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Stratεgia

TECNOLOGIAS DO FUTURO

Como disse o Prof. Adriano Moreira, “as previsões com certeza           remos a duas grandes tendências.
    são impossíveis, as previsões com probabilidade são uma audá-         A primeira aponta para o aumento da oferta e da utilização de
cia e as previsões com possibilidade devem ser feitas com convicção
modesta de que pode acontecer outra coisa”. É, por isso, com a mo-      sistemas marítimos de superfície, conhecidos comummente por
déstia de quem sabe “que pode acontecer outra coisa”, que aqui          Unmanned Surface Systems (USS) ou Autonomous Surface Systems
deixarei algumas pistas sobre tecnologias que poderão ter impacto       (ASS), que são, na prática, navios ou embarcações não tripulados,
significativo no futuro.                                                dotados de sensores e armas para o cumprimento de missões nos
                                                                        espaços marítimos. Efetivamente, esses sistemas têm tido bastante
   Contudo, antes de mais, importa acentuar que a tecnologia só         menor procura do que os homólogos aéreos, terrestres e submari-
por si não se traduz em superioridade militar. A tecnologia contri-     nos, mas assistiremos à sua crescente utilização operacional, nome-
bui para a existência de melhores capacidades militares, devendo        adamente em missões de desminagem, force protection, proteção
estas ser sempre edificadas segundo múltiplas vertentes: doutrina,      portuária, reconhecimento, guerra eletrónica e, até, eventualmen-
organização, treino, material, liderança, pessoal, infra-estruturas e   te, luta anti-submarina.
interoperabilidade – um conceito conhecido por DOTMLPFI1 . Neste
quadro, gostaria de acentuar a importância do desenvolvimento dos         A segunda tendência será a de evolução para sistemas totalmen-
necessários procedimentos táticos para utilização de novas tecnolo-     te autónomos, ou seja robôs (aéreos, terrestres, submarinos e de
gias em teatro de operações.                                            superfície). Nos sistemas que têm sido utilizados operacionalmente
                                                                        (mesmo os que recebem a designação de autónomos, sem, na re-
   Feita esta ressalva, segue-se então uma abordagem sucinta a al-      alidade, o serem totalmente), há sempre um operador humano no
gumas tecnologias do futuro. Por limitações de espaço, serão abor-      circuito, que monitoriza e/ou controla a plataforma, intervindo sem-
dadas apenas quatro inovações concretas. Naturalmente, muitas           pre que necessário e adequado. Por exemplo, a decisão de proceder
outras tecnologias poderiam ser mencionadas, mas privilegiaram-         a um disparo ou ao lançamento de um engenho explosivo compete
-se aquelas com aparente maior aplicabilidade no quadro maríti-         sempre ao elemento humano. Contudo, a evolução exponencial da
mo/naval. Por ter uma natureza um pouco diferente, não foi incluída     capacidade computacional dos processadores e o aperfeiçoamento
a ciber-tecnologia, a qual justificará um tratamento individual nestas  da Inteligência Artificial irão permitir dotar estes sistemas de capaci-
páginas, num futuro próximo.                                            dade de decisão. Isso possibilitará que eles avaliem diferentes linhas
                                                                        de ação e decidam qual a mais adequada para o cumprimento da
SISTEMAS NÃO TRIPULADOS                                                 missão. O grande travão a esta evolução vai residir nas implicações
                                                                        éticas e legais inerentes à exploração operacional deste tipo de ro-
   Nos últimos anos, tem-se assistido a uma grande disseminação         bôs, dado que a tecnologia está a evoluir mais depressa do que o
de sistemas não tripulados, sobretudo aéreos (os célebres drones),      necessário enquadramento ético-legal, nomeadamente no que ao
mas também terrestres e submarinos. Essas plataformas têm evo-          direito da guerra diz respeito. Até porque sistemas deste género
luído de remotamente controladas (precedidas, na designação em          acarretarão riscos, que importa prever, mitigar e gerir.
inglês, pelo adjetivo unmanned) para semiautónomas (precedidas,
na designação em inglês, pelo adjetivo autonomous). Não obstante        NAVIOS FUTURISTAS
a sua já grande difusão, o emprego militar deste tipo de sistemas
vai acentuar-se ainda mais, contribuindo para revolucionar a forma        Um olhar prospetivo sobre possíveis cenários de empenhamento
como as guerras e os conflitos são travados. Neste quadro, assisti-     permite identificar três características que (sem prejuízo de outras)

M80 Stiletto                                                            Ghost

6 SETEMBRO/OUTUBRO 2015
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