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serão fundamentais nos navios do futuro: a Marinha Americana a conduzir vários testes a bordo das suas uni-
• Velocidade, essencial para a condução de operações navais, no- dades navais, os quais têm tido um sucesso bastante razoável, no-
meadamente perante drones e embarcações de pequena dimensão.
meadamente perante ameaças assimétricas,
• Estabilidade, de modo a potenciar a utilização dos sistemas de Contudo, existe ainda um longo caminho a percorrer até se conse-
guir gerar a bordo dos navios o elevado nível de energia necessário
armas e, sobretudo, de sistemas não tripulados, e para contrariar mísseis anti-navio (cerca de 500 kW). Daí algumas
• Furtividade, visando dificultar a deteção pelos adversários. dúvidas que ainda persistem quanto a uma futura utilização opera-
A potenciação destas três características irá contribuir para a con- cional alargada destas armas.
ceção de navios com formas futuristas, que tenderão a parecer-se MÍSSEIS HIPERSÓNICOS
cada vez menos com os navios atuais. Um sinal desta realidade foi
o desenvolvimento da segunda variante de Littoral Combat Ships da Considera-se que a velocidade hipersónica começa em Mach 5
Marinha Americana (classe Independence) com um casco em forma (cinco vezes a velocidade do som), que corresponde ao momen-
de trimarã. O desenho revolucionário do casco permite aumentar to em que o aquecimento aerodinâmico provocado pelo atrito na
a estabilidade e reduzir a resistência hidrodinâmica, possibilitando atmosfera começa a provocar problemas ao veículo em movimen-
velocidades de 44 nós (ou mais, por períodos curtos). Para além dis- to. O voo a velocidades hipersónicas dificultará imenso qualquer
so, o facto do navio não possuir superfícies curvas, confere-lhe uma reação inimiga, não só em termos de deteção e seguimento, mas
reduzida assinatura radar. sobretudo em termos defesa, já que as atuais armas de defesa pró-
pria não estão preparadas para este novo tipo de ameaças.
Além do Independence, outros protótipos procuram responder
aos desafios do futuro, com designs crescentemente arrojados e ra- Presentemente, com exceção dos mísseis balísticos que voam
dicais, como se pode comprovar pelas imagens que acompanham no espaço exterior, i.e. acima da atmosfera, os mísseis mais rápi-
este artigo e que mostram o M80 Stiletto e o Ghost. O M80 Stiletto dos possuem velocidades na ordem de Mach 4. Por exemplo, no
possui o casco em forma de M (também conhecido como pentama- caso dos mísseis que equipam as fragatas portuguesas, o Harpoon
rã) e é construído em fibra de carbono para reduzir a sua assinatura (míssil anti-navio) é apenas subsónico, ao passo que o Sea Sparrow
radar. O Ghost tem um design ainda mais radical e, acima de 8 nós, o (míssil superfície-ar) tem uma velocidade de cerca de Mach 3.52.
casco de alumínio eleva-se, ficando o navio assente apenas em duas
estruturas laterais (tipo patilhão). Tanto quanto se sabe, a China e a Rússia têm vindo a liderar os
desenvolvimentos tecnológicos nesta matéria. Segundo a Jane’s
Estes designs ilustram a tendência para que os navios possuam Intelligence, ambos os países já fizeram testes com mísseis hipersó-
cascos cada vez mais criativos, que modificarão certamente a paisa- nicos, nomeadamente o WU-14, chinês, e o YU-71, russo – ambos
gem dos oceanos. capazes de atingir Mach 10. Ou seja, não deve faltar muito para
a produção e exploração operacional desta tecnologia. E a seguir
ARMAS DE ENERGIA DIRIGIDA virão os aviões hipersónicos – mas isso, talvez, só daqui a uns 30
anos…
Estas armas canalizam feixes de energia numa determinada dire-
ção. Além das armas acústicas – como os Long Range Acoustic De- CONSIDERAÇÕES FINAIS
vices (LRAD), que já estão em exploração operacional, inclusive pela
Marinha Portuguesa, no combate à pirataria – existem outras armas A História demonstrou, por diversas vezes, como a evolução tec-
de energia dirigida em desenvolvimento, designadamente de micro- nológica pode influenciar o equilíbrio de poder e alterar o curso dos
-ondas, de impulso eletromagnético e de laser. conflitos armados. Para um país como Portugal, é essencial que se
dê particular atenção aos desenvolvimentos noutros países, tendo
As duas primeiras destinam-se sobretudo à guerra eletrónica, vi- em vista avaliar o risco de perda de superioridade operacional e es-
sando incapacitar sistemas eletrónicos numa dada área. tratégica. Esta é uma questão complexa que só poderá ser analisada
cabalmente no quadro das organizações internacionais a que per-
Já as armas de laser têm um potencial enorme no âmbito da pro- tencemos, designadamente a NATO e a UE.
teção de navios. Com efeito, estas armas permitem atingir alvos em
movimento com feixes laser de elevada energia, que se propagam à Ao nível nacional importará estabelecer as prioridades de adoção
velocidade da luz e com uma precisão muito superior à dos projéteis antecipada de novas tecnologias, tendo em consideração a nossa
tradicionais – além de não implicarem o consumo de munições. As envolvente geoestratégica. Aqui já ousaria uma “previsão com pro-
potencialidades deste sistema perante ameaças anti-navio levaram babilidade”, perspetivando a nossa futura dependência de sistemas
não tripulados para fazer face à necessidade de vigilância e patru-
lhamento da vasta área marítima sob responsabilidade ou jurisdição
nacional.
Sardinha Monteiro
CFR
Notas
1Sigla que reúne as iniciais da designação, em língua inglesa, dos elementos fun-
cionais de uma capacidade: Doctrine, Organization, Training, Materiel, Leadership,
Personnel, Facilities, Interoperability.
2A nova versão (Evolved Sea Sparrow) já possui uma velocidade superior a Mach 4,
fruto de um novo rocket motor e de algumas alterações aerodinâmicas.
Sistema de armas laser montado no USS Dewey
SETEMBRO/OUTUBRO 2015 7