Page 7 - Revista da Armada
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serão fundamentais nos navios do futuro:                                a Marinha Americana a conduzir vários testes a bordo das suas uni-
  • Velocidade, essencial para a condução de operações navais, no-      dades navais, os quais têm tido um sucesso bastante razoável, no-
                                                                        meadamente perante drones e embarcações de pequena dimensão.
meadamente perante ameaças assimétricas,
  • Estabilidade, de modo a potenciar a utilização dos sistemas de        Contudo, existe ainda um longo caminho a percorrer até se conse-
                                                                        guir gerar a bordo dos navios o elevado nível de energia necessário
armas e, sobretudo, de sistemas não tripulados, e                       para contrariar mísseis anti-navio (cerca de 500 kW). Daí algumas
  • Furtividade, visando dificultar a deteção pelos adversários.        dúvidas que ainda persistem quanto a uma futura utilização opera-
  A potenciação destas três características irá contribuir para a con-  cional alargada destas armas.

ceção de navios com formas futuristas, que tenderão a parecer-se        MÍSSEIS HIPERSÓNICOS
cada vez menos com os navios atuais. Um sinal desta realidade foi
o desenvolvimento da segunda variante de Littoral Combat Ships da         Considera-se que a velocidade hipersónica começa em Mach 5
Marinha Americana (classe Independence) com um casco em forma           (cinco vezes a velocidade do som), que corresponde ao momen-
de trimarã. O desenho revolucionário do casco permite aumentar          to em que o aquecimento aerodinâmico provocado pelo atrito na
a estabilidade e reduzir a resistência hidrodinâmica, possibilitando    atmosfera começa a provocar problemas ao veículo em movimen-
velocidades de 44 nós (ou mais, por períodos curtos). Para além dis-    to. O voo a velocidades hipersónicas dificultará imenso qualquer
so, o facto do navio não possuir superfícies curvas, confere-lhe uma    reação inimiga, não só em termos de deteção e seguimento, mas
reduzida assinatura radar.                                              sobretudo em termos defesa, já que as atuais armas de defesa pró-
                                                                        pria não estão preparadas para este novo tipo de ameaças.
  Além do Independence, outros protótipos procuram responder
aos desafios do futuro, com designs crescentemente arrojados e ra-        Presentemente, com exceção dos mísseis balísticos que voam
dicais, como se pode comprovar pelas imagens que acompanham             no espaço exterior, i.e. acima da atmosfera, os mísseis mais rápi-
este artigo e que mostram o M80 Stiletto e o Ghost. O M80 Stiletto      dos possuem velocidades na ordem de Mach 4. Por exemplo, no
possui o casco em forma de M (também conhecido como pentama-            caso dos mísseis que equipam as fragatas portuguesas, o Harpoon
rã) e é construído em fibra de carbono para reduzir a sua assinatura    (míssil anti-navio) é apenas subsónico, ao passo que o Sea Sparrow
radar. O Ghost tem um design ainda mais radical e, acima de 8 nós, o    (míssil superfície-ar) tem uma velocidade de cerca de Mach 3.52.
casco de alumínio eleva-se, ficando o navio assente apenas em duas
estruturas laterais (tipo patilhão).                                      Tanto quanto se sabe, a China e a Rússia têm vindo a liderar os
                                                                        desenvolvimentos tecnológicos nesta matéria. Segundo a Jane’s
  Estes designs ilustram a tendência para que os navios possuam         Intelligence, ambos os países já fizeram testes com mísseis hipersó-
cascos cada vez mais criativos, que modificarão certamente a paisa-     nicos, nomeadamente o WU-14, chinês, e o YU-71, russo – ambos
gem dos oceanos.                                                        capazes de atingir Mach 10. Ou seja, não deve faltar muito para
                                                                        a produção e exploração operacional desta tecnologia. E a seguir
ARMAS DE ENERGIA DIRIGIDA                                               virão os aviões hipersónicos – mas isso, talvez, só daqui a uns 30
                                                                        anos…
  Estas armas canalizam feixes de energia numa determinada dire-
ção. Além das armas acústicas – como os Long Range Acoustic De-         CONSIDERAÇÕES FINAIS
vices (LRAD), que já estão em exploração operacional, inclusive pela
Marinha Portuguesa, no combate à pirataria – existem outras armas         A História demonstrou, por diversas vezes, como a evolução tec-
de energia dirigida em desenvolvimento, designadamente de micro-        nológica pode influenciar o equilíbrio de poder e alterar o curso dos
-ondas, de impulso eletromagnético e de laser.                          conflitos armados. Para um país como Portugal, é essencial que se
                                                                        dê particular atenção aos desenvolvimentos noutros países, tendo
  As duas primeiras destinam-se sobretudo à guerra eletrónica, vi-      em vista avaliar o risco de perda de superioridade operacional e es-
sando incapacitar sistemas eletrónicos numa dada área.                  tratégica. Esta é uma questão complexa que só poderá ser analisada
                                                                        cabalmente no quadro das organizações internacionais a que per-
  Já as armas de laser têm um potencial enorme no âmbito da pro-        tencemos, designadamente a NATO e a UE.
teção de navios. Com efeito, estas armas permitem atingir alvos em
movimento com feixes laser de elevada energia, que se propagam à          Ao nível nacional importará estabelecer as prioridades de adoção
velocidade da luz e com uma precisão muito superior à dos projéteis     antecipada de novas tecnologias, tendo em consideração a nossa
tradicionais – além de não implicarem o consumo de munições. As         envolvente geoestratégica. Aqui já ousaria uma “previsão com pro-
potencialidades deste sistema perante ameaças anti-navio levaram        babilidade”, perspetivando a nossa futura dependência de sistemas
                                                                        não tripulados para fazer face à necessidade de vigilância e patru-
                                                                        lhamento da vasta área marítima sob responsabilidade ou jurisdição
                                                                        nacional.

                                                                        Sardinha Monteiro
                                                                                           CFR

                                                                        Notas
                                                                         1Sigla que reúne as iniciais da designação, em língua inglesa, dos elementos fun-

                                                                        cionais de uma capacidade: Doctrine, Organization, Training, Materiel, Leadership,
                                                                        Personnel, Facilities, Interoperability.
                                                                         2A nova versão (Evolved Sea Sparrow) já possui uma velocidade superior a Mach 4,
                                                                        fruto de um novo rocket motor e de algumas alterações aerodinâmicas.

Sistema de armas laser montado no USS Dewey

                                                                        SETEMBRO/OUTUBRO 2015                                                               7
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