinha firmado Tratado algum, declarando-
-se que “este benefício deveria ser eterno Com. E. Gomes
na lembrança de todos os americanos“.
N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico.
Também o presidente dos EUA se mos-
trava altamente impressionado com a Fontes
atitude da Coroa portuguesa que era, Fonte: Gazeta de Lisboa 1794
então, considerada como o mais valioso Três Séculos no Mar vol. 10
aliado que os EUA poderiam encontrar na A Diplomatic History por Richard Parker
repressão aos assaltos dos argelinos aos
seus navios e em cujos portos poderiam
os navios americanos ter ampla protec-
ção.
A acção em causa parece ter sido a
ocorrida em Novembro de 1793 quando
a esquadra portuguesa, comandada pelo
Chefe de Esquadra António Januário do
Vale, e constituída pelas naus Vasco da
Gama, Dª Maria e Princesa das Beiras,
pelas fragatas Fénix e S. Rafael e os ber-
30 SETEMBRO/OUTUBRO 2015